Uma recomendação dos Ministérios Públicos Estadual (MPE) e de Contas
(MPC) promete reacender as discussões em torno do relatório do Tribunal
de Contas do Estado (TCE) que apontou diversas irregularidades cometidas
pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
As procuradoras do MPE, Rita Tourinho e Heliete Rodrigues, junto com o
procurador Marcel Siqueira Santos do MPC, assinam o documento que já foi
entregue, segundo ao secretário Jorge Solla, no qual recomendam e
notificam o chefe da pasta para que se abstenha de:
Conceder anuência para a contratação de empréstimos bancários entre as
Organizações Sociais e instituições financeiras; de dar em garantia de
erpéstimos firmados entre as Organizações Sociais, pactuadas com o
Estado, e Instituições Financeiras os recursos vinculados a contratos de
gestão e; de depositar diretamente os recursos vinculados aos contratos
de gestão em contas de qualquer instituição financeira, que tenham como
objetivo quitar empréstimos bancários tomados por Organizações Sociais
perante Instituições Financeiras.
A medida foi adotada após o encaminhamento do relatório do TCE ao MP. De
acordo com as informações apuradas pela reportagem do Bocão News em
outubro do ano passado. “A Sesab vinha atrasando, consecutivamente, os
repasses de recursos destinados a administração do Hospital Estadual da
Criança (HEC), localizado em Feira de Santana. A demora nas
transferências de verbas prejudicou a gestão da unidade e influiu na
qualidade do atendimento a população”. De acordo com o apurado, atrasos
de até 20 dias foram identificados.
Com o atraso a Organização Social Instituto Sócrates Guanaes (ISG) foi
obrigada a pegar empréstimos ao Banco Industrial e Comercial S/A (BIC)
com juros. Para quitar o débito a ISG utilizou recursos de crédito dela
junto à Sesab. A transação, irregular, contou com o aval da secretaria,
através da declaração de concordância assinada pelo presidente da
Superintendência de Atenção Integral à Saúde (Sais).
Os números são impressionantes. De acordo com o apurado pelos auditores
do TCE, a Sócrates Guanaes teve de pegar emprestados R$ 11 milhões para
cobrir o rombo provocado pelos atrasos. O juros foi de 1.8%. A
instituição pagou algo em torno de R$ 250 milhões apenas de juros. Tudo
com o consentimento da Sesab. A verba gasta para pagar este ¼ de milhão
deveria ter sido aplicada na Saúde.
No mesmo dia da sessão do TCE na qual foi apresentado o relatório,
curiosamente, apareceu no Diário Oficial a exoneração de uma das
principais profissionais dos quadros da Sais. A diretora de Gestão da
Rede Própria, Claudia Maria Varjão.
O relatório revela também que outros quatro empréstimos foram feitos
pela ISG para suprir o problema dos atrasos nos repasses da Sesab.
Virou, portanto, prática comum. Problema é que a engenharia financeira
tem um ônus, chamado juros. Os recursos transferidos pela Sesab não
deveriam ser destinados ao pagamento de tarifas de operações
financeiras. Não há previsão contratual para isso.
A ISG, segundo o relatório, utilizou uma conta bancária irregular para
receber empréstimos do BIC e fazer outras transações financeiras. A
entidade não podia ter utilizado esta conta porque as verbas para gestão
do HEC só poderiam ser feitas em conta exclusiva deste contrato.
A auditoria identificou também inconsistência e erros nas informações
contidas no Relatório de Informação Hospitalar (RIH), documento enviado
pela Organização Social à Sesab - prestação de contas mensal. Neste
documento estão reunidos todos os dados quantitativos e financeiros
referentes à produção ambulatorial, internações e atendimentos.
Procedimentos realizados em outros locais estavam descritos no documento
como se tivessem sido realizados no hospital da criança e por vai.
Na oportunidade, Solla afirmou rebateu todas, no entanto, a decisão dos
MPE e MPC deixam claro que o erro, negado pelo secretário, existiu. Na
mesma resolução os procurados alertam que as providências “adotadas em
razão da Notificação Recomendatória ora encaminhada, sejam comunicadas
aos signatários, no prazo de dez dias úteis, a contar do recebimento da
presente, bem como outras informações que entender necessárias, sob pena
de serem adotadas medidas judiciais cabíveis”.
Bocão News
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