Diante de tragédias como a que acometeu a região serrana do Rio de Janeiro e que resultou em cerca de 540 mortes, cresce a preocupação com a população que vive nas encostas de Salvador, parte dela em ocupação irregular. Com a perspectiva de início do período de chuvas – que em Salvador ocorre entre março e junho –, os especialistas alertam para o perigo de intempéries como deslizamentos de terra, enchentes e inundações.
Segundo Jonas Dantas, presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) na Bahia, cerca de 65% da ocupação do território de Salvador foi realizada de maneira irregular. “São imóveis que não apresentam alvará, licença de construção e não tiveram acompanhamento para qualificar a edificação”, explica. Segundo ele, a falta de acompanhamento das áreas de risco e a inexistência de ações que impeçam a ocupação destas regiões colocam Salvador como uma cidade potencialmente susceptível ao impacto das chuvas.
O diretor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia e especialista em instabilidade de encostas, Luís Edmundo Prado, explica que o fato de as construções serem irregulares não quer dizer que elas sejam precárias. No entanto, ele reconhece que a maior parte das casas instaladas nas encostas de Salvador tem problemas. “Muitas delas foram feitas de forma desordenada, expandindo lateralmente e, depois, verticalmente, com a construção de lajes”, explica.
Diferenças - Apesar da existência de diversas áreas de risco em Salvador, o professor Luís Prado explica que existem diferenças entre a topografia da cidade e a da região serrana do Rio de Janeiro, onde ocorreu a tragédia com as chuvas. “É diferente. Na serra do Rio, as encostas são mais íngremes e as rochas estão logo abaixo da camada superficial de solo. No caso do solo, reduzindo a capacidade de absorção das chuvas”, explica.
Segundo o professor, a espessura do solo das encostas em Salvador não é tão superficial. Além disso, a quantidade de chuvas aqui é menor do que as que normalmente ocorrem na serra do Rio.
Contudo, Luís Prado alerta para a importância de um plano de contingenciamento para prevenir as consequências das chuvas na capital baiana. “É preciso preparar a cidade para os temporais, identificando as regiões de risco. Além disso, é fundamental um sistema para alertar e orientar as pessoas”, diz.
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