As batalhas são duras e os tiros vêm de todos os lados. O céu é sempre
cinza pela fuligem das máquinas de artilharia, impossibilitando saber a
posição do sol.
Nas trincheiras, entre corpos de companheiros mortos, soldados
sobrevivem sem saber se a luz do dia seguinte virá para eles. Um deles
avista um animal desnorteado, completamente envolvido por arames
farpados, tentando se levantar. Do outro lado, na trincheira oposta,
outro soldado também vê o bicho. Rivais no campo de batalha, envolvidos à
força em uma briga que nunca foi deles, os dois jovens salvam o cavalo coberto por lama e sangue.
É apoteótico. A melhor representação da epopeia vivida pelo simpático e obstinado Joey, o cavalo que protagoniza o novo
longa "Cavalo de Guerra", do três vezes ganhador do Oscar, duas vezes
do Globo de Ouro e quatro do Emmy Steven Spielberg. A produção, que
estreia hoje nos cinemas de todo o País, é a adaptação do romance
infantil homônimo do inglês Michael Morpurgo, lançado em 1982.
A
história é baseada na Primeira Grande Guerra, entre os anos 1914 e
1918, numa briga iniciada entre as alianças de França, Reino Unido e
Rússia - e, em 1917, providencialmente ajudadas pelos Estados Unidos -,
contra o Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano.
Em quatro anos de batalhas pelo território europeu, 19 milhões de
pessoas morreram. E 4 milhões de cavalos também.
Joey é a
representação de uma juventude inteira desperdiçada pela disputa de
poder. Garotos que se viram envolvidos num conflito de amplitude
mundial, crianças crescidas e armadas, longe de casa, longe da família. O
cavalo percorre a Europa, passa de mão em mão. É levado, pelos homens,
para ver o ato mais cruel e perverso da humanidade: a guerra entre
irmãos.
A ambientação é pesada e Spielberg, mestre em misturar o
horror da guerra com toques sutis de humanidade - mesmo que de forma
velada. É também a primeira vez que o diretor e produtor se aventurou
pela Primeira Guerra Mundial. Os longas "A Lista de Schindler" (1993) e
"O Resgate do Soldado Ryan" (1998), e as séries "Band of Brothers"
(2001) e "The Pacific" (2010) são alguns exemplos de como ele já
explorou - e bem - o segundo conflito mundial.
"Cavalo de
Guerra" é um filme, acima de tudo, emocionante. E nos leva a trilhar
duas aventuras: do cavalo Joey e de seu dono, o jovem Albert Narracott
(o estreante Jeremy Irvine). O próprio primeiro encontro deles foi um
acaso. O pai de Narracott, vivido por Peter Mullan, um beberrão, aparece
na casinha da família com o cavalo, adquirido em um leilão, usando todo
o dinheiro da família. O garoto, que nunca havia treinado um cavalo,
precisa ensiná-lo a arar a terra. Quando a Inglaterra declara guerra, o
cavalo é vendido para o Exército. Aí começa sua jornada.
Somos
levados a acompanhar a trajetória do animal e das pessoas que estão à
sua volta: um capitão inglês, um casal de irmãos alemães, avô e neta
franceses, um cuidador de cavalos germânico. Todos personagens que
sofrem na guerra - e a quem a lealdade do cavalo conquista aos poucos.
Enquanto isso, o jovem Narracott completa a idade mínima para se alistar
e parte para defender o seu país. Sem saber quais seriam os horrores
que ele encontraria dali para frente. Um ótimo exemplar da capacidade dramática de Spielberg. As informações são do Jornal da Tarde.
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