Sem o trânsito intenso de veículos, crianças viram as donas do bairro
O silêncio dominical das ruas desertas do Comércio, na Cidade
Baixa, é quebrado por uma sonoridade inusitada que vem da Rua Guindaste
dos Padres, próxima à Ladeira da Montanha: o barulho surge do baba de
crianças do Acampamento Sem-Teto Carlos Lamarca, ocupante de um dos
prédios inutilizados do bairro, o Edifício Avelino.“As crianças só têm o domingo para brincar e sair um pouco do mofo do prédio. Dia de semana isso vira estacionamento”, diz um dos pais e liderança do acampamento, Fábio dos Santos.
Para quem visita a região do Comércio num dia de domingo fica evidente o contraste entre o movimento nevrálgico dos dias de semana, típico de centros financeiros, com um vazio dominical onde poderia haver espaços culturais e de lazer dedicados à população soteropolitana, tão carente de opções mais democráticas.
Depois de oito anos de incentivos fiscais, entre isenção de IPTU a redução de ISS, para que novos empreendimentos fizessem o Comércio ressurgir como um importante espaço de desenvolvimento urbano, o bairro mostra que sua infraestrutura histórica ainda se resume aos aspectos econômicos.
Desperdício - “Não tem teatro nem cinema ou outro tipo de lazer. O domingo aqui poderia ser diferente se houvesse incentivo. Mas neste dia, o Comércio morre. É um desperdício, com tantos prédios bonitos sem serem usados”, lamenta Antônio Santos, vigilante que trabalha há 11 anos no Edifício Comercial Paraguassu, na Rua Portugal.
“Queria muito um dia sair do trabalho e ir a bares alternativos e frequentar outros pontos de cultura. Mas o que me resta depois de um plantão é ir com medo para casa”, queixa-se Francisco Lima, operador de telemarketing da Contex, uma das poucas agências no Comércio que funcionam em regime reduzido aos domingos.
Na ausência da atribulação de transeuntes e buzinas, o domingo, segundo o pintor Uilton Dias, é ideal para se fazer reparos nas estruturas dos prédios de escritórios dos arredores do bairro
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