Turistas não giram economia da cidade


Diante das controvérsias em torno do turismo e da ocupação de hotéis em Salvador, a Tribuna da Bahia  foi às ruas conferir se a cidade ainda é um dos destinos preferidos dos visitantes nesta época do ano.

Pelo fluxo de pessoas encontrado nos principais cartões postais, a exemplo do Pelourinho, Mercado Modelo, Farol e Porto da Barra, além da Colina Sagrada do Bonfim, percebe-se que a capital baiana ainda atrai olhares de turistas, sobretudo os estrangeiros.
 
Por que, então, os comerciantes reclamam tanto do faturamento? A resposta é facilmente encontrada na explicação de um lojista do Centro Histórico, Alex Felipe Miranda: “O fluxo de turista tem se mantido. Aliás, eu até diria que aumentou neste ano, mas o que mudou foi o perfil do turista. Hoje, ele vem mais para conhecer, às vezes até com o dinheiro contado, e pouco gasta na cidade com lembrancinhas e mimos”, avalia.
 
Segundo ele, isso ocorre devido às facilidades oferecidas pelas agências de viagens, que agora permitem pessoas com poder aquisitivo menor passear. “Tem pacote promocional onde o cliente só paga depois que viaja. Sem falar nas inúmeras vezes em que se pode dividir”, pontua.
 
Ainda no Pelourinho, o veterano Clarindo Silva, dono da Cantina da Lua, confirma a visão do colega. Para ele, o número de visitantes também aumentou consideravelmente, mas o movimento em seu estabelecimento não acompanhou no mesmo ritmo.
 
“O movimento ainda é salutar, mas já aquece a economia. Está melhor do que no ano passado. Tem vindo muitos turistas oriundos dos cruzeiros. Eu acredito que até o final do mês teremos um incremento de 20% na visitação e espero que isso se reflita nas vendas”, disse, creditando a responsabilidade às melhorias na segurança e na limpeza local.
 
“É verdade que ainda há muito que fazer. Tem ruas ainda extremamente sujas e com muitos buracos. Além disso, o que me preocupa é a fonte luminosa da Praça da Sé, que virou point pelo show de luz e música, e que agora está desativada, tornando-se um criadouro de dengue. Mas, apesar de todos os problemas, estamos bem se comparado ao período de absoluto abandono”, declarou Clarindo.
 
A ausência das Bênçãos (famosa festa de terça-feira, que já fazia parte da programação cultural do Pelourinho) também é apontada como responsável pelo fraco movimento no comércio. “A celebração era uma espécie de ‘juntamento’ de baianos e turistas, onde todos consumiam e gastavam, gerando renda na área. Não houve a última Bênção de 2011 nem a primeira de 2012. Com isso, enfraquece a visitação interna. É uma pena!”, lamenta o comerciante.
 
Crise na Europa contribui
 
No Mercado Modelo, o fluxo de visitantes também é grande. Contudo, as vendas permanecem tímidas. Ana Carolina Cardoso, que comercializa artesanato, conta que se anima todos os dias quanto assiste o local se encher de turistas, mas a alegria vai embora  com a contabilidade.
 
“Para a visitação já é alta estação, mas para as vendas mais parece o mês de agosto, quando registramos a comercialização de um ou outro produto por dia”, observa. “A crise na Europa nos afeta aqui, já que a maioria dos  nossos clientes vem de lá”, completa.
 
O vendedor José Tiago Barbosa, que há dois anos trabalha no local e que há mais de 20 mora na mesma região, é um pouco menos confiante: “A cada ano que passa o Mercado Modelo perde força.

Os turistas vêm, mas não gastam. Ainda reclamam da sujeira, dos imóveis ao redor em ruínas, do fechamento da área subterrânea que era visitada. Como a história está se perdendo, eles têm optado por ir para as praias do Litoral Norte e passar aqui no fim de tarde, só para conhecer”, explica.
 
Já o vendedor de camisas Edson Alves, que há mais de 8 anos fica na porta da Colina Sagrada, não tem o que reclamar do faturamento. “Não caiu nem subiu. Se manteve e isso já é bom. Mas que a cidade está lotada, isso tá”, afirma.
 
Na Barra, a baiana de acarajé, Siana, também não se queixa das vendas. Ela, pelo menos, não conta com o consumo apenas de turista. Seu produto é procurado principalmente pelos baianos. Com relação aos visitantes, ela percebeu que o consumo caiu. “Tem muita gente de fora, mas o comércio continua fraco”, alega.
 
Para Pedro Galvão,  presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav) na Bahia, Salvador tem problemas pontuais que fazem com que o turista termine deixando uma renda menor na cidade. “Além do Mercado Modelo e Pelourinho, que precisam ser requalificados, as nossas praias carecem de apoio gastronômico. Hoje o turista fica sem opção diante do que encontra. Não há também opções de vida noturna na cidade”, ressaltou Galvão.
 
Hotéis estão quase lotados
 
Os primeiros dias de 2012 não deixaram nada a desejar para os hotéis e pousadas de Salvador, que atingiram uma margem de ocupação de quase 80%. O Setor vive um bom momento, embora tenha passado a disputar com outros destinos da Bahia, a exemplo de Porto Seguro, Itacaré, Trancoso e Maraú.
 
Graziela Silva, gerente de uma pousada próxima ao Farol da Barra, revelou que suas expectativas para o réveillon foram frustradas, quando registrou um movimento considerado fraco ainda na véspera. Entretanto, não há mais vagas para o período do carnaval e o restante do mês de janeiro também tem bastante reservas.
 
Logo adiante, os hotéis localizados no Porto também estão com a ocupação máxima atingida para o período carnavalesco. Até lá, a rotatividade de hóspedes também é considerada positiva.
 
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH), Manolo Garrido, a procura no verão é sempre boa. “Atualmente estamos com 80% de ocupação, mas esperamos que esse índice melhore nos próximos dias, com a chegada do carnaval.

Salvador sofre uma crise de falta de atrativos turísticos, hoje temos atrações históricas e apenas isso”, ressaltou. Ele acredita ainda que durante o carnaval, apenas hotéis afastados irão dispor de leitos livres e, mesmo nestes, o índice de ocupação deve ser próximo aos 90%.
 

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