Milicianos que dominam a localidade Jesuítas, em Santa Cruz, na Zona
Oeste, estão expulsando moradores do condomínio Aterrado do Leme 2, do
programa federal “Minha Casa, Minha Vida”, e distribuindo os
apartamentos a comparsas. Há duas semanas, uma família que morava no
conjunto há três anos denunciou à Delegacia de Repressão às Ações
Criminosas Organizadas (Draco) que foi expulsa por homens armados em
agosto do ano passado.
O casal e seus dois filhos — o mais novo
sequer completou um ano — estão morando na casa de parentes e desejam
entrar com um pedido na prefeitura para serem realocados em outro
imóvel. Eles contaram à polícia que precisaram deixar o apartamento por
alguns meses, no fim de 2016, por causa do tratamento médico de um dos
filhos. Quando voltaram, encontraram o imóvel ocupado por outra família.
Eles questionaram os novos moradores e perceberam a movimentação de
homens armados no estacionamento.
Um destes homens perguntou ao
casal o que estava acontecendo. Após ouvir a explicação, ele afirmou
que, antes de a família poder reocupar o imóvel, a que estava morando
ali precisaria ser alocada. Quando o casal disse que o apartamento era
deles, ouviu do interlocutor que os novos moradores estavam ali por
ordem do “Quartel General”. E explicou: ele se referia à Favela do Aço,
em Paciência, onde se escondem os chefes da maior milícia do Rio.
Segundo
a Draco, quem controla a região é Danilo Dias Lima. Ele foi nomeado por
Toni Ângelo, chefão da milícia, que está preso. Com a captura de outros
líderes do grupo, Danilo ganhou prestígio. Atualmente, expandiu seu
domínios para a Baixada Fluminense.
Mais cinco unidades invadidas
A
família foi informada por outros moradores que pelo menos outros cinco
apartamentos que estavam vazios foram invadidos e ocupados por comparsas
de milicianos que dominam a região. Após esse dia, em agosto do ano
passado, a família nunca mais voltou ao conjunto.
O casal também
contou aos policiais que, antes de eles serem expulsos, a milícia já
havia estabelecido uma taxa de R$ 40 por apartamento para a instalação
de ‘‘gatonet’’. Os paramilitares também lucram com uma mesada cobrada de
cada pessoa que deseje explorar qualquer atividade comercial dentro do
condomínio, como bares, mercearias e lojas que fazem parte do projeto
original do conjunto habitacional.
O Aterrado do Leme 2 já foi
alvo de uma investigação da Draco. Em janeiro do ano passado, agentes da
especializada prenderam o então síndico do condomínio. De acordo com a
Draco, a partir do momento em que Alexsandro Morais da Silva, o
Cabeludo, assumiu a gestão do conjunto, em 2015, ele impôs aos moradores
o pagamento de taxas estabelecidas pelos milicianos.
Antes da
prisão, o EXTRA já havia revelado, na série de reportagens “Minha casa,
minha sina”, no início de 2015, que milicianos expulsavam moradores que
fumavam maconha dentro deste mesmo condomínio de Santa Cruz.
Série de reportagens denunciou expulsões
Em março de 2015, o EXTRA revelou, durante a série “Minha casa, minha sina”,
que todos os condomínios do “Minha Casa, Minha Vida” destinados aos
beneficiários mais pobres — a faixa 1 de financiamento — no município do
Rio eram alvo da ação de grupos criminosos. Na ocasião, as reportagens
revelaram que 18.834 famílias estavam submetidas a expulsões, reuniões
de condomínio feitas por bandidos, bocas de fumo em apartamentos,
espancamentos e homicídios.
Após a publicação da série, o governo
federal mudou a lei que rege o programa, possibilitando que moradores
expulsos por criminosos possam receber novos imóveis.
0 Comentários