Crack vira 'epidemia' e ataca na classe média

Droga, que surgiu no início dos anos 1990, já é usada por 600 mil pessoas no país e preocupa por viciar rapidamente, como ocorreu com o advogado do goleiro Bruno, ex-Flamengo

A ideia de que só morador de rua e bandido fumam crack é coisa do passado. Pesquisas recentes mostram o aumento do consumo da droga entre as classes média e alta. De 2008 para 2009, cresceu 140% a procura por tratamento de pessoas com mais de 20 salários mínimos em São Paulo, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

O crack é um problema de saúde e de segurança pública, pois é usado por mais de 600 mil brasileiros, diz o Ministério da Saúde. Para o IBGE, o número já chega ao dobro. Um caso que ficou conhecido nesta semana é o do polêmico advogado Ércio Quaresma, que defende o goleiro Bruno, ex-Flamengo, acusado de matar a ex-amante Eliza Samudio em Minas Gerais, diz que enfrenta o problema: "Sou dependente de crack há sete anos. Estou me tratando e tive algumas recaídas, mas nunca entrei num plenário doidão", afirmou.

"O crack deixou de ser usado só por pessoas de baixa renda. Pela facilidade da compra, por ser barato e oferecer prazer imediato, difundiu-se entre todas as classes", diz o psiquiatra Pedro Katz, que atende no Serviço de Atendimento Integral ao Dependente, uma parceria da Prefeitura com o Hospital Samaritano.

Mergulhados no mundo da "pedra", médicos, empresários e profissionais liberais estão entre as maiores vítimas que procuram ajuda. Segundo Katz, pessoas de alto poder aquisitivo são mais seletivas no tipo de droga que usam e na frequência. "O uso é mais camuflado, para não prejudicar a família ou o trabalho", diz o especialista.

Por viciar rapidamente, o crack provoca prejuízo financeiro e até quem tinha posses procura atendimento do SUS, diz a psiquiatra Alessandra Alessandra Diehl, da Clínica Pública de Dependentes Químicos, em São Bernardo.

todas as classes/ "Nos anos 1990, quando (a droga) surgiu nos grandes centros, os usuários eram de baixa renda. Hoje é uma epidemia, sem barreiras sociais", diz Alessandra. Ela atende um advogado e um médico, ambos de classe alta, que perderam tudo com o crack. Na clínica também foi tratado um estudante de 21 anos, filho de empresários, que começou a furtar carros em troca da droga.

Especialistas apontam que os dependentes reúnem-se em grupos na rua, as famosas "cracolândias", em busca de coragem e para compartilhar sensações. A importância do tema apareceu já no primeiro discurso de Dilma Rousseff após ser eleita presidente, prometendo "não descansar enquanto reinar o crack e as cracolândias".

Curiosidade e "busca por sensações diferentes" são principais fatores que levam os ricos à pedra, diz o médico Artur Guerra. O consumo do crack entre a elite, apontam pesquisas, está associada a outras doenças, como a ansiedade, o stress e a depressão. "A droga afeta o raciocínio e provoca alterações físicas e no comporamento", ressalta Katz.

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