Bastaram alguns dias após o início do namoro para a
publicitária Ana Dias*, 29 anos, começar a receber mensagens com
ameaças e ofensas pessoais. “Criaram vários perfis virtuais
me xingando e dizendo que meu namorado tinha outra. Começaram no
Facebook, depois passaram para meu celular e também para o Orkut. Um
transtorno imenso”, contou.
“Uma espécie de vírus humano poluindo a privacidade das pessoas”. É assim que ela agora define os ataques diários via internet
que recebeu durante meses. Por trás da onda de ódio, estavam o início
do novo relacionamento amoroso e a vingança de duas mulheres: uma que
se sentia trocada e outra que se passava por amiga do casal.
Para
evitar os ataques, Ana trocou os números de telefone e bloqueou
contatos na internet para desconhecidos. “Agora estou meio escondida na vida. Muitas pessoas que querem falar comigo não conseguem”, desabafou.
Remoção de conteúdo -
Não há dados oficiais sobre ataques contra a honra praticados pela
internet na Bahia, mas segundo o advogado especialista em crimes
virtuais, Thiago Vieira, é cada vez maior a procura por ajuda para solucionar
ataques como esses. O advogado destacou que em muitos casos a vítima
evita buscar a Justiça, mas que essa é a melhor forma de tentar fazer
com que o material pare de ser divulgado.
No final do
ano passado, por exemplo, uma mulher foi condenada a pagar R$ 10 mil de
indenização por danos morais a uma funcionária pública baiana após
difamação contra a mesma no Orkut. “A criminosa copiou fotos da
jovem, gerou montagens de cunho sexual em softwares de edição de
imagens e criou um perfil falso da vítima”, detalhou o advogado. O caso
está agora em fase de recurso.
Em todos os casos, Vieira
aconselha que se procure ajuda o mais rápido possível: “Ainda existe
muita dificuldade em identificar a origem desse tipo de mensagem, por
isso quanto antes começar a busca melhor”.
Entre as clientes do
advogado está uma jovem que também pediu para não ser identificada. Ela
teve fotos íntimas publicadas na internet, pelo ex-namorado. “Imagens de
foro íntimo foram divulgadas em sites nacionais e internacionais, mas
conseguimos que os servidores fossem notificados e removessem as
imagens”.
No caso de Ana, foram dois meses desde o início da
perseguição até ela pedir ajuda: “Aguentei um tempo, mas quando vi que
só piorava resolvi dar um basta. Cheguei a receber oito mensagens por
dia, além de ligações com gritos e ameaças”.
Ana pensou em
procurar uma delegacia, mas acabou sendo ajudada por um tio que trabalha
na Polícia Federal. As suspeitas, aos poucos, foram sendo confirmadas. A
partir de endereços IP (código que identifica uma conexão entre
computadores), descobriu-se que as mensagens partiram de três lugares
diferentes.“São duas pessoas envolvidas, uma delas é a ex-namorada de
meu namorado e a outra é alguém que pensávamos ser uma amiga nossa”,
revelou a publicitária.
No total, a perseguição durou oito meses.
O último perfil falso foi apagado há três semanas, mas Ana se diz
confiante: “Agora elas já sabem que isso não nos afeta e que nos uniu
mais, por isso acredito que pararam”.
* Nome fictício
|SERVIÇO|
O que fazer se for vítima
Preserve todas as provas -
Salve as páginas em que aparecem as ofensas em CD-R ou DVD-R, e
imprima esse conteúdo. Em um cartório, faça uma "Declaração de Fé
Pública" de que o crime em questão existiu ou uma "Ata Notarial" do
conteúdo ofensivo;
Procure uma delegacia - Com
as provas em mãos, vá até a Delegacia de Polícia Civil mais próxima. Em
Salvador, procure a Delegacia de Repressão ao Estelionato e Outras
Fraudes, na Baixa do Fiscal, e registre a ocorrência;
Solicite a remoção das ofensas -
Para isso, envie uma Carta Registrada para o prestador do serviço que
hospeda o conteúdo na internet. No site da ong Safernet, há um modelo
que pode ser usado
(www.safernet.org.br/site/prevencao/orientacao/modelo-carta);
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