Não raro a cena da manhã da última segunda-feira se repete em Salvador. A TARDE percorreu 30 quilômetros, da Avenida Tancredo Neves ao Centro, e flagrou 18 motoristas que reproduziram esta infração, prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Os números da Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador) confirmam o diagnóstico do A TARDE. De janeiro a setembro deste ano, 17.495 pessoas foram multadas por dirigir falando ao celular - média de 1.943 casos a cada mês, 64 a cada 24 horas. Se seguir esta tendência, a quantidade de casos ao final do ano deve ser ainda maior que em 2011, quando foram catalogados 21.162 registros, 1.763 a cada mês, 58 por dia.
Sanção - A sanção para os motoristas flagrados descumprindo a norma é a perda de quatro pontos na carteira nacional de habilitação (CNH) e multa de R$ 85,13. O prejuízo pode ser ainda maior. A Câmara dos Deputados, em Brasília, analisa o Projeto de Lei (PL) 7.471/10, que muda a classificação da infração cometida pelo motorista que dirige falando ao celular de "média" para "gravíssima". Caso a alteração seja aprovada, o motorista multado terá que desembolsar R$ 191,54.
Autor do projeto, o ex-deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT) avalia que a mistura de direção e manipulação de aparelhos celulares coloca em risco não só o próprio motorista, mas também pedestres e pessoas que estão em outros veículos.
Relator - O projeto está sendo analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões de Viação e Transportes, de Constituição e Justiça e de Cidadania. O atual relator do projeto, Edinho Bez de Oliveira (PMDB-SC), deve se manifestar a favor da proposta, segundo a assessoria de comunicação do parlamentar. Para a especialista em trânsito Cristina Aragon, a solução está no aumento da fiscalização dos motoristas. "Sem repressão, a quantidade de mortes em acidentes cresce", ela aponta.
A estudante Paloma Sena não sabia do PL discutido pelos deputados: "Apesar de eu ter cometido este erro, acho que é certo punir quem pratica a infração. O problema é que ninguém leva em consideração o trânsito caótico de Salvador. Às vezes, é preciso resolver coisas por telefone no caminho mesmo".
O comerciário Paulo Gomes Soares, 24, não teve tanta sorte de sair ileso. Bateu o carro e teve ferimentos leves após distrair-se falando com a namorada ao telefone. "Não sei ao certo como aconteceu. Só me lembro que quando me dei conta já estava com uma despesa de R$ 2 mil para pagar pela imprudência que cometi", lamenta. Depois do susto, ele agora prefere só usar o aparelho quando chega ao destino: "Errei, quebrei a cara e agora aprendi".
O superintendente da Transalvador, Renato Araújo, foi procurado para falar sobre o assunto anteontem e ontem. Até o fechamento desta edição, não foi encontrado nem deu retorno às ligações telefônicas.ATARDE
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