Ao todo, dos dez bairros com maior índice de infestação, seis são nobres, de acordo com dados do Levantamento de Índices Rápidos para Aedes aegypti (LIRAa), que analisou amostras de cerca de 50 mil imóveis em toda a cidade, entre os dias 20 e 25 de março.
Água se acumula em piscina de casa na Alameda da Algaroba, no Caminho das Árvores. Ideal para o Aedes
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No caso de Stella Maris e do Caminho das Árvores (quarto da lista), a infestação está relacionada aos imóveis fechados com piscinas abandonadas, segundo a coordenadora do programa de Controle da Dengue da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Isabel Guimarães.
“Em geral, são residências tipo casas, que ficam fechadas. Alguns imóveis estão fechados para aluguel ou venda, mas outros estão abandonados mesmo. Tem casas de alto padrão, embora não estejam bem conservadas”, diz Isabel. Ainda assim, o mosquito não gosta só de piscina - eles também costumam ser atraídos por vasilhames e plantas que acumulem água.
O problema é que o Aedes aegypti é camaleônico e se adapta fácil. Em cada bairro, ele - que, na realidade, é “ela”, a fêmea - encontra um local com água parada para se reproduzir. “Em cada área da cidade há criadouros diferentes. Às vezes, dentro do próprio bairro, existem realidades diferentes”.
Embora a chance de infestação seja maior em andares baixos, por conta da proximidade com o solo, o mosquito pode pegar carona para chegar alto. “Ele não tem um raio de voo muito longo, mas pode ir no elevador”, explica Isabel.
Portanto, ainda que você more na cobertura do 23º andar, não estará totalmente seguro. “Em geral, eles alcançam o primeiro e o segundo andar. Dificilmente chegarão na cobertura, mas é como as muriçocas, que às vezes fazem essa arte”.
“Stella normalmente tem um índice grande, mas no ano passado não foi tanto assim. De uma forma geral, em todos os bairros, as condições climáticas ajudaram a puxar o índice, já que tivemos um Verão muito chuvoso”, explica Isabel.
stella maris Logo na entrada da Rua Fia Luna, em Stella Maris, a equipe do CORREIO encontrou uma casa cuja água da piscina já estava em um tom verde escuro. Uma moradora da mesma rua disse que o imóvel fica fechado na maior parte do tempo. “A situação da piscina é precária. O dono da casa só costuma vir aos domingos”, contou.
E a piscina deve ser motivo de preocupação mesmo, já que, apesar de o mosquito preferir a água cristalina, isso não quer diz que ele se importe com a sujeira. “Eles depositam preferencialmente na água limpa, mas também é possível encontrar larvas em um tanque que ninguém limpa, por exemplo”, explica Isabel.
Outro problema de Stella Maris, segundo a coordenadora, é o grande número de empreendimentos em construção. “É fácil existir reservatório, porque existem muitas obras”, diz.
Outros luxos
No caso de Ondina, que fica com a terceira posição, com 16% dos imóveis analisados apresentando larvas do mosquito, o Aedes não só gosta de luxo, como também de ares acadêmicos. De acordo com Isabel Guimarães, é fácil encontrar focos de larvas nos campi da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
“Temos muitas áreas verdes, como na universidade. Se os lugares sorteados pela amostra coincidirem de ser todos nesses pontos, o índice acaba sendo alto, mesmo que não tenha imóveis fechados ou muitas construções por lá”.
A Ufba informou que mantém um programa de combate à dengue desde o ano passado, com ações preventivas que incluem a poda da vegetação e a eliminação de locais que acumulem água.
No Caminho das Árvores, o quarto maior índice de infestação, agentes de endemia da SMS entraram em 12 casas fechadas na terça e quarta-feira. Dessas, oito tinham larvas de dengue. “Isso é uma demonstração do quanto esses imóveis fechados são perigosos”, alerta a coordenadora.
Por isso, quem mora na Alameda das Algarobas fica apreensivo. Só lá, há três imóveis fechados, um ao lado do outro. Segundo moradores, uma casa está fechada há pelo menos um ano e tem uma piscina cuja água ficou completamente escura, pela falta de manutenção. O administrador de um prédio vizinho, que não quis se identificar, disse que a prefeitura chegou a limpar a sujeira - mas com a chuva dos últimos dias, a piscina voltou a acumular chuva.
Era bem nessa rua que a estudante de Direito Bruna Gomes de Oliveira Muniz, de 24 anos, morava, de acordo com pessoas que trabalham por lá. Bruna, que morreu no dia 27 de março, foi a primeira vítima fatal da dengue em Salvador. “Se você for nessas casas fechadas para alugar, o que mais tem é mosquito. Você tem que ter cuidado para ele não picar”, contou o encanador Américo da Palma Silva, 52.
Ali próximo, na Rua Timbó, o casarão abandonado número 198 não é cenário de filme de terror, mas também assusta moradores e quem tem que andar por ali. O telhado desabou e o mato invadiu a calçada, coberta por sacos plásticos, garrafas e copos descartáveis cheios de água da chuva.
“Trabalho aqui há um ano e meio e nunca vi ninguém. Vários casarões estão nessa situação”, comentou o consultor de vendas Lucas Formigli. Na loja de móveis onde ele trabalha, que fica vizinha à tal casa, uma das funcionárias está afastada, com suspeita de dengue.
Média
O índice de infestação por bairros não coincide com os números por distrito sanitário. Para começar, o primeiro lugar entre os distritos é o Cabula/Beiru, que tem 4,5% de infestação. Stella Maris, com seus 20%, faz parte do distrito de Itapuã - que tem o menor índice, com 1,8%.
“Esse resultado é a média de todos os bairros. Mesmo que algumas áreas tenham índices muito elevados, outras tiveram números muito baixos”, explicou Isabel. Pelo levantamento dos distritos, o segundo com maior infestação é o da Boca do Rio, com 4,1%. A partir dos resultados, a SMS tem organizado mutirões de limpeza, em parceria com a Limpurb, e abrindo imóveis fechados, segundo o órgão. Colaboraram Victor Lahiri, Edvan Lessa e Clarissa Pacheco.
Cenários assim ajudam a colocar Stella Maris no topo da infestação (Amanda Dultra)
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Na periferia, focos ficam em tonéis e tanques
Sem o mesmo luxo, a realidade dos mosquitos Aedes aegypti que tiram o sossego dos moradores de bairros periféricos é um pouco diferente. Cajazeiras, Sussuarana e Tancredo Neves marcam presença no ranking dos maiores índices de infestação de dengue, mas não é devido a piscinas abandonadas. “Eles são elevados por conta da intermitência da água, que é uma coisa que foge do nosso controle”, diz a coordenadora do programa municipal de Controle de Dengue, Isabel Guimarães. “Com os problemas de abastecimento, as pessoas armazenam água sem o devido cuidado. É comum que deixem recipientes de água sem tampa, por exemplo”. Por isso, os criatórios de larvas mais comuns por lá são tanques e tonéis.
A assessoria da Embasa, responsável pelo fornecimento de água, não foi localizada. Já o segundo colocado, o Centro Administrativo da Bahia (CAB), ganhou o posto graças à área verde que o cerca. “É uma área muito extensa, que tem vários edifícios. Ainda que os prédios não sejam residenciais, é comum encontrar focos por ali”, explica Isabel. Daí, mesmo que você esteja a 100 metros de distância das áreas verdes do CAB, pode ter motivos para se preocupar, segundo a infectologista Ledívia Espinheira, diretora da rede de gestão da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).
“A área de cobertura do mosquito não é muito grande, mas é preciso que todo mundo se envolva. É preciso ficar atento a situações que passam despercebidas”. Para ela, os números este ano mostram que a dengue não está controlada. “A gente pensa que é uma doença simples, mas não é”. Até março, foram registrados 3.830 casos de dengue na Bahia, segundo a Sesab. Em Salvador, o número de notificações chegou a 1.335, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Desse total, 273 foram confirmados.
Agentes da Secretaria da Saúde buscam focos em casas abandonadas (Foto: Divulgação/SMS)
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Novo vírus deixa Brasil em alerta antes da Copa do Mundo
O Aedes aegypti - trasmissor da dengue e da febre amarela - pode disseminar mais uma doença no país: a febre chikungunya. Segundo uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz, divulgada esta semana, os mosquitos brasileiros têm grande capacidade de propagar a doença, que já está presente em 40 países e chegou recentemente ao Caribe.
Com a vinda de turistas ao Brasil, por conta da Copa do Mundo, os pesquisadores temem que a nova variação se alastre por aqui. Se um Aedes aegypti brasileiro picar alguém que tem a doença, o mosquito pode transmitir para outras pessoas. “Se o surto da chikungunya não se extinguir rapidamente no Caribe, a chance de chegar ao Brasil é alta. O mosquito nasce sem vírus. Mas se ele está infectado, foi porque ele picou alguém que estava”, explica o infectologista Antonio Carlos Bandeira, coordenador do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Aliança.
Os sintomas da nova doença, que é comum na Ásia e na África, são semelhantes aos da dengue, segundo a infectologista Ledívia Espinheira. “Tem dor de cabeça e no corpo, febre. Mas como a ocorrência da febre é mais rara, a mortalidade pode ser maior que a dengue”, alerta. Para o tratamento, a pessoa deve se hidratar bastante e usar medicamentos contra dor.Correio da Bahia
O Aedes aegypti - trasmissor da dengue e da febre amarela - pode disseminar mais uma doença no país: a febre chikungunya. Segundo uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz, divulgada esta semana, os mosquitos brasileiros têm grande capacidade de propagar a doença, que já está presente em 40 países e chegou recentemente ao Caribe.
Com a vinda de turistas ao Brasil, por conta da Copa do Mundo, os pesquisadores temem que a nova variação se alastre por aqui. Se um Aedes aegypti brasileiro picar alguém que tem a doença, o mosquito pode transmitir para outras pessoas. “Se o surto da chikungunya não se extinguir rapidamente no Caribe, a chance de chegar ao Brasil é alta. O mosquito nasce sem vírus. Mas se ele está infectado, foi porque ele picou alguém que estava”, explica o infectologista Antonio Carlos Bandeira, coordenador do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Aliança.
Os sintomas da nova doença, que é comum na Ásia e na África, são semelhantes aos da dengue, segundo a infectologista Ledívia Espinheira. “Tem dor de cabeça e no corpo, febre. Mas como a ocorrência da febre é mais rara, a mortalidade pode ser maior que a dengue”, alerta. Para o tratamento, a pessoa deve se hidratar bastante e usar medicamentos contra dor.Correio da Bahia
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