Filha do bicheiro Maninho foi seguida antes de ser baleada; polícia investiga tentativa de homicídio

Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, foi baleada, na manhã desta terça-feira, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Ela foi atingida por pelo menos dois tiros quando estava perto de um centro comercial na Avenida das Américas. A principal linha de investigação da polícia é que tenha sido uma tentativa de homicídio.
A polícia já sabe que o carro usado no crime foi um Fiat Argo branco, que foi clonado . A dona do veículo prestou depoimento na 16ª DP ( Barra) e já havia registrado queixa disto na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Além disto, o atirador estava no banco do carona usava luva preta.
— Ela está operando neste momento, mas irei ouvi-la assim que possível. Não vamos descartar nenhuma hipótese, mas a linha principal é de tentativa de homicídio. O carro segue ela até o estacionamento do shopping, dá ré e se posiciona em sentido de fuga. Quando ela deixa o carro, o carona abaixa o vidro e atira pelo menos três vezes. Ela teve sagacidade ao voltar rapidamente para o carro e se proteger — contou a delegada Adriana Belém.
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Segundo Belém, depois de fugirem, os criminosos deram a volta e pararam na Avenida das Americas do outro lado onde permaneceram um tempo parados antes de seguirem viagem.
Imagens da CET-RIO e das câmaras de segurança revelaram que Shanna foi seguida até o shopping por um carro Sedan branco. De acordo com relatos, ela ia todas as semanas no mesmo horário a um salão de beleza que funciona no local. Ao sair do carro , o motorista do Sedan deu uma pequena ré abriu uma parte do vidro e disparou. Pelo menos três disparos foram feitos contra Shanna, mas a polícia não encontrou nenhuma das cápsulas deflagradas no local do crime. Mesmo ferida, ela conseguiu voltar para o seu BMW , que é blindado e assim sobreviveu. A delegada Adriana Belém que investiga o crime informou que a placa capturada pelas câmaras não pertence ao veículo, que foi adulterado.
O ex-marido de Shanna, Rafael Alves, afirma que ela foi alvo de uma tentativa de assalto. As polícias Civil e Militar, no entanto, não confirmam essa versão. A Secretaria municipal de Saúde informou que Shanna está em estado estável.
— Ela estava saindo do salão quando sofreu uma tentativa de assalto. Passou um cara numa moto e acabou atirando. Ela foi ferida no braço e de raspão no peito. Ela está lúcida e fazendo exames — disse Rafael Alves, ex-marido de Shanna, que está com ela no hospital.
O caso está sendo investigado pela 16ª DP (Barra da Tijuca). A delegada titular da unidade, Adriana Belém, chegou ao local do crime no fim da manhã.

Duas cirurgias

Shanna foi submetida a uma cirurgia no antebraço para religamento de artérias e outra operação para colocação de uma placa ortopédica. Ela deverá ser transferida ainda nesta terça-feira para um hospital particular. Uma das balas ficou alojada na região lateral do tórax da vítima. Mas, segundo seus acompanhantes, esse ferimento é superficial.
O crime contra Shanna ocorre no momento em que o Grupo Especial de Atuação no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MP-RJ) reabre as investigações sobre assassinatos no Grande Rio atribuídos à contravenção. Um dos casos no radar dos promotores é a morte de Myro Garcia, irmão de Shanna, em abril do ano passado.
A lista de crimes que ficaram impunes chega a duas dezenas de vítimas, entre as quais Marcos Vieira Souza, o Marcos Falcon, então presidente da Portela, e Geraldo Antonio Pereira, o Pereira, chefe de uma milícia de Jacarepaguá, ambos assassinados em 2016. Provas colhidas recentemente, no âmbito da investigação do Caso Marielle, lançaram luz sobre alguns destes crimes.
Shanna perdeu o pai e um irmão de maneira violenta. Maninho foi morto em 2004, durante uma emboscada, em Jacarepaguá, também na Zona Oeste. Já Myro Garcia, o Myrinho, de 27 anos, foi morto a tiros em 2017, na Barra. A investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) concluiu, à época, que ele foi sequestrado, sofreu uma extorsão e assassinado em seguida.
O depoimento de uma testemunha, porém, indicou que Myro pode ter sido executado em mais um capítulo da sangrenta guerra da contravenção. Pedro Arthur Oliveira Marques, amigo de Myrinho, que estava com ele no dia da execução, revelou em audiência na Justiça, em setembro do ano passado, que um dos três homens acusados do assassinato contou a ele que o grupo foi contratado para assassinar o rapaz.
Acusação de venda de bens
Após a morte de Maninho, Shanna foi nomeada inventariante do espólio do pai, mas teve atuação questionada. De acordo com Tamara, sua irmã gêmea, Shanna teria vendido diversos bens - incluindo cavalos - sem que ela fosse notificada.
Tamara reclama ainda que a irmã não teria depositado os rendimentos do espólio, incluindo o recebimento de aluguéis. Tentando apaziguar a situação, a Justiça do Rio nomeou um inventariante judicial para administrar o espólio de Maninho.
O tio de Shanna, Alcebíades, já disse em depoimento à polícia que foi ameaçado pela sobrinha. Ele ainda apontou Shanna como uma das responsáveis pela tentativa de assassinato do pecuarista Rogério Mesquita e outras três pessoas, em Cachoeiras de Macacu em 2008.

Shanna, de preto, no enterro de Maninho
Shanna, de preto, no enterro de Maninho Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo / 29-09-2004
De acordo com o Ministério Público, Shanna teria planejado o crime com a ajuda de outras sete pessoas. A tentativa de execução frustrada teria relação com a disputa por pontos de jogo do bicho. Em janeiro de 2009, Mesquita foi assassinado à luz do dia, em Ipanema.
Em 1º de agosto de 2012, a Justiça decidiu que Shanna e outros cinco réus não responderiam pelos crimes de homicídio qualificado, formação de quadrilha e constrangimento ilegal.
Durante as investigações, Sabrina Harrouche Garcia, viúva de Maninho e mãe de Shanna, relatou à polícia que foi informada de que Shanna queria matá-la e, em função disso, reforçou sua segurança. O boato, porém, foi desmentido à época pela defesa de Shanna

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