S.F. do Conde: dois militares estão entre os que torturaram "suspeito"

No dia 23 de novembro do ano passado, uma sexta-feira de festa em São Francisco do Conde, Mesaque dos Santos Celestino, de 30 anos, não sabia que estava sobe a mira de seus algozes. Sua vida seria interrompida naquela noite, mas antes de morrer, ele passaria por uma seção de tortura, antes praticada na época medieval. Entre os acusados de cometer o crime hediondo, estão um sargento e um soldado da Polícia Militar.

Mesaque era procurado por quatro seguranças do vereador Sandro Valença da Silva (PHS), que o acusavam de ter roubado um aparelho de som, com caixas e tuitas. Um conjunto com objetos grandes, aparentemente pesados. A depender do porte físico de quem o roubou, poderia ser necessário o uso de um suporte para locomover as peças. O aparelho estava dentro do comitê de campanha do edil, no centro da cidade.  

Os “justiceiros” de Sandro capturaram o suspeito e depois de seis dias o corpo foi encontrado em uma localidade conhecida como Engenhari, na cidade de São Sebastião do Passé. A identificação só foi possível através do exame de DNA.

De acordo com a polícia, Mesaque era envolvido em vários casos de furto na região. Segundo parentes, apesar da má referencia ele trabalhava e tinha muitos amigos no município. “Ele sempre foi um bom rapaz, apesar do vício, não me lembro de saber sobre brigas ou qualquer outro tipo de violência que ele teria cometido contra alguém”, disse a tia, irmã da mãe de Mesaque, Isabel Barreto.

O dia do crime
Sem saber que estava na condição de caça, Mesaque atendia algumas clientes que se arrumavam para uma seresta. Em outro ponto da cidade, quatro homens o procuravam. Márcio Vitor Moreira dos Anjos, o “Bidu”, 23 anos, um homem identificado apenas como Deni e outros dois não identificados. Segundo fontes ligadas ao Bocão News, entre os seguranças estavam um sargento e um soldado da Polícia Militar.

Eles tentavam descobrir onde encontrar Mesaque. “Soube que chegaram até a oferecer dinheiro para que algumas pessoas dissessem onde era a casa dele. Isso porque Bidu, de Feira de Santana e Deni, que viveu muito tempo no Rio de Janeiro, não tinha certeza de quem era meu sobrinho”, comentou Isabel.

Mas a busca não foi demorada. Por volta das 22h os seguranças do vereador Sandro  encontraram o “suspeito”. Ele foi obrigado a entrar em um carro vermelho e desapareceu.

Depois deste dia ninguém sabia informar seu paradeiro. “Mesaque era casado, tinha três filhas pequenas, e o costume de sempre visitar a mãe. No início não sabíamos que ele teria sido sequestrado, a mulher achou que ele estava na casa da mãe, e a mãe achando que tudo estava bem na casa do filho que não a visitava nos últimos dias. Até que soubemos o que tinha acontecido e registramos uma queixa na delegacia’’, relatou Isabel. Uma queixa de sequestro foi registrada na delegacia em São Francisco do Conde no dia 24 daquele mês e o caso foi investigado.

Justiça
O caso foi apurado pelo delegado Bruno Oliveira, titular da 21ª delegacia. Segundo o delegado, provas indicaram que Sandro Valença, preso na terça-feira (5), seria o mandante da morte de Mesaque. Bidu, Deni e outros dois homens teriam sequestrado e torturado a vítima, cujo corpo foi encontrado carbonizado no dia 29 de novembro, em São Sebastião do Passé.



"Bidu"

vereador Sandro Valença da Silva (PHS)

 
Suspeito de ordenar o crime, o vereador já está à disposição da Justiça Criminal, na sede da Polinter, no Complexo Policial dos Barris, em Salvador, enquanto o segurança está na delegacia de São Francisco do Conde. O Sargento e o soldado também foram reconhecidos e detidos. Apenas Deni está foragido.

A injustiça dos homens
Julgado e condenado pela lei de seus algozes, Mesaque não teve direito a defesa. Quando capturado pelos seguranças do vereador, ele foi torturado com requinte de crueldade e sob métodos inacreditáveis.

A tia de Mesaque que tentou com outros parentes reconhecer o corpo assegurou que era impossível. “Tivemos que aguardar ansiosamente e orando para que não fosse ele. Mas, depois do exame de DNA a pior resposta estava diante da família”, o fragmento humano era o seu sobrinho.

Segundo laudo apresentado pela polícia, o jovem teve o ânus perfurado por um pedaço de madeira, que poderia ser um cabo de vassoura. Método de tortura comum durante a idade média. As unhas dos pés foram arrancadas assim como os dedos. As mãos foram amputadas, os olhos perfurados além de cortes profundos na garganta que quase decepou a cabeça. Mas para os criminosos a dor e humilhação de Mesaque não eram suficientes. As costas do jovem que eles acusavam de roubo foi aberta com um corte vertical e grampeada com uma espécie de grampeador industrial.

Para por fim ao corpo do homem que eles penalizaram pelo crime, foram empilhados pneus e o colocaram dentro para em seguida atear fogo.  Este método é conhecido como micro-ondas. E por algum motivo, talvez por resistência em manter-se vivo, Mesaque teve seu crânio perfurado por quatro tiros.

“Eles fizeram o que chamam de justiça com as próprias mãos”, finalizou a tia de Mesaque, que tenta explicar para as filhas do rapaz que ele não voltará para casa.BocãoNews

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