O
cantor sertanejo, Jorge, da dupla Jorge e Mateus conversa com
jornalista do site Uol e faz revelação polêmica. Além de ter se mostrar
incomodado com os rumos do mercado e da música sertaneja, foi incisivo
ao chamar o meio sertanejo de “podre” e assumir que tem “nojo” de tudo o
que acontece nesse meio artístico.
O cantor admitiu também que já pensou em parar mais de uma vez por não
aguentar determinadas situações. Jorge afirmou está incomodado, com as
rixas dentro do mercado, sejam entre duplas, escritórios, empresários e
outras pessoas importantes.
Aos que não são habituados com o meio sertanejo, Jorge e Mateus têm sete
anos de carreira, e são considerados a principal dupla da nova geração,
seja por repertório, faturamento, público e outras vantagens.
Abaixo confiram trechos da entrevista:
Por que você decidiu falar agora?
A gente chegou a uma situação insuportável, e acho que é um momento em
que alguém precisa falar algo. O mercado nosso é podre, podre. Onde já
se viu essa competição que acontece hoje entre duplas, entre
escritórios? Nossas carreiras não são um jogo, ninguém tá competindo,
ninguém vai ser campeão no fim do ano se fizer mais pontos. As pessoas
estão equivocadas. Há uma briga de bastidores hoje entre os escritórios
que só atrapalha.
Hoje existem grupos isolados, escritórios que criam rixas com os outros,
e isso não leva ninguém a nada. Enquanto você se preocupa demais com o
que os outros tão fazendo, você tá deixando de se preocupar com seu
trabalho. Eu tô com nojo, disso. Nojo.
O seu escritório também é bastante criticado…
Sem dúvida, e eu incluo o meu nisso. Os escritórios viraram ilhas e os
artistas se fecharam em grupinhos. Tá todo mundo esquecendo que nós não
somos nada, somos apenas cantores tentando fazer o que a gente mais
gosta. A vaidade tá acabando com qualquer coisa boa que ainda restava
nesse nosso meio. Se a nossa preocupação principal não for a música, a
carreira tá com os dias contados.
Houve alguma passagem específica que te incomodou mais?
É muita coisa, não são acontecimentos isolados. Eu fico puto, por
exemplo, com essa cultura do tapinha nas costas. Você recebe a pessoa
numa boa no seu camarim, na maior boa vontade, e fica sabendo que ela
vive tentando descobrir quanto foi seu último cachê, seu último público,
como anda sua carreira… com qual intenção? Onde a pessoa acha que vai
chegar com esse comportamento?
Não é um comportamento comum a qualquer mercado?
É diferente. Diferente porque aqui não há concorrência. Uma dupla ganhar
menos não quer dizer que eu vou ganhar mais. Uma dupla sumir, não quer
dizer que outra vai aparecer. Isso não competição. Não muda nada se
fulano ganha mais ou menos que eu. Você me entende? Nós temos mais de
sei mil municípios no Brasil. Tem dupla pra cobrir tudo isso? Não tem,
essa visão de concorrência dentro do próprio mercado é o fim. Olha o que
eu tenho, olha minha casa, minha vida… você acha que eu tenho que me
preocupar se tem um cara ganhando um cachê mais alto que eu? Eu tô
errado?
E quem alimenta, quem cria essas intrigas?
São coisas de bastidores. Há uma competição insana entre empresários. Eu
não preciso citar nomes pra que as pessoas saibam, todo mundo no meio
sabe o que acontece, mas isso precisa acabar. Isso tá estragando a vida
de quem tá ali pra trabalhar, de quem vive de música. Me diz, cara, como
é que uma pessoa trabalha a semana inteira, às vezes tem um dia só de
folga, e consegue perder tempo pensando numa forma de derrubar uma outra
dupla? Qual o benefício em ver um evento dar errado? Em geral, as
pessoas precisam baixar um pouco a bola e pensar mais na própria
carreira.
Critica-se muito os anos 1990, falam que os “Amigos” fechavam o mercado,
que só três duplas cuidavam sozinha do mercdo, mas o que se faz hoje é
muito pior. É ridículo.
Não é um pouco de romantismo da sua parte achar que um mercado tão grande não vai se comportar como qualquer mercado?
Não, não. Minha visão é realista e atual. Eu vivo isso, eu sei o que eu
tô falando. Hoje nós temos 20 grandes contratantes no Brasil, e eles tem
aquele menu não muito extenso de artistas que vão fazer as festas mais
importantes do país. E tem cara que não sabe aproveitar, agradecer por
fazer parte desse grupo seleto, sendo que a gente tem milhões de
artistas querendo esses lugares. Cara não aproveita, prefere ficar
gastando tempo bolando uma forma de te derrubar.
Toda a situação que você descreveu já te fez pensar em parar em algum momento?
Sim, várias vezes. Já pensei em parar, sumir, ir pra roça e ficar lá. Eu
não trabalho pra viver isso, eu não sou obrigado a passar por isso,
viver essas situações. O que nos mantém é que há sim relações de amizade
muito firmes, pessoas que você quer muito bem e você sabe que é
recíproco. Mas no geral, fazemos parte de um meio muito podre.
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