Começou às 8h desta quarta-feira, 17, na 2ª Vara Crime do Fórum Ruy Barbosa, mais uma audiência do caso do policial militar Daniel dos Santos Soares, acusado de matar a tiros o juiz da comarca de Camamu, Carlos Alessandro Pitágoras Ribeiro, em uma briga de trânsito no dia 10 de julho, próximo ao Shopping Iguatemi, em Salvador. Durante a audiência, uma testemunhas de acusação e seis de defesa serão ouvidas pelo juiz Ernani Garcia Rosa, da 2ª Vara Crime do Juri.
Segundo informou o advogado da família do juiz, Carlos Gramacho, a primeira testemunha de acusação a ser ouvida, Graziela Alves, manteve a informação de que o crime poderia ter sido evitado. "Ela testemunhou o crime e confirmou que Carlos Alessandro saiu do carro desarmado, quando o policial encostou seu veículo e em seguida atirou contra a vítima", conta.
O advogado de defesa, Raul Palmeira, contestou a informação. Segundo ele, Graziela não teria testemunhado o crime; "Ela ouviu a versão de clientes que chegaram na loja em que ela trabalha, mas ela não presenciou nada". Ainda de acordo com ele, o depoimento dela é muito positivo para a defesa. "Ao final da audiência, a sociedade vai ver que uma pessoa, vivenciando o que o soldado vivenciou, agiria em legítima defesa como ele agiu".
A pedido de Palmeira, o acusado não participa dos interrogatórios e encontra-se detido em uma sala reservada no Fórum Ruy Barbosa. Porém, de acordo com o promotor que denunciou o acusado por duplo homicídio qualificado motivado por causa fútil, Davi Gallo Barouh, se for necessário, o PM será chamado para o juri. "Caso haja a necessidade de uma acareação entre ele e as testemunhas, o juiz irá convocá-lo", afirma.
Já para o advogado da família, Carlos Gramacho, o PM será chamado para a audiência. "Mesmo ele sendo liberado, o juiz precisará interrogá-lo após ouvir as testemunhas", destaca. A audiência, que não tem prazo para acabar, poderá ser a última antes da decisão do juiz sobre a ida do acusado a juri popular.
Áudio exclusivo - Por intermédio do advogado Carlos Gramacho, a reportagem do A Tarde On Line teve acesso exclusivo a um áudio gravado pela viúva do juiz morto, de um telefonema entre ela e Graziela Alves. No material, Graziela conta que, quando chegou ao local do crime, o policial e o juiz, que não estaria armado, já estavam brigando e ela não teria presenciado o começo da situação.
Na ligação gravada, a moça demonstrou medo e disse que não testemunharia, até porque outras pessoas que teriam visto a cena juntamente com ela também ficaram assustadas. O telefonema, segundo Gramacho, foi gravado, transcrito e consta dos autos do processo como prova. Segundo informações do advogado, Graziela ligou anonimamente para a viúva, que conseguiu identificar o número do telefone e retornou a ligação. O áudio, gravado sem Graziela saber, foi periciado, segundo o promotor Davi Gallo Barouh, atestando que a voz é realmente da testemunha.
Durante a audiência, nesta manhã, Graziela confirmou a veracidade do conteúdo da gravação. "Este é um crime de alta repercussão e, por isso, ninguém quer falar. Ela estava muito nervosa e quase não testemunhou porque ficou com medo, o que é natural. Por isso ela teria dito que só teria ouvido comentários sobre o caso", disse o promotor Barouh. Apesar de não ter autorizado a gravação e de ter confirmado as informações registradas em áudio, a situação não se configuraria falso testemunho, conforme Gramacho.
O caso - No dia 10 de julho, o juiz Carlos Alessandro Pitágoras Ribeiro foi assassinado a tiros pelo policial militar Daniel Santos Soares, que estava em serviço, após se envolver em uma briga com o PM nas proximidades do Shopping Iguatemi, na capital baiana. De acordo com o policial, ele teve o carro fechado pelo veículo do juiz, que já teria descido do automóvel com uma pistola 9 mm em punho.
O soldado alegou que atirou na clavícula do magistrado, na intenção de detê-lo, mas a vítima teria seguido adiante, sendo baleada no abdômen. O PM solicitou socorro, mas quando a ambulância chegou o juiz já estava morto.
Daniel dos Santos Soares está detido no 12º Batalhão da Polícia Militar em Camaçari desde o dia 6 de outubro, quando se entregou após sua prisão preventiva ter sido decretada pelo juiz Ernane Garcia Rosa, a pedido do Ministério Público.
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