Cabral chama bombeiros que ocuparam quartel de vândalos e troca comando

Em entrevista coletiva dada na tarde deste sábado (4), o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), chamou os bombeiros que ocuparam o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no centro da cidade, de "um grupo de vândalos irresponsáveis, que não vai prejudicar a imagem da instituição", que, segundo ele, "é tão querida" e "recebeu grande apoio" do seu governo.

Ele, em seguida, anunciou a troca do comando da corporação devido "a um descontrole hierárquico absolutamente inconcebível". Segundo ele, assume o coronel Sérgio Simões, que até então era secretário da Defesa Civil municipal, no lugar do coronel Pedro Machado.

Cabral afirmou ainda que 439 bombeiros foram presos e vão responder por invasão de prédio público. Cabral já ordenou a abertura de processo administrativo e pediu ao Ministério Público abertura de processo criminal.

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O governador disse também que acredita que os protestos têm motivação política. "Esse grupo de bombeiros foi seduzido pelo discurso delinquente de políticos, que ficam misturando Bíblia com política", afirmou, exaltado.

Hoje cedo, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) invadiu o quartel pelos fundos, usando uma escada. Os agentes também jogaram bombas de efeito moral contra os cerca de 2.000 manifestantes, de vários batalhões da cidade, que ocuparam o local na noite de sexta-feira (3), alguns acompanhados por familiares e até por crianças.

"Pior salário da categoria"

Eles reivindicam um aumento de R$ 950 para R$ 2.000, além de melhorias em suas condições de trabalho. "Nós temos o pior salário da categoria no país. Estamos há dois meses tentando negociar com o governo, mas até agora não obtivemos resposta," disse o porta voz do movimento, o cabo dos bombeiros Benevenuto Daciolo. "Nosso movimento é de paz e estamos em busca da dignidade e precisamos de uma solução".

Questionado sobre as condições salariais dos bombeiros, o governador respondeu que isso não é verdade, dizendo que já existe um programa de recuperação salarial. Cabral alegou que investiu R$ 120 milhões em novos equipamentos para a corporação nos últimos anos.

"Se [o salário] não é ideal, deixou de ser o que alguns desses amotinados dizem por aí. E mesmo que fosse o pior salário do país, não justificaria a entrada daquele jeito no quartel", argumentou.

A PM informou que cerca os manifestantes foram levados ao Batalhão de Choque e parte deles começou a ser transferida para a Corregedoria da corporação, que fica em São Gonçalo.

Cabral se reuniu durante a manhã, no Palácio da Guanabara, com parte da cúpula do governo do Estado para avaliar o movimento de protesto dos bombeiros. O governador conversa com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame; com o vice-governador Luiz Fernando Pezão; com o secretário da Casa Civil, Regis Velasco Fichtner Pereira, e com o coronel da PM, Mário Sérgio Duarte.

Crianças feridas

O coronel Íbis Silva Pereira, porta-voz da Polícia Militar, confirmou na manhã deste sábado (4) que uma criança deu entrada no Hospital Municipal Souza Aguiar após a invasão do Bope. Segundo ele, a criança teve um problema por inalação da fumaça, que provalvemente foi provocada pela granada usada pelo Bope para arrombar o portão do quartel, que havia sido trancado pelos manifestantes com uma barreira de carros de bombeiros.

Manifestantes também afirmam que outras pessoas foram feridas, inclusive outras crianças, e a mulher de um cabo passou mal e teria perdido o bebê durante a confusão. A deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ), que passou a noite com os manifestantes e as famílias que se uniram ao protesto dos bombeiros, contou que a grávida sofreu um aborto espontâneo.

Segundo funcionários do Hospital Municipal Souza Aguiar, pelo menos cinco crianças deram entrada atordoadas e com ferimentos leves. Elas foram acalmadas, medicadas e liberadas em seguida.

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