México DF - O clima é de total comoção no México por conta do ataque ao Cassino Royale, que deixou saldo de 53 mortos na tarde da última quinta-feira (25), na Cidade de Monterrey, capital de Nuevo León. Este clima de tristeza, natural em qualquer tragédia dessa dimensão, ganha proporções ainda maiores porque Monterrey é uma das cidades mexicanas símbolo de riqueza e prosperidade, já que aí vive boa parte da população abastada do país.
Outro aspecto peculiar é que o hábito de frequentar cassinos é um hobby de grande parte das classes média e alta mexicanas, sobretudo mulheres – jovens, adultas e até da terceira idade. O México está em luto por três dias, decretado pelo presidente Felipe Calderón, até porque não se trata de mortos tão comuns.
Atrás do ataque, é preciso reconhecer sem nenhuma soberba como o governo e a sociedade mexicana se encontram totalmente acurralados pelo poder dos traficantes – o crime, classificado pelas autoridades mexicanas como terrorismo, é nada mais que uma demonstração de protesto de algum cartel de tráfico de drogas, ou de vários deles. Uma resposta bem clara a decisão do proprietário do Cassino Royale de não pagar a extorsão exigida pelos traficantes, considerada outra fonte de renda importante para o negócio.Se estima que o tráfico de drogas movimente a quantia aproximada de 65 bilhões de dólares ao ano.
Este não é o primeiro ataque a cassinos nos meses recentes, mas foi seguramente o mais ousado deles. Homens muito bem armados chegam ao local, em plena tarde, e em apenas dois minutos incendiam o imóvel e o deixam tranquilamente, sem qualquer consequência. Para completar o pânico e o desespero das pessoas que estavam no cassino, todas as saídas de emergência estavam trancadas pelo lado de fora e pouquíssimas pessoas conseguiram se salvar, um número ainda não revelado pelas autoridades. Mas, o mesmo vídeo que mostra os responsáveis pelo ataque chegando ao local, também mostra um pequeno número de pessoas que teriam saído imediatamente ao ouvir o anúncio: Saiam, vamos queimar.
Foto: Divulgação
O não pagamento da extorsão, como também a gestão atual de enfrentamento ao crime organizado, desenvolvida por Calderón, é uma política relativamente nova no México, já que durante várias décadas o tráfico de drogas foi uma atividade que contou com a participação do Estado – autoridades legais (governadores, prefeitos, deputados, etc) ganhavam percentuais dos negócios dos traficantes como uma recompensa por fazer vista grossa a ilegalidade. A prática remete a décadas passadas, a governos coniventes que se beneficiavam de várias formas do negócio.
E em decorrência disso, os traficantes estabeleceram a extorsão como prática algo comum no seu relacionamento com autoridades e empresários. Como se diz aqui, éplata ouplomo – um jargão que pode ser explicado da seguinte maneira: ou admite o suborno, plata (dinheiro), ou aceita as consequências, plomo (material utilizado na fabricação de balas de revólveres). A expressão é utilizada para ameaçar e intimidar autoridades e empresários. O caso do Cassino Royale, ao que parece, é mais um em que prevaleceu o plomo, a intimidação, neste caso, comconsequências coletivas.
Hoje em dia, não apenas os empresários, mas principalmente prefeitos, governadores e autoridades da área de segurança pública podem tornar-se vítimas fáceis da atuação ousada dos traficantes quando decidem enfrentá-los, algo que já é praticamente corriqueiro aqui no México.
E atrelada a tãoescuso comportamento do Estado mexicano no passado, que lhe persegue como inimigo íntimo,está a prática da corrupção que beira todos os setores de uma sociedade que luta para fortalecer suas instituições estatais, civis e valores. Mas, como é comum em toda América Latina, lutar contra as próprias tradições e valores tãoarraigados não é nada fácil. Se trata de uma luta com prazo indefinido e com final totalmente incerto.
O medo, a sensação velada de insegurança e de incapacidade compartilhado pela população mexicana é tão grande que muita gente pensa, inclusive, que o governo deve manter algum tipo de acordo com os traficantes ao invés de enfrentá-los. São pessoas que temem que o número de vítimas dessa guerra, que em 2010 atingiu a cifra de 15.273 mortos, continue crescendo e atinja suas próprias famílias
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