RIO - Cento e cinquenta policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e 30 fuzileiros navais com rostos pintados entraram na Vila Cruzeiro, na Penha, no início da tarde desta quinta-feira. Seis carros blindados do tipo M113 do Corpo de Fuzileiros navais estão sendo usados para transporte de pessoal. O veículo foi usado na guerra do Iraque. (Conheça o veículo) Cerca de cem policiais civis também subiram a favela em veículos blindados. Há agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de delegacias especializadas.
Até as 14h30m, um policial militar, ainda não identificado, chegou ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, baleado no braço esquerdo. Além dele, deram entrada na unidade Osmar Sabino Julião, de 21 anos, - levado para o hospital por policiais quando descia de moto a Vila Cruzeiro, já baleado no glúteo -, e o servente José Pereira, de 33 anos, ferido quando chegava ao Morro da Caixa D´Água, também na Penha.
(Veja mais fotos da operação na Vila Cruzeiro)Imagens da TV Globo mostraram que dezenas de bandidos estão fugindo da Vila Cruzeiro em direção ao Complexo do Alemão. Eles seguem de um morro para o outro num local conhecido como "Inferno verde", nas imediações da pedreira do Alemão onde três funcionários do PAC foram assassinados este ano. As imagens mostram ainda o momento em que alguns deles foram baleados. Em entrevista à emissora, o relações públicas da Polícia Militar, coronel Lima Castro, disse que a polícia já está enviando equipes para o Complexo do Alemão para tentar capturar esses criminosos:
- A operação não cessa aqui. Vamos buscá-los aonde eles estiverem.
Um dos blindados usado na Vila Cruzeiro foi atingido por pelo menos oito tiros, apresentou problema mecânico e teve que ser retirado da favela. Outros seis blindados da Marinha, que são de um outro modelo, chegaram aos acessos à Vila Cruzeiro por volta das 14h20m e estão prontos para entrar na comunidade. Muitas equipes da Polícia Civil também estão chegando à comunidade. O subsecretario operacional da Polícia Civil, delegado Rodrigo Oliveira, está coordenando as operações.
A operação tem apoio de fuzileiros navais porque são eles que estão conduzindo os veículos, onde seguem os homens do Bope. Esse tipo de carro nunca foi usado na cidade do Rio. Segundo a nota divulgada pela Marinha do Brasil, os efetivos são limitados às tripulações que conduzirão as viaturas. "Foram disponibilizados, inicialmente, para prestar apoio logístico de transporte ao Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PMERJ, os seguintes meios do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil: viaturas blindadas sobre lagartas M-113, viaturas blindadas sobre rodas Piranha e carros Lagarta Anfíbios (CLAnf)".
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Por volta das 13h45m, um comboio de três veículos, sendo duas picapes e um caminhão para transporte de tropas, saiu do 16º BPM (Olaria) para mais uma investida na localidade conhecida como Vacaria, um dos acessos à Vila Cruzeiro. Minutos depois, traficantes de bicicleta jogaram uma bomba numa rua de acesso ao Largo da Penha.
Setores de Inteligência da segurança pública do Rio têm informações que os chefes do tráfico da Vila Cruzeiro teriam fugido para o alto do morro, escondidos na mata. O grupo é chefiado por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Segundo os policiais, o traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, teria sido baleado na operação de quarta-feira do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ele teria recebido dois tiros e estaria ferido.
Na hora em que os policiais chegavam à comunidade, um caminhão de uma loja de eletrodomésticos roubado recentemente foi incendiado no morro pelos traficantes para dificultar o acesso dos policiais à comunidade. O veículo foi recuperado pelos policiais ainda no início da tarde.
Um homem que estava em um moto foi baleado. Ele está sendo levado por policiais do Bope, para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha.
De acordo com o comandante do Estado Maior da PM, coronel Álvaro Garcia, essa operação enérgica está sendo necessária porque os bandidos que estão oferecendo ataque à sociedade se escondem neste local. Ele disse que a polícia não tem data para sair da Vila Cruzeiro e vai ocupar e permanecer no morro por tempo indeterminado, para mais tarde implantar uma UPP no local.
O coronel descartou o uso das metralhadoras .50, que têm capacidade de abater helicópteros e aviões. Esse armamento faz parte dos blindados M113 cedidos pelos fuzileiros navais:
- Vamos para a guerra sim, mas neste nível não.
A Polícia Militar chegou a fechar a Avenida Brás de Pina do parque Ary Barroso até a entrada da Igreja da Penha, mas liberou depois da entrada dos policiais na comunidade. Um trecho da avenida está sem luz. Há suspeita de que o incêndio do caminhão tenha atingido a rede elétrica. Na chegada do comboio, houve uma correria de moradores e de motoristas. As pessoas ficaram apavoradas.
Moradores da Avenida Brás de Pina e da Penha se dizem satisfeitos com a presença de tanques de guerra e de homens do Bope no meio da rua. Um morador, que é policial militar e está de férias, também de prontidão, disse que a situação estava insuportável e que apóia as medidas enérgicas tomadas pelo governo. Uma moradora chorando diz que vai sair da rua onde mora porque é uma situação de guerra civil.
A Secretaria estadual de Saúde divulgou o balanço de atendimentos desta quarta-feira, no Getúlio Vargas, devido aos confrontos na região. Ao todo, 21 pessoas deram entrada na unidade, quatro morreram e três continuam internadas. Para esta quinta-feira, a Secretaria reforçou o número de médicos na emergência. Médicos do Corpo de Bombeiros também estão no hospital. O secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, está na unidade supervisionando as equipes.
Principal reduto do tráfico no Rio, a Vila Cruzeiro, junto com o Complexo do Alemão, se transformou no maior bunker de traficantes cariocas, recebendo bandidos de comunidades ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
O Exército entrou em alerta máximo e reforçou a segurança de todas as suas unidades militares no Estado do Rio. Até agora, os militares não foram acionados para ajudar o estado no policiamento, como já foi feito em outros anos, mas apenas para dar apoio logístico, como fará a Marinha.
Na quarta-feira, a PM ensaiou uma investida nos morros da Chatuba e da Fé, no Complexo da Penha, ocupando seus principais acessos. Só nessa ação, quatro pessoas morreram e 25 pessoas foram detidas. Uma menina de 14 anos, vítima de uma bala perdida morreu na Favela do Grotão, na Penha. As ações da polícia se estenderam pelos morros da Chatuba, do Sereno e da Caixa D'Água. Durante um dos confrontos, Álvaro Lopes, de 81 anos, foi baleado de raspão no braço, na porta de sua empresa, na Rua Cajá.
De acordo com o balanço da PM, foram apreendidas 29 pistolas e revólveres, dez fuzis, duas espingardas calibre 12, uma submetralhadora, cinco granadas e duas bombas artesanais nas operações de ontem. Na Chatuba, foi apreendida uma tonelada de maconha. Segundo o relações-públicas da PM, coronel Henrique Lima Castro, a corporação pôs 17.500 militares nas ruas e reforçou o policiamento nas UPPs, temendo que as unidades fossem alvos dos bandidos.
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