Violência sem fronteiras
Dennis Henigan, da ONG Centro Brady, defende maior controle de armas nos EUA
WASHINGTON E RIO - Dois meninos de 7 anos brincam numa ruazinha de subúrbio. Um deles observa o outro se agachar e esticar o braço, esforçando-se para pegar algo sob um carro. Momentos depois, o primeiro garoto está no chão, com um tiro na cabeça. Após seis horas de agonia, morre num hospital.
O que uma das crianças tentava alcançar sob o veículo não era uma bola ou um skate, mas um revólver calibre 44. A tragédia — que poderia acontecer em qualquer cidade do mundo — brotou do asfalto da Rua Sigel, na Filadélfia, Estados Unidos. Mas a arma que matou Nafis Jefferson foi forjada a 8.146 quilômetros dali, na fábrica da Rossi em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
A exportação do crime não é uma via de mão única. Walmir Costa de Souza, de 24 anos, empunhava uma metralhadora ponto 30, quando foi morto ao trocar tiros com policiais no Morro Santa Marta, Zona Sul do Rio. A arma foi fabricada pela Browning, no estado americano de Utah, a 10.013 quilômetros de distância de Botafogo.
A partir deste fim de semana, o EXTRA começa a revelar o lado negro do mercado silencioso das armas entre os dois países, que movimentou R$ 993,7 milhões nos últimos quatro anos. Durante três meses, foram ouvidos, no Brasil e nos EUA, 61 vítimas ou parentes de vítimas de crimes, investigadores, autoridades, donos de lojas e fabricantes de armamento, especialistas e membros de ONGs que lidam com o tema.
Para realizar a matéria, o repórter Marcelo Gomes passou três semanas, em setembro deste ano, na redação do "Washington Post", um dos mais importantes jornais americanos, como bolsista do Woodrow Wilson International Center for Scholars.
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