Ex-chefe de Polícia Civil nega ter cometido crime e liga para Beltrame durante depoimento
Rio - Ao chegar para depor, ontem à tarde, na Polícia Federal (PF), o ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski soube que estava indiciado no artigo 325 do Código Penal — violação de sigilo funcional. A pena pelo crime varia entre dois e seis anos de prisão. Foi o próprio delegado quem deu a informação sobre sua situação, após prestar depoimento, durante uma hora e meia, na sede da Superintendência da PF, no inquérito que desencadeou a Operação Guilhotina, que prendeu 40 pessoas.
O delegado Allan Turnowski na saída da sede da Polícia Federal, nesta quinta-feira | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Turnowski é acusado de ter vazado informações ao inspetor Christiano Gaspar Fernandes sobre ação da PF. Durante depoimento ao delegado Allan Dias Simões, o ex-chefe de Polícia disse que chegou a ligar para o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, questionando se havia sido informado da operação.
“Fui acusado de vazar operações, que, segundo o doutor Allan, eu teria sabido dela através do secretário de Segurança Pública. Eu liguei para ele (Beltrame) durante o depoimento e perguntei: ‘Secretário, o senhor falou comigo da operação?’. Ele disse: ‘Claro que não’. Estou sendo indiciando antes de ele ser ouvido. Não tem grampo de corrupção, não tem nada que pudesse bater na minha honra. Que isso não aconteça com outros inocentes”, afirmou Turnowski, que foi à sede PF sem advogado.
Em nota, a Secretaria de Segurança confirmou que Beltrame ligou para Turnowski, ao ser informado pela PF de que policiais civis estariam extorquindo um traficante na operação do Complexo do Alemão. E que o secretário cobrou providências do então chefe de Polícia, mas nunca mencionou a Operação Guilhotina.
Turnowski disse que a única gravação obtida pela PF é a que ele fala com Christiano a respeito de um preso, que Beltrame pediu para ele checar. “Liguei para ele (Christiano) e realmente existia o preso. Depois, têm diálogos em que falo que a nossa Corregedoria está de olho nele e na equipe dele, porque ele já tinha discutido com o corregedor. Falei para ele ficar atento, que não tivesse falha e procedesse dentro da lei”, disse o ex-chefe de Polícia.
Nervoso, delegado diz que foi massacrado como vilão
Bastante nervoso, Turnowski afirmou ainda que, quando foi ouvido ontem, já estava na condição de indiciado. Isso teria acontecido porque no termo de declaração que prestou na sexta-feira já existiam elementos suficientes para colocá-lo nessa condição. O fato só não teria vindo à tona porque Turnowski ainda ocupava o cargo de chefe da Polícia Civil.
“Tenho certeza que esse juízo de valor do delegado (federal Allan Dias), que eu respeito e é uma autoridade séria, não passa do primeiro crivo do Ministério Público e da Justiça”.
O ex-chefe de Polícia disse que, nos últimos dias, foi massacrado como o maior vilão da Polícia Civil. “Fui acusado por todo mundo, sem que tivesse uma prova nos autos. Fui acusado de receber dinheiro de pirataria mesmo tendo fechado o Camelódromo, numa ação inédita. Os autos foram para a Justiça e nada tem em meu nome”.
Delegado quer acesso aos autos
Um dos 40 presos na Operação Guilhotina, o delegado Carlos Antônio Oliveira — ex-subchefe operacional da Polícia Civil e braço-direito de Turnowski — entrou com pedido na Justiça Federal para ter acesso ao inquérito no qual é acusado de desvio de armas apreendidas em operações e de ligação com milícia da Favela Roquete Pinto, em Ramos.
Segundo o Tribunal de Justiça Federal, o pedido foi feito por meio do advogado de Oliveira, que entrou com um mandado de segurança encaminhado ao juiz Roberto Schumann, da 3ª Vara Federal do Rio. O caso está na 32ª Vara Criminal do Rio.
Ontem à tarde, o filho do delegado, o advogado Alan Oliveira, foi à sede da Polícia Federal também pedir para ver os autos do inquérito. Segundo ele, a defesa do pai estaria com dificuldades de acesso à documentação que investiga Oliveira, acusado ainda de comandar um grupo de 21 pessoas investigadas pela PF.
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