A
polícia promove a anarquia nas ruas
e a bandidagem aproveita enquanto o
governador viaja para fazer política
e a bandidagem aproveita enquanto o
governador viaja para fazer política
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Imagens do caos: enquanto policiais fazem baderna no quartel, políticos sobem no palanque, longe da confusão |
Na
semana passada, ladrões e desordeiros estavam à vontade
em Salvador. Seis agências bancárias e quarenta ônibus
foram assaltados só na quinta-feira. Dezenas de lojas tiveram os
estoques saqueados. Centenas de encapuzados, muitos usando uniforme da
Polícia Militar, rodavam pela cidade exibindo armamento pesado.
Um grupo desses chegou a desfilar pelos corredores de um shopping, aterrorizando
comerciantes. Cidadãos em pânico corriam de um lado para
o outro, com medo de arrastões, de tiroteios e dos mascarados.
Algumas pessoas saíram armadas, dispostas a se defender a bala
na hipótese de assalto. Emissoras de rádio apelavam para
que a população não saísse de casa. Os bancos
e o comércio fecharam as portas. Empresas de transporte reduziram
o serviço ao mínimo. A preocupação com parentes
e amigos levou muita gente ao telefone. Um aumento de 60% no total de
ligações tirou aparelhos do ar por quatro horas e isso deu
origem a um boato sobre sabotagem no sistema. O corpo de um homem morto
a tiros ficou horas estendido numa passarela sobre uma das principais
avenidas de Salvador. A média de homicídios a cada 24 horas
aumentou de três para dez casos. Pior: em cidades em torno da capital,
o cenário era idêntico.
Na manhã de quinta-feira, enquanto a balbúrdia crescia,
os homens mais poderosos da Bahia estavam a 500 quilômetros de Salvador,
fazendo política no sul do Estado. O governador, César Borges,
e uma dupla de senadores pefelistas, Paulo Souto e Waldeck Ornélas,
foram a Ilhéus para o pré-lançamento de um programa
agrícola do governo federal. O presidente Fernando Henrique Cardoso
irá à região dentro de uma semana, para apresentar
oficialmente esse programa. Embora não suba mais em palanques governistas,
o ex-senador Antonio Carlos Magalhães arrastou toda sua turma até
Ilhéus para faturar com o anúncio antecipado dos benefícios
aos agricultores. Foi só depois dessa cerimônia que o governador
e sua trupe trataram da segurança dos baianos. De lá o grupo
partiu para Brasília, para tornar oficial um pedido de ajuda ao
Exército para a contenção da baderna e do pânico
em Salvador. Àquela altura, já havia moradores da cidade
pedindo socorro até em telefonemas para o escritório local
de VEJA.
"Não
tenho mais a quem recorrer", dizia a comerciária Maria Cristina
dos Santos, sentindo-se ameaçada por uma tropa de encapuzados.
Em greve desde a semana anterior, exigindo aumento de 100% nos salários,
os policiais militares da Bahia tornaram-se o principal motivo de insegurança
na capital. O salário é de 575 reais. "O pior do Nordeste",
diz o presidente do Sindicato dos Cabos e Soldados, Crispiniano Daltro.
Antes da mobilização, o governo prendeu líderes do
movimento, o que exasperou os soldados. Primeiro, eles desafiaram o governador
decretando uma paralisação para forçá-lo a
oferecer mais que os 14% propostos no começo da negociação.
Depois, ganharam a adesão dos policiais civis, bombeiros e vigilantes
bancários. Em seguida, diante da hesitação de Borges
– que demorou a pedir oficialmente a ajuda de tropas federais –,
800 deles tomaram três quartéis, armaram-se com fuzis e escopetas
e constituíram milícias para assustar a população.
Só na manhã de sexta-feira, quando 24 quartéis já
estavam nas mãos dos amotinados, esse clima de anarquia pareceu
diminuir. Depois de uma noite inteira de saques e desordens, principalmente
na periferia, os primeiros soldados do Exército começaram
o patrulhamento.
Os problemas do governo baiano, porém, estavam longe de ter um
final. Professores, fiscais de trânsito, funcionários da
Justiça e motoristas de ônibus também estavam em greve
na sexta-feira, uns por aumento de salário, outros para não
enfrentar a insegurança nas ruas. O comércio ficou fechado.
O Banco Central determinou que as agências de Salvador só
reabrirão quando a situação estiver controlada. O
governo estadual decretou ponto facultativo nas repartições
públicas. No presídio Lemos de Brito, onde os presos estavam
sem banho de sol fazia cinco dias por falta de policiais para vigiá-los,
iniciou-se uma rebelião. Dos 29.000 PMs baianos, só os coronéis
e uns poucos oficiais abaixo deles não se envolveram na greve.
Paralisações de policiais aconteceram também nas
cidades do interior. O general Edson Sá Rocha, chefe do comando
militar do Nordeste, anunciou que não atacaria as tropas amotinadas
e só restou ao governador mandar cortar a água e a luz dos
quartéis. "O que podemos fazer é esperar que eles desistam
do movimento", resignava-se a secretária de Segurança Pública,
Kátia Alves.http://veja.abril.com.br
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