Wagner diz que Estado não vai conviver com "laranja podre" na corporação

Enorme tarja preta cobre fachada do Complexo de Delegacias dos Barris
Enorme tarja preta cobre fachada do Complexo de Delegacias dos Barris
Arestides Baptista | Agência A Tarde
Governador Wagner se pronunciou pela primeira vez em relação ao movimento da Polícia Civil
Governador Wagner se pronunciou pela primeira vez em relação ao movimento da Polícia Civil
Arestides Baptista / Ag. A Tarde
Apesar da mobilização da Polícia Civil, delegacia atende normalmente nesta sexta, 4
Apesar da mobilização da Polícia Civil, delegacia atende normalmente nesta sexta, 4

O governador Jaques Wagner disse, nesta sexta-feira, 4, que a administração estadual não vai conviver com "laranja podre" dentro da corporação. "Não podemos contribuir com criminosos fardados manchando a imagem da instituição” afirmou, em entrevista coletiva durante visita ao Centro Integrado de Informações do Carnaval 2011, no bairro de Ondina. O governador lamentou a morte do policial civil, mas disse não ter visto alternativa. "Não queríamos que fosse assim. Preferiria a prisão, mas, infelizmente, aconteceu”, continuou.

Apesar de a justiça ter decretado a ilegalidade do movimento, nesta quinta-feira, 3, os policiais civis afirmam que vão dar continuidade à paralisação iniciada, segundo eles, na quarta-feira. De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), as delegacias estariam funcionando com somente 30% do efetivo.

No entanto, as delegacias de Tóxicos e Entorpecentes, Homicídios e 1ª Delegacia, que ficam no Complexo Policial dos Barris, e 14ª Delegacia (Barra), atendem normalmente, segundo constatou a reportagem de A Tarde, ao visitar as unidades, nesta manhã. A justiça estipulou multa de R$ 100 mil por cada dia em que o movimento for mantido.

Conforme a assessoria da Secretaria de Segurança Pública (SSP), as delegacias, postos policiais e equipes que atuam na rua durante a folia trabalharam normalmente nesta quinta e mantêm o plantão hoje. Mas, caso haja adesão à movimentação do sindicato, a Polícia Civil afirma ter um plano emergencial para garantir a segurança no Carnaval.

Sindpoc - De acordo com Bernardino Gayoso, secretário-geral do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), o setor jurídico da entidade analisa como reverter a situação e os trabalhadores não vão voltar a trabalhar porque não se sentem seguros.

"Estamos sem entender qual é o procedimento (para trabalhar). Será que esse secretário (de Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa) está determinando que toda ação dos policiais é para executar? Não sentimos comando (na Polícia Civil). Eu não posso prender um elemento, porque ele pode ligar para a Corregedoria e a Secretaria pode mandar me matar. Nós estamos com esse sentimento de insegurança na nossa gestão", diz Gayoso, em referência à morte do policial civil Valmir Borges Gomes, na noite de quarta, 2, durante uma alegada troca de tiros com colegas. A SSP acusa Valmir de tentar extorquir um rapaz flagrado com lança-perfume.

Nesta manhã, membros da categoria se reúnem em frente ao sindicato, na Piedade, onde planejam formar equipes para percorrer os postos avançados onde há policiais civis do interior e as delegacias que ficam nos circuitos do Carnaval. O objetivo é incentivar os colegas a aderir à paralisação.

Crime - Os policiais decretaram a paralisação nesta quarta e protestaram durante todo o dia por causa da morte do policial, que também era diretor do sindicato. Eles pediram apoio do Ministério Público do Estado (MP), que vai acompanhar as investigações. O MP determinou nesta quinta a prisão preventiva do policial Antônio Dante, que estava com Valmir no momento do crime.

A SSP diz que um jovem acionou a Corregedoria após sofrer tentativa de extorsão por parte de Valmir, de Antônio Dante e de um outro homem que estava com ele, e que é apontado como "X9" (informante da polícia). Policiais da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE) foram ao local marcado por Valmir, Antônio e o outro homem, para receber do jovem a quantia de R$ 3 mil. Neste momento, teria havido troca de tiros, segundo a polícia.

Gayoso contesta esta versão e diz que Valmir foi morto com quatro tiros nas costas. "Essa reação é inaceitável. Tiros nas costas não se configuram como troca de tiro, é execução. Além disso, Valmir estava no banco do motorista e a arma apresentada como dele é um revólver 38 e ele usava uma pistola ponto 40. Apresentaram dois carregadores ponto 40 intactos, mas a pistola sumiu". O secretário de Segurança, Maurício Teles Barbosa, afirma que Valmir foi baleado em outras circunstâncias após ser flagrado extorquindo.

Versão - De acordo com um policial da DTE que participou da operação, mas preferiu não se identificar, eles receberam uma informação da Corregedoria de que o jovem de 18 anos era vítima de extorsão praticada por homens que diziam pertencer à DTE. A informação foi passada à reportagem de A Tarde, nesta quinta-feira, 4.

“Orientamos a vítima a negociar o valor a ser pago. Inicialmente foi R$ 10 mil. O valor caiu para R$ 3 mil. O garoto marcou para entregar o dinheiro, e este seria o momento da prisão”, lembrou. Chegando ao local marcado, os policiais da DTE checaram a placa do carro na qual estavam Valmir, o também policial Antônio Dante e outro homem ainda não identificado.

“Percebemos tratar-se de uma padronizada da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), mas eles estavam praticando um crime e teriam que receber voz de prisão”, disse o agente da DTE.

Assim que o grupo exigiu que a vítima atirasse o dinheiro pela janela, os policiais anunciaram a prisão. “O trio abriu fogo contra o carro em que estávamos. Não teve jeito. O carro que estávamos também foi alvejado”, lamentou o policial. Os outros dois homens conseguiram fugir a pé.

* Colaborou Helga Cirino, de A Tarde

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