Antônio
Lima (seta vermelha) ao lado da esposa em inauguração da Farmácia
Popular - Pç José Prado Alves Ourolândia, 1992 - Arquivo:
memoriadeouro/crédito: Sandro Oliveira
Para
alívio da família do agricultor, Espedito Isaías Cavalcante, o
ex-delegado auxiliar de Ourolândia, Antonio da Silva Lima, de 54 anos, o
Antonio Lima, foi transferido, no último dia 05, da carceragem do
Complexo Policial de Jacobina para o Centro de Observação Penal (COP),
na Mata Escura, em Salvador. Por ter executado o lavrador, em 19 de
novembro de 2000, o ex-delegado fora condenado, por unanimidade, a 17
anos de prisão em regime fechado, em 24 de julho deste ano.
*Por Ricardo Almeida
Quase 12 anos depois, finalmente, o ex-delegado
auxiliar de Ourolândia, Antonio da Silva Lima, o Antonio Lima, será julgado por
homicídio, duplamente, qualificado, ou seja, sem chance de defesa da vítima e
por motivo torpe contra o agricultor, Espedito Isaías Cavalcante, de 36 anos. O
júri popular ocorre nesta terça-feira, dia 24, às 08h30, no Fórum Jorge Calmon,
no centro de Jacobina. Com isso, o acusado poderá pegar de 12 a 30 anos de
prisão, conforme o artigo 121, do Código Penal. Ele reinou, em Ourolândia, de
89 a 2001.
O assassino está preso desde maio de 2008 no
presídio de segurança máxima de Serrinha. Na ocasião, o réu foi flagrado por
porte ilegal e tráfico de armas numa blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF),
na região de Feira de Santana. Na época, o ex-delegado já tinha contra ele dois
mandados de prisão preventiva em aberto pela Comarca de Jacobina, justamente,
pela execução do agricultor Espedito Cavalcante cujo crime brutal aconteceu, em
19 de novembro de 2000 e por torturar familiares da referida vítima, em 1º de
março de 2001. Além disso, pesa contra o imputado o crime de formação de
quadrilha. Costumava assumir sozinho os crimes na certeza da
impunidade.
Por isso, caso seja, de fato, condenado pelo júri
popular na próxima terça-feira, Antonio Lima poderá ser apenado ainda de quatro
a oito anos por porte ilegal, de acordo com o artigo 17, da Lei Nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003, de quatro a dez anos por tortura, agravada por ser
então agente público e de um a três anos, podendo dobrar por formação de
quadrilha. Expulso da Polícia Civil de Jacobina por determinação da Justiça a
pedido do Ministério Público (MP), em abril de 2001, o outrora fora da lei
passou a viver foragido, sobretudo, na região de Jacobina, Juazeiro, Capim
Grosso e Feira de Santana.
O detalhe cruel, segundo o relato de moradores na
região de Ourolândia, ouvidos na época, do assassinato do agricultor Espedito
Cavalcante, o então delegado auxiliar costumava matar pessoas humildes e
inocentes e depois ele mesmo avisava a família. No caso do agricultor, o
acusado abordou o trabalhador na Praça da Rodoviária, no centro, por volta das
15h, sob a acusação de porte de arma. Na oportunidade, o mesmo rendeu a vítima
em plena praça pública, passando a espancá-la, violentamente, sobretudo, na
altura do rosto. A meta dele era eliminar os “pernambucanos”, numa alusão a
naturalidade da família da vítima. Tudo começou quando o então delegado flagrou
o agricultor portando uma espingarda de socar na zona rural. A partir a rixa
acirrou-se.
No fundo, o algoz permaneceu judiando daquele
cidadão algemado e, portanto, indefeso durante cerca de 05h, “passeando” e
tomando cerveja com o seu comparsa no bairro da Barragem e no Distrito de Lages
do Batata. Enquanto, o agricultor agonizava dentro da viatura gol. Comenta-se
que em Lages do Batata, o trabalhador rural fora visto todo ensanguentado por
uma senhora que o reconheceu, que, inclusive pediu em sua ingenuidade que ele
fugisse, porém, ele apenas respondeu-lhe que estava somente esperando a hora da
sua morte, o que, de fato, acabou acontecendo, por volta das 19h, na altura da
Serra do Tombador. Em vida, a vítima fez um texto antevendo a morte. A suspeita
de porte de arma era falsa. Na realidade, era um "cabrito", isto é,
fora plantada pela dupla de assassinos.
Naquele trecho da Rodovia 368, Antonio Lima deu o
tiro de misericórdia na cabeça, com uma pistola 380. Na sequência, conduziu o
corpo até o hospital Antonio Teixeira Sobrinho, deixando-a na pedra e depois
mandou comunicar à família que aquela altura encontrava-se desesperada em busca
do seu parente. No reconhecimento do corpo no necrotério, familiares ouviram do
médico legista Dr. Carlos Santana que trata-se de uma mais execução cometida
pelo então delegado de Ourolândia. Outro pormenor intrigante é que o acusado
era conhecido como “matador” naquela região, mas, não respondia a nenhum crime
doloso ou não. Alegava sempre resistência à prisão.
Na verdade, o ex-delegado não contava com a coragem
da família do agricultor e, com isso, imaginava que ficaria mais uma vez
impune, graças à conivência de seus superiores, entre eles, a então
delegada-titular, Aída Ferreira, depois transferida para Mutuípe, que, também
responde pela tortura e invasão de casas da mesma vítima no Sítio São Bento,
distante 3 km da cidade no dia 01 de março de 2001. Na prática, no dia 27 de
fevereiro, um comparsa do bando do delegado de alcunha Leão fora assassinado na
Rodovia 368, no trecho conhecido como “Corte Grande”, próximo a Lages do
Batata. Detalhe: nenhum Boletim de Ocorrência (BO) foi lavrado. Há indícios de
que o próprio Antonio Lima matou o cúmplice para não pagar uma dívida.
De imediato, sem nenhum critério legal, o acusado
reuniu policiais civis e comparsas, calcula-se que eram mais de 20 homens e
torturaram e prenderam parentes do agricultor morto durante um dia inteiro.
Além disso, o fora da lei-mor, apropriou-se de mais de R$ 4,5 mil reais dos
familiares e de documentos pessoais. Enfim, barbarizaram aquela família.
Contudo, mesmo massacrada não temeu a ação criminosa do bando liderado pelo
então delegado Antonio Lima e a titular Aída Ferreira. No fundo, a prole
denunciou as atrocidades a Promotoria Pública.
Na ocasião, o caso também chegou ao conhecimento do
senador, Eduardo Suplicy (PT-SP), que, de pronto, cobrou providências a
Procuradoria-geral de Justiça do Estado da Bahia. Na época, louve-se o trabalho
dos promotores Dr. Luiz Alberto Lima Figueiredo, Dr. Luciano Pita Santos e do
Dr. José Jorge Meireles de Freitas. O fato é que mesmo estando diante de um
bandido da mais alta periculosidade, o grupo de promotores não intimidou-se e,
com isso, ofereceu denúncia a Justiça, que, por sua vez, acatou.
Agora, a família e o cidadão de bem, em geral,
esperam, ansiosamente, que a justiça dos homens seja feita na próxima
terça-feira. Fonte: minuto chapada
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