Com receio de que o coronavírus se espalhasse ainda mais pelo restante do país, o governo italiano resolveu ampliar as medidas restritivas de circulação para todo o território, afetando regiões que até então estavam “vivendo normalmente”.
A ISTOÉ conversou com turistas brasileiros que viajaram para a região da Toscana, conhecida pela famosa torre de Pisa, antes da explosão da doença no país. Segundo eles, quando os primeiros casos surgiram, o clima ainda era de tranquilidade. No entanto, as novas restrições obrigaram a população a só sair de casa em casos de extrema necessidade.Há três meses na Itália, o educador musical Rafael Augusto Gavioli, de 35 anos, viajou para o país em busca da cidadania italiana. Ele relata que quando os primeiros casos da doença foram registrados em Pisa, o prefeito da cidade, Michele Conti, institui que bares fossem fechados após às 21h e que as pessoas evitassem lugares muito aglomerados.
Depois das restrições a nível nacional, Gavioli conta que a movimentação nas ruas diminuiu. “Ainda dá para fazer mercado, ir à farmácia. Alguns mais idosos usam máscaras e nas ruas as pessoas fazem questão de desviar bastante da gente. Eu evito ficar tocando nas coisas e colocando a mão no rosto”, contou.
Segundo o educador musical, com o fechamento do órgão responsável por emitir os documentos da cidadania italiana, ele corre o risco de ter que adiar a passagem de volta para o Brasil, prevista para o próximo dia 30. “Com o comune fechado pode ser que eu só consiga fazer os documentos em 3 de abril”, afirmou Gavioli.
Sem aulas
As restrições na Itália também fecharam instituições de ensino, como a Universidade de Pisa, onde o estudante de Relações Internacionais, Marcio Tesser Junior, de 22 anos, faz intercâmbio. O brasileiro conta que, no último dia 4, a universidade já havia comunicado que suspenderia as aulas, no entanto, após o decreto do governo, o prazo para o retorno das atividades foi prorrogado.“O clima estava tranquilo, todo mundo vivendo a vida normalmente. Com o novo decreto, a suspensão das aulas deve ir até 3 de abril e outros lugares passaram a fechar também, como a academia que eu frequento”, explica Tesser .
Para o estudante, após o decreto algumas pessoas têm tomado medidas “exageradas”. “Muita gente querendo comprar tudo e fila pra entrar [no mercado], porque só pode ter um número X de pessoas lá dentro. Só entra alguém quando outro sai”, contou.
Tesser relata ainda que tem ficado mais em casa. “Eu não estou mais tendo aulas presenciais, apenas on-line em algumas matérias. Academia fechada, não posso viajar e está mais complicado para ir ao mercado. Isso após o decreto, enquanto o coronavírus estava só pela Lombardia, a vida aqui estava normal. As pessoas não estavam muito preocupadas por aqui não”, disse.
Questionado sobre ter sido prejudicado pela suspensão das aulas, o estudante afirmou que sim, no entanto, não se arrepende de ter ido à Itália. “Esse intercâmbio eu planejei por 2 anos (fiz aulas de italiano e juntei dinheiro). Não me arrependendo de ter vindo para a Itália, mas fico muito chateado de isso ter acontecido bem comigo aqui.”
Familiares preocupados
Em meio ao aumento de números de casos de coronavírus na Itália, Gavioli e Tesser afirmam que familiares e amigos tem se preocupado com eles. Ambos afirmam não ter medo de contrair o vírus, mas procuram tomar as medidas de prevenção, como lavar as mãos com frequência.“De um tempo pra cá comecei a receber muitas mensagens de amigos e familiares que estão no Brasil”, afirmou o educador musical. “Minha família me manda mensagens pra saber como está a situação, mas eu sempre procuro tranquilizar eles”, disse Tesser.
Dos 15.113 casos já confirmados na Itália até esta quinta-feira (12), 364 foram registrados na Toscana. O último balanço da Defesa Civil italiana calcula que 1.016 morreram da doença no país. Dos casos confirmados, 1.153 estão em terapia intensiva e outros 5.036 estão em isolamento domiciliar.
0 Comentários