O
delegado-geral Hélio Jorge Paixão e o titular da 19ª Coordenadoria
Regional de Polícia do Interior (Coorpin), em Senhor do Bonfim, delegado
Felipe Néri Neto, revelaram, nesta quinta-feira (10), detalhes do
trabalho de investigação da Polícia Civil na elucidação da morte de
Márcia Regina de Souza Macedo, 29 anos, mulher do investigador João dos
Santos Macedo, 40, autor do crime ocorrido no dia 29 de outubro. Foi o
oitavo caso de servidores policiais flagrados em ação delituosa e
punidos pela Corregedoria da Polícia Civil (Correpol), em 2011. Foram 19
policiais ao todo, sendo 14 investigadores, dois escrivães e três
delegados.
“O trabalho da polícia deve ser cumprido de forma imparcial,
independente de quem seja o autor de um crime. Muitas vezes é necessário
cortar a própria carne”, avisou o delegado-geral, durante coletiva à
imprensa, realizada no auditório do prédio-sede da Polícia Civil, na
Praça da Piedade. Ao lado do delegado Felipe Neri, Hélio Jorge ilustrou
cada passo da investigação por meio de fotos e análises técnicas da
perícia, feitas do carro e do local utilizado pelo investigador para
forjar um acidente com a sua mulher.
Lotado na Delegacia Territorial (DT) da cidade Antônio Gonçalves, João
foi preso, na segunda-feira (7), e encontra-se custodiado na Correpol,
no Rio Vermelho. Segundo o titular da 19ª Coorpin, o policial responderá
a um processo criminal por homicídio e também a um processo
administrativo disciplinar. Há suspeitas de que ele recebera ajuda de
dois homens para forjar o crime. João nega, mas a polícia trabalha para
descobrir quem seriam os cúmplices.
Na madrugada do dia 30 de outubro, João pediu ajuda ao Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), pois sofrera um acidente de
trânsito na estrada que liga Senhor do Bonfim a Jacobina, próximo de
Antônio Gonçalves. Na ocasião, o investigador disse à polícia que estava
com sua mulher a bordo de um Gol, de cor verde, que pertence a seu
irmão, a caminho de Pindobaçu, onde se realizava a festa de aniversário
da cidade. Afirmou ainda que, ao passar por uma curva, perdeu o controle
do veículo e saiu da estrada. Nesse momento, a porta do lado do
passageiro se abriu e Márcia foi lançada para fora do veículo e morreu
na queda.
Ao analisar o local do acidente, os peritos do Departamento de Polícia
Técnica (DPT) de Senhor do Bonfim e o delegado Felipe Néri, no entanto,
perceberam que as evidências não apontavam para uma fatalidade. A
desconfiança fez com que as investigações fossem aprofundadas para
esclarecer o que de fato teria acontecido. Foi apurado então que a
equipe do SAMU, que estivera no local, observou que o corpo de Márcia
apresentava rigidez cadavérica, indicando que a mulher havia morrido
horas antes do horário do acidente informado pelo marido.
O trabalho realizado pelos peritos do DPT trouxeram novas informações
que reforçaram as desconfianças do delegado Felipe Neri. Foram
encontradas, por exemplo, manchas do sangue e fios do cabelo de Márcia
no interior do Gol. O veículo estava em uma posição que não combinava
com a posição de um carro que tivesse saído da estrada de forma
descontrolada. Somado a tudo isso, um familiar da vítima disse à polícia
que notou marcas estranhas nos pulsos de Márcia, indicando que ela fora
amarrada. Esses detalhes da investigação fizeram com que João fosse
chamado a comparecer à 19ª Coorpin.
Diante das evidências apresentadas, o investigador confessou o
assassinato e relatou que o crime aconteceu na noite de 29 de outubro,
na residência do casal, no bairro do Mercado, em Senhor do Bonfim. Na
ocasião, Antônio e Márcia, juntos há 12 anos e pais de dois meninos, um
de 11 e outro de cinco anos, tiveram uma discussão. O investigador disse
à mulher que descobrira que ela mantinha um relacionamento
extraconjugal no trabalho. Ela era estudante de Ciências Contábeis, na
Uneb de Senhor do Bonfim, e estagiava no setor administrativo da Justiça
Federal, em Campo Formoso. Segundo o assassino, no calor da discussão,
Márcia deu um tapa em seu rosto. Descontrolado com a agressão, ele a
algemou, espancou e estrangulou pisando em seu pescoço.
Depois de cometer o crime, João, que já foi policial militar e
trabalhava como investigador desde 2009, limpou o local para não deixar
vestígios. Em seguida, colocou a mulher morta no banco do carona do
carro do irmão, que emprestou-lhe o veículo. Já na estrada, próximo à
cidade de Antônio Gonçalves, empurrou o corpo para fora do automóvel,
forjando o acidente para enganar a polícia. “Por se tratar de um
policial civil, ele imaginou que poderia usar seus conhecimentos em
investigação para dificultar a apuração dos fatos. Esqueceu-se, porém,
que não existe crime perfeito. Todo criminoso deixa indícios”, declarou o
coordenador da 19ª Coorpin.
0 Comentários