Na Vila Cruzeiro, veículos cedidos pela Marinha e força de mais de 500 policiais expulsam bandidos

Rio - Acenando com lençóis e panos brancos na janela, moradores da Vila Cruzeiro, Complexo da Penha, receberam uma das maiores ofensivas militares já planejadas pela Secretaria de Segurança Pública do Rio, para conter o terror espalhado por traficantes daquela comunidade e retomar o território que passou a ser reduto da maior quadrilha carioca, num lugar até então considerado intocável.
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Blindado da Marinha foi usado para levar policiais da Core: 11 ocupantes | Foto: Fábio Gonçalves / Agência O Dia

Com apoio de tanques de guerra da Marinha e blindados conhecidos como ‘Lagartos Anfíbios’ — capazes de transitar por qualquer tipo de terreno e até debaixo d’água —, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) puderam invadir e avançar pela Vila Cruzeiro sem muita dificuldade. Encurralados pela Polícia Civil, que cercou outros acessos no meio da tarde, centenas de criminosos fortemente armados fugiram por uma estrada no alto da Serra da Misericórdia, em direção ao Complexo do Alemão.

>>> INFOGRÁFICO: Superblindados contra o tráfico

>> FOTOGALERIA: Veículos atacados pelas ruas do Rio

Segundo a Secretaria de Segurança, a Vila Cruzeiro passou ontem a ser dominada novamente pelo Estado. A Região Metropolitana, contudo, registrou o maior número de ataques em um único dia: 32 veículos incendiados. As ordens para a onda de terror foram flagradas em conversas telefônicas entre três advogados do Comando Vermelho, que falavam sobre a determinação do chefão do tráfico Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, de não recuar, enfrentar a polícia na favela e intensificar os ataques pelas ruas. As autoridades foram informadas sobre a interceptação telefônica e decidiram que a ocupação da Vila Cruzeiro é por tempo indeterminado — primeiro passo para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), ainda sem data definida.

“Não é uma operação de entrada e saída. Estamos instalados para dominar o território, prender esses marginais e devolver a paz à população”, afirmou o chefe do Estado Maior da PM, coronel Álvaro Garcia.

Houve troca de tiros em diversos momentos, mas de forma menos intensa que na quarta-feira, quando 20 inocentes foram baleados e quatro deles morreram, após 12 horas de confronto. Até o início da noite, sete moradores foram feridos por balas perdidas. Explosões de bombas e rajadas de metralhadoras foram mais fortes às 15h, quando 138 traficantes fugiram por uma estrada de terra no alto do morro.

Alguns, baleados, foram arrastados pelos comparsas e tentaram se refugiar na mata. Imagens registradas pela TV Globo mostram quando picape com pelo menos 20 criminosos passa em alta velocidade. Bandidos em motos surgem para buscar o resto do grupo, que se fixou no Alemão.


“Já podemos afirmar que a comunidade pertence ao estado. Apoiados pela Marinha, as forças estaduais conseguiram expulsar os bandidos e retomar o território. Vamos nos fazer presente em qualquer lugar que for preciso”, afirmou o subchefe operacional da Polícia Civil, delegado Rodrigo Oliveira. Por causa da guerra no Rio, escolas públicas e privadas não funcionaram. Shoppings Nova América e Norte Shopping, na Zona Norte, fecharam suas portas antes das 19h. Empresas liberaram funcionários mais cedo.


Veículos encaram fogo, mas traficantes fogem

Mais de 500 homens participaram da operação na Penha. No fim da manhã, 200 policiais do Bope conseguiram transpor barricadas de ferro e até um carro em chamas a bordo dos blindados da Marinha, o M 113, mesmo tipo usado pelos americanos na Guerra do Iraque, e o LAN (Lagarto Anfíbio), capaz de carregar até 30 pessoas. Os veículos são resistentes a tiros de metralhadora ponto 30 — munição com capacidade para derrubar helicópteros.
Sem grandes confrontos com a polícia — não havia apoio de helicóptero blindado —, os traficantes conseguiram fugir da Vila Cruzeiro por estrada de terra na localidade de Vacaria, próximo a pedreira onde três funcionários do PAC foram mortos este ano. O caminho liga a comunidade ao Complexo do Alemão, pela mata.


Mesmo assim, há informações não confirmadas de 20 corpos de bandidos na mata. Policiais fizeram buscas na comunidade, mas nada encontraram.odiaonline.com.br

Postar um comentário

0 Comentários