Flanelinhas loteiam a cidade e incomodam motoristas

Na luta pela sobrevivência, flanelinhas tornam-se inconvenientes na abordagem
Na luta pela sobrevivência, flanelinhas tornam-se inconvenientes na abordagem

Livres da fiscalização, guardadores de carro irregulares estabelecem a área de domínio e não perdem tempo para indicar o espaço onde estacionar. A desenvoltura é tamanha que já existe terceirização ilegal das áreas públicas para estacionamento. O flanelinha que decide “alugar” paga um percentual ao “dono” do espaço explorado.

“Somos reféns. Além dos impostos oficiais, temos esse pedágio paralelo”, disse Sidney Teles, professor de matemática. Na maioria dos casos, o pagamento antecipado para estacionar é quase obrigatório, pela ameaça velada ou direta.

A pressão é maior quando mulheres estão na direção. “Prefiro pagar. Me sinto coagida. A maioria é homem e dirijo sozinha”, disse a gestora em turismo Adelaide dos Santos, 29 anos.

Se for no entorno de grandes eventos, bares e shows, o assédio e o risco são ainda maiores. Para começar, o valor mínimo é R$ 5 e pode chegar a R$ 20, a depender do bairro. Em fórum no blogCidadão Repórter – que integra o núcleo de interatividade com os leitores do Grupo A TARDE –, foram registrados 62 relatos de problemas ao tentar estacionar em vários bairros.

Contudo, o pagamento não garante tranquilidade. Mesmo desembolsando os R$ 10 estipulados no Campo Grande para um show na Concha Acústica do Teatro Castro Alves no mês passado, a pedagoga Jamile da Hora Barbosa, 23 anos, não teve o serviço oferecido. Ao voltar, um dos pneus estava furado. “Na saída, nunca tem ninguém olhando o carro”, disse.

Alguns aceitam o que é pago pelo motorista, outros estabelecem valores a depender da localização da vaga. No Comércio, há um mês, o advogado Maurício Coutinho Bastos, 25 anos, discutiu com um deles. “Só passei 20 minutos na vaga e ele queria
R$ 5, e eu disse que só dava R$ 2. Ele pegou os R$ 5, não me deu troco e quando disse que ia chamar a polícia ele ameaçou dando a entender que, se eu colocasse o carro de novo ali, ia me dar prejuízo”.

Na Avenida Anita Garibaldi, próximo ao prédio do Banco Central, o taxista José Carlos de Oliveira Barbosa, há oito anos no local, já presenciou vários conflitos entre guardadores e a população. “Parecem que são donos da rua. Xingam as pessoas, assaltam. Fazem o que querem”.

A servidora pública Roberta Gusmão Disnard, 27 anos, já chegou a ser abordada na rua onde mora, no bairro de Nazaré. “É um absurdo. Os prédios são antigos, não têm garagem, então colocamos na rua. Tive que brigar até não ter mais de pagar”.

Dia de jogo no Estádio de Pituaçu, não pagar R$ 10 rendeu ao dentista Veldo Anunciação Cordeiro, 29 anos, dois pneus esvaziados e um retrovisor quebrado. “Eles estão por toda a cidade e a gente não pode recorrer a ninguém”Jornal a TARDE

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