Trânsito violento: estresse ou impunidade?

Cada vez é mais notório o crescimento do número de pessoas assassinadas, vítimas de briga no trânsito nos últimos meses, em Salvador e interior. Em muitos casos registrados pela polícia, as mortes foram decorrentes de discussões banais.

O barulho de uma buzina, uma ultrapassagem, uma freada indevida e até mesmo um pedestre que atravessa a sinaleira na hora errada, são alguns dos motivos que resultaram em mortes e continuam vitimando pessoas inocentes no trânsito. Esses acontecimentos estão se tornando rotineiros, deixando muitos motoristas assustados.

Apesar da delegada Francineide Moura, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), ter assumido o departamento há poucos meses e ainda precisar de tempo para fazer um levantamento de dados, ela afirmou que a violência em geral vem crescendo nos últimos tempos por conta do estresse do dia a dia das pessoas.

O último caso de morte foi registrado na tarde desta quinta-feira, na BR-324. O assassinato de Nei Carlos Almeida de Oliveira, 40 anos, é mais um número para as estatísticas de crime no trânsito que não param de crescer. Atingida com dois tiros na cabeça, a vítima morreu dentro de seu veículo Astra. Testemunhas disseram a polícia que após uma discussão, os acusados, dois homens que estariam a bordo de um veículo Celta branco dispararam vários tiros contra a vítima e fugiram.

Na última semana, funcionárias de uma loja na Rua Goiás no bairro da Pituba, presenciaram uma discussão entre dois condutores, que, por pouco não acabou em tragédia. Segundo a vendedora Janice Santos, um idoso teria dado uma fechada em um outro veículo. Após o fato, os condutores desceram dos veículos, iniciando uma discussão. Minutos depois, o rapaz que foi fechado, sacou a arma da cintura e apontou em direção ao idoso, pedindo que ele falasse alguma coisa que iria matá-lo.

Coagido com a arma apontada em sua cabeça, a vítima pediu desculpas ao agressor e solicitou que ele se acalmasse. Neste momento, o acusado começou a xingá-lo e ameaçá-lo de morte. “A cena foi horrível. Se o idoso fosse um homem alterado, teria sido morto naquele momento. A atitude do outro condutor chamou a atenção de todos que passavam na rua.

Ele ameaçou a vítima, e ainda pediu que anotasse a placa do seu carro para que fosse prestar queixa”, disse Janice.

Já diretora da Escola Pública de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Ana Cristina Regueira, acredita que o principal motivo para o crescimento de assassinatos no trânsito ocorridos com frequência em Salvador, é a impunidade dos acusados.

Ela acredita que se os assassinos fossem punidos pelas autoridades responsáveis como manda a lei, o número de assassinatos seria menor. Para ela, os problemas pessoais e profissionais vivido no dia a dia dos condutores também influenciam na violência, o que segundo ela, não justifica tirar a vida de ninguém.

Ela alerta que, evitar realizar ultrapassagens indevidas, freadas bruscas e discussão enquanto estiver dirigindo, pode diminuir muito as ocorrências de assassinatos no trânsito. Questionada sobre a postura dos condutores que se deslocam de suas casas com armas dentro do veículo, ela acredita que essas pessoas já saem com a intenção de matar.

“Uma discussão mal resolvida com a família ou até mesmo no trabalho, são fatores que contribui muito para a violência. As pessoas aproveitam o trânsito caótico que se encontra a cidade, e descarregam sua raiva em quem encontram pela frente.

Para evitar que seja mais uma vítima dessa estatística, os condutores precisam manter a calma quando estiverem dirigindo e não reagir a insultos de outros motoristas. Se não estiver em condições de dirigir por algum problema pessoal que tome um táxi, ou peça a alguém de confiança para conduzir o veículo”, finalizou.

O atendente de telemarketing, Cid Santos, 24 anos, trabalhou como frentista durante um ano em um posto de gasolina na BR-324. Ele disse que era frequente motoristas abastecerem o veículo e estarem em poder de uma arma embaixo das pernas.

Segundo ele, o comportamento dos condutores causava medo aos funcionários, já que eles não sabiam se estavam lhe dando com policiais, bandidos ou pessoas do bem. “Era uma sensação horrível. Não entendia porque as pessoas já saiam de casa com uma arma dentro do carro”, questionou.

Registros de assassinatos após briga ao volante

No dia 25 de maio, o taxista Paulo Roberto Souza dos Santos, 34 anos, foi assassinado no bairro Campinas de Pirajá, depois de uma briga. Na ocasião, a vítima estava acompanhada da esposa, que não sofreu ferimentos. Segundo a polícia, o crime teria sido motivado quando o taxista teria pedido passagem, que não foi liberada pelo assassino. A vítima teria reclamado com ele, que acabou efetuando os tiros em suas costas.

Já no dia 05 de agosto, o cabeleireiro Romildo Ferreira de Jesus, 29 anos, foi assassinado dentro de sua barbearia, no bairro de São Caetano. Romildo estava indo para o trabalho quando discutiu com o motorista de um carro, depois de ter reclamado com o autor dos disparos sobre a insistência no toque da buzina, devido a um congestionamento que acontecia no local. Após efetuar os disparos, o acusado fugiu.

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