Grande Salvador sofre com um protesto por dia

Moradores do Arraial do Retiro, na BR 324, durante protesto no dia 22 de novembro
Moradores do Arraial do Retiro, na BR 324, durante protesto no dia 22 de novembro
Ronald Rodrigues, 38, é vigilante e tem a impaciência de quem espera há dois anos por pavimentação e iluminação pública onde mora, na Passagem dos Teixeiras, distrito de Candeias (Grande Salvador). Priscila Viglio, 30, é empresária  e perde a paciência ao esperar quatro horas para chegar ao trabalho, no Centro Industrial de Aratu (CIA), trecho que faria em meia hora, não fosse ter que enfrentar 50 km de engarrafamento.
Só no último mês, nove manifestações bloquearam ruas e estradas na Grande Salvador, causando impactos no trânsito, mas muitas outras ocorreram com efeitos sentidos apenas localmente. “Às vezes, acontecem quatro ao mesmo tempo, mas a média é de uma por dia”, revela o diretor de trânsito da Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador), Renato Araújo.
Bloquear avenidas e rodovias é um expediente que vem sendo tentado por todo o Estado, e com sucesso em muitos casos, para cobrar do poder público desde licitação para o transporte alternativo até a apuração de crimes cometidos por policiais.
Crítica - “Fico revoltada. É injusto com as milhares de pessoas que passam por lá (BR-324). Tinham que protestar era na porta da prefeitura”, queixou-se Priscila, que chegou atrasada ao trabalho no dia 24 de outubro, quando moradores de Passagem dos Teixeiras bloquearam a pista para pedir melhorias no local e isenção no pedágio.
“Infelizmente, no Brasil, o único jeito de chamar a atenção é esse”, justificou Ronald, um dos organizadores da manifestação que travou a BR-324 com pneus queimados, das 6 às 15h.
Polícia - O governador Jaques Wagner deu ordens ao secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa, e ao comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, de que não seja mais permitido o fechamento de vias por manifestantes. “A determinação é não deixar obstruir nenhuma via, e agora apurar a participação de cada um dos autores das manifestações para imputar as responsabilidades por qualquer coisa que aconteça com uma pessoa que não esteja sendo socorrida (por ambulância) ou qualquer outro prejuízo”, revelou Barbosa. O Batalhão de Choque da PM será chamado para atuar, segundo o secretário.
Dizendo-se um “democrata convicto”, o governador garantiu, em entrevista exclusiva ao A TARDE, publicada na última segunda-feira, que o direito à liberdade de expressão será preservado, mas criticou este tipo de protesto: “Não acho válida a manifestação que empata a vida das pessoas, e quando você empata o trânsito você pode estar matando uma pessoa em um carro tentando chegar a um hospital. Para externar a opinião, há canais de rádio, televisão, jornais, que, sem dúvida nenhuma, são os maiores fiscais que qualquer governo tem. Me custa muito mais caro politicamente uma crítica, um problema sendo veiculado (na imprensa) do que uma coisa feita pontualmente”, disse.

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