Ação que matou Bin Laden foi 'catastrófica', diz especialista

Uma operação catastrófica, mal divulgada, mal conduzida, abusiva e que causou muito desagrado ao mundo árabe. Esta é a avaliação feita pelo pesquisador do laboratório de estudos do tempo presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ) Daniel Chaves sobre a operação norte-americana que terminou com a morte do líder do grupo terrorista Al-Qaeda. O feito foi anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na noite de domingo, em um pronunciamento acompanhado por todo o mundo.

Daniel Chaves criticou a falta de transparência nas ações do governo americano. "Ninguém sabia que aquilo estava sendo planejado. É o tipo de iniciativa que não foi transparente. Foi uma catástrofe de extrema insensibilidade. Faltam evidências, só há uma meia dúzia de fotos. Se você é um governante, precisa prestar contas e é impossível fazer isso jogando o corpo no mar. A última vez que os Estados Unidos tiveram que prestar contas e colocar à prova a eficácia e efetividade de suas ações, a gente viu no que deu: as tais armas de destruição em massa nunca existiram", disse, lembrando do episódio em que o ex-presidente americano George W. Bush afirmou que havia armas de destruição em massa no Iraque, o que foi usado como justificativa para invasão do país por forças norte-americanas.

Para o especialista, a operação norte-americana teve um efeito analgésico para toda a sociedade daquele país, que ansiava por vingança desde o ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Bin Laden foi apontado pelo governo americano como o chefe da operação que acabou por derrubar as duas torres do World Trade Center, em Nova York, e matou quase 3 mil pessoas que trabalhavam no local e que estavam dentro dos dois aviões que se chocaram contra os prédios.

"Há, sim, um componente analgésico, psicológico, imediato, relacionado a tudo isso. Isso é verdade, houve um bálsamo sobre a dor de todos, especialmente sobre os que perderam filhos, pais, maridos. No entanto, quando se ouve uma opinião mais crítica a respeito disso fora dos Estados Unidos, nota-se que ninguém levou isso a sério", destacou.

O pesquisador lembra que a operação terá um forte apelo eleitoral. Isso porque os Estados Unidos estão em guerra com países do mundo árabe desde o episódio que ficou conhecido como 11/09. O anúncio feito pelo presidente Obama, para Daniel Chaves, vai alavancar a popularidade do chefe de estado norte-americano, que busca a reeleição no pleito do ano que vem. O especialista em estudos do tempo presente da UFRJ alerta, ainda, para a possibilidade de haver retaliações aos americanos daqui para frente.

"Como assim invadem uma mansão, enchem o cara de tiros e jogam o cara no mar? Isto é rasgar o Direito Internacional. Do ponto de vista moral, é impensável e inadmissível uma nação projetar o poder dessa forma, é autoritarismo, um atropelo total. Definitivamente, da forma como tudo foi feito, com tantos problemas morais, do direito e da falta de evidências, não vai trazer segurança alguma. Pode haver retaliação, antipatia, desagrado do mundo árabe com o povo americano", criticou.

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