O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse nesta terça-feira (27)
que um helicóptero da polícia científica atacou a Suprema Corte em
Caracas. Segundo ele, algumas granadas foram lançadas contra o prédio, e
depois o helicóptero sobrevoou o prédio do Ministério do Interior.
O presidente de 54 anos, que enfrenta há três meses protestos da
oposição e alguma dissidência dentro do governo, disse que as forças
especiais venezuelanas estão buscando os que estão por trás do "ataque
terrorista armado".
"Havia no TSJ uma atividade social, isto poderia ter causado uma
tragédia. Atiraram contra o TSJ e depois sobrevoaram o Ministério de
Interior e Justiça. Este é o tipo de escalada armada que venho
denunciando", disse Maduro, acrescentando que uma das granadas não
explodiu.
Maduro também disse que ativou as Forças Armadas "para defender o
direito à tranquilidade". "A Força Armada toda foi acionada para
defender a tranquilidade. Mais cedo ou mais tarde vamos capturar o
helicóptero e os que realizaram este ataque terrorista", assinalou o
presidente durante um ato por ocasião do Dia do Jornalista, no Palácio
Presidencial de Miraflores.
O vídeo abaixo mostra o ataque do helicóptero: Nas redes sociais, muitos usuários compartilham a foto do helicóptero
exibindo uma faixa com os dizeres "350 Libertad", em referência ao
artigo constitucional que permite ignorar os governos que não respeitam
as garantias democráticas. Nas imagens é possível observar duas pessoas
no helicóptero, sendo uma com o rosto coberto.
O artigo 350 da Constituição venezuelana diz que: "O povo da Venezuela,
fiel à sua tradição republicana, à sua luta pela independência, a paz e
a liberdade, desconhecerá qualquer regime, legislação ou autoridade que
contrarie os valores, princípios e garantias democráticas ou mine os
direitos humanos".
O presidente informou que a aeronave era conduzida por um homem que foi
piloto do seu ex-ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez
Torres, general reformado que se distanciou do governo e que Maduro
acusa de envolvimento em um plano para derrubá-lo.
Segundo o jornal "El Universal", o piloto é Óscar Pérez, investigador
do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (Cicpc).
Em sua conta no Instagram, Pérez publicou vários vídeos em que se
identifica como membro de "uma coalizão entre funcionários militares,
policiais e civis, em busca do equilíbrio e contra o governo transitório
e criminoso".
"Não pertencemos nem temos tendência político-partidária; somos
nacionalistas, patriotas e institucionalistas. Este combate não é com o
resto das forças de segurança do Estado, é com a impunidade imposta, e
contra o governo nefasto", diz Pérez em um dos vídeos. "Contra a
tirania, da morte de inocentes que lutam por seus direitos, contra a
fome, contra a falta de saúde, contra o fanatismo", acrescenta.
A Venezuela vive uma onda de manifestações contrárias e favoráveis ao
governo de Maduro. Segundo dados do Ministério Público da Venezuela, 76
pessoas morreram e mais de 1.500 ficaram feridas nos protestos.
Ataque no Parlamento
Pouco antes nesta terça, o presidente da Assembleia Nacional da
Venezuela, Julio Borges, afirmou que grupos civis armados atacaram a
sede do Legislativo após um confronto entre alguns deputados e agentes
da Guarda Nacional Bolivariana (GNB). O enfrentamento, que ocorreu
dentro da Assembleia, deixou duas mulheres feridas, disse Borges a
jornalistas.
"Diferentes deputados e funcionários da Assembleia viram efetivos da
Guarda Nacional entrando com algumas caixas do Conselho Nacional
Eleitoral (CNE). Lá ocorreu um confronto entre eles e os deputados",
afirmou Borges.
A sessão da Assembleia Nacional foi interrompida, e Borges foi
conversar com o coronel responsável pela segurança do parlamento para
resolver o conflito de forma imediata. Foi quando os grupos civis,
segundo o deputado, atacaram a sede do Legislativo.
O líder da oposição indicou que os deputados abordaram os agentes da
GNB para saber o que estava ocorrendo, já que é irregular guardar
conteúdos do Poder Eleitoral no Legislativo. Eles não deixaram que os
parlamentares tivessem acesso ao conteúdo das caixas, o que deu início
ao confronto.
Os civis lançaram rojões e outros artefatos dentro do parlamento, como
mostram vídeos publicados nas redes sociais. Além disso, parte da
fachada do prédio foi danificada e os manifestantes ameaçam entrar
"violentamente" no prédio.
Deputados trancados
Os deputados e os funcionários da Assembleia Nacional permanecem
trancados dentro do local, disse à Agência Efe a chefe de imprensa do
parlamento, Alicia de La Rosa.
No Twitter, a Assembleia Nacional afirmou que entre os feridos está a
deputada opositora Delsa Solórzano e vários profissionais da imprensa.
Segundo o órgão, os jornalistas foram agredidos por agentes da GNB.
"Isso que ocorreu hoje se chama Nicolás Maduro, o mesmo Nicolás Maduro
que disse hoje que se os votos não servirem, a violência servirá, que se
os votos não servirem, as balas servirão", afirmou o presidente da
Assembleia Nacional. "O que ocorreu hoje nos dá mais força para
continuar lutando por um país democrático e livre", completou Borges.
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