O recordista de autos de resistência é o sargento Isaías Souza do Carmo, de 48 anos: desde 2000, ele teve o nome envolvido em pelo menos 18 registros (sem contar o caso de Juan, de 11 anos). O primeiro caso foi registrado na 54ª DP (Belford Roxo), em 13 de julho de 2000. O mais recente foi em 23 de novembro passado. Dos 18, pelo menos três ainda não foram arquivados pela Justiça estão em fase de inquérito: um na 56ª DP e dois na 57ª DP (Nilópolis).
O segundo no ranking é o cabo Edilberto Barros do Nascimento, de 43 anos, com 13 autos . O primeiro, na área da 54ª DP, é de 1 de outubro de 2002. O mais recente, na 56ª DP, é de 29 de setembro de 2008.
Depoimento de policiais dura cerca de treze horasO cabo Rubens da Silva, de 33 anos, já se envolveu em pelo menos quatro autos, todos registrados na 56ª DP, em 2010: 8 de abril, 14 de setembro, 10 de outubro e 23 de outubro. O sargento Ubirani Soares, de 44, tem um auto de resistência, ocorrido em 2007 e registrado na 54ª DP.
Na terça-feira, policiais do 20º BPM que não quiseram se identificar informaram que estariam trabalhando sem fuzis. As armas teriam sido encaminhadas para a perícia do Instituto de Criminalísticas Carlos Éboli. Segundo a assessoria da Polícia Militar, somente as armas dos PMs que atuaram no confronto na Favela do Danon foram para a perícia.
Durante cerca de treze horas, 11 policiais militares do 20º BPM prestaram depoimento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), em Belford Roxo. O delegado titular, Ricardo Barbosa de Souza, intimou PMs que estiveram a até dois quilômetros de distância do confronto em Nova Iguaçu, na noite de 20 de junho.
Após os depoimentos, que terminaram por volta das 2h da manhã desta quarta-feira, os 11 PMs e o delegado Ricardo Barbosa de Souza deixaram a DHBF sem falar com a imprensa.
Os dados dos GPSs das cinco viaturas envolvidas permitiram identificar os PMs que atuaram naquela noite. Na terça-feira, pelo menos três PMs que prestaram depoimento teriam saído pelos fundos da delegacia para despistar a imprensa. O delegado não comentou os depoimentos.
Na segunda-feira, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos asseguraram a inclusão imediata, em caráter emergencial, de Wanderson dos Santos de Assis, de 19 anos, no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) . A família de Wanderson - baleado durante a operação policial na comunidade Danon, em Nova Iguaçu, no dia 20 de junho - já havia ingressado no mesmo programa. Já os parentes de Juan estão no Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAM). O irmão mais velho de Juan, Wesley de Moraes, também foi baleado na mesma operação. A inclusão de Wanderson no Provita foi adotada por causa da possibilidade de ele, que estava internado no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, sofrer alguma represália por ter testemunhado a ação policial.
- Meu outro filho, Francisco, ainda não resolveu se vai conosco, mas eu e a mãe do Wanderson vamos acompanhá-lo. É um momento difícil e de muita confusão em nossas vidas... Não sei o que virá pela frente - desabafou bastante emocionado o pai de Wanderson, José Antônio de Assis, que trabalha limpando piscinas.
O patrão de Wanderson, Jammil Suad Seoud, lamenta que no dia da tragédia o rapaz estivesse trabalhando até tarde para substituir um colega. Seu único motivo de ir à Danon naquela noite era o encontro com uma garota.
- O Wanderson era paquerador. Tinha uma namoradinha aqui, outra ali. Um menino engraçado, querido por todos - resume Jammil, dono da loja de doces FJA Imperial: - Ele sempre foi disposto, interessado e responsável. Entrou aqui através de um teste, após deixar o currículo. Já disse ao pai dele que estava à disposição da família. Vou conversar com advogados para definir qual deve ser a minha conduta como empregador.
Com medo de represálias, a família de Juan também decidiu deixar o lugar onde sempre viveu, em Nova Iguaçu. Desde quarta-feira, eles estão num lugar mantido sob sigilo. Um tio de Juan, que morava com a família nos fundos do terreno, resolveu abandonar na quinta-feira o lugar onde nasceu e se criou. Com a mulher e o filho de 2 meses, partiu para outra cidade. O pai de Juan, o eletricista Alexandre Neves, de 36 anos, também deixou a Baixada, apesar de não ter aceitado entrar no programa de proteção com a ex-mulher.
Na manhã de segunda, oficiais do 20º BPM (Mesquita) se reuniram para definir os novos rumos da busca pelo menino Juan. De acordo com assessoria de imprensa da PM, ficou decidido que na segunda-feira não seriam feitas buscas. O chão molhado, em função das chuvas que caíram sobre a região, atrapalha o trabalho dos cães farejadores. A PM informou, no entanto, que a operação será retomada assim que houver condições. Segundo o comandante do 20º BPM (Mesquita), tenente-coronel Sérgio Mendes, não há nenhuma nova denúncia sobre o menino.
A polícia realizou buscas pelo menino na Baixada Fluminense, na última semana, com a ajuda de cães farejadores, mas nada foi encontrado. Na quinta-feira, um corpo foi encontrado no Rio Botas, em Belford Roxo, mas a perícia descartou que seja de Juan, já que uma análise inicial mostrou ser de uma menina . Um dia antes, cães farejadores já haviam auxiliado na busca pelo menino, desta vez na Serra da Misericórdia, que fica nos fundos da comunidade Danon, mas nada foi encontrado. Também na quarta-feira, a mãe de Juan, Rosinéia Maria de Moraes, reconheceu, por meio de fotos de jornais, o chinelo que o filho estava usando no dia em que sumiu .
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