Funcionários fabricam sacos para cadáveres perto da Cidade do México
A associação Recicladores Unidos de Bolsas Plásticas (Ruboplast) recebeu a encomenda para fabricar 20 mil sacos para depositar as vítimas da doença, que já contaminou 5.847 pessoas e matou 449 delas no México.
"Essas bolsas têm uma medida diferença, 2,5m de comprimento por 88cm de largura. Ela tem de ser mais grossa porque precisa suportar um peso máximo de 200kg, que é o que conseguimos garantir", explicou Álvarez à EFE nesta quinta-feira (16), com a máscara que usa diariamente no rosto.
Cerca de 20 pessoas trabalham a todo vapor nesta velha fábrica em Ecatepec de Morelos, na região metropolitana da capital mexicana, cheia de montanhas de plástico para completar o processo para a elaboração de bolsas, desde a seleção de plásticos recicláveis até a confecção do saco.
Depois, eles são transportados até a cidade de Toluca, onde um grupo de costureiras se encarrega de colocar o zíper vertical que fecha o saco de cima até embaixo.
O porta-voz da Ruboplast diz que não sabe exatamente para onde irão as bolsas mas, de acordo com a empresa que fez a compra, ela atende às solicitações de hospitais e autoridades de vários níveis da administração mexicana.
"Uma das qualidades do plástico é que ele fica hermético e bem fechado. Nos ajuda a conter um pouco a pandemia que estamos batalhando em todo o mundo", explicou Álvarez.
Até o momento, não existe uma prova científica de que os cadáveres dos falecidos de covid-19 apresentem um risco de contágio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que eles sejam envolvidos em algum tipo de pano, não necessariamente uma embalagem mortuária.
Quando Álvarez recebeu o pedido, ficou impressionado mas finalmente aceitou, uma vez que as empresas não podem recusar serviço devido à crise econômica trazida pelo coronavírus.
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"No fim das contas, alguém precisa fazer esse trabalho", pensou o
empresário, que deseja com todas as forças que as 20 mil bolsas para
cadáveres jamais sejam colocadas em uso.
"Tenho quase certeza que não serão utilizadas e já estamos fazendo recicláveis para que possam voltar para cá e nós possamos transformá-las em produtos mais amigáveis", explicou.
A associação de empresários recicladores de plástico nasceu no ano passado para buscar alternativas diante da proibição da venda e distribuição de sacolas de plástico de uso único que passou a vigorar na Cidade do México em janeiro deste ano.
Eles montaram uma rede de pessoas, muitas delas moradores de rua, que coletam plásticos jogados nas ruas e os vendem para fábricas com a de Álvarez, que convertem o material em sacos de lixo ou embalagens de roupa.
Essas atividades foram afetadas pelo estado de emergência sanitátia decretado pelo governo do México, que proíbe as atividades econômicas não-essenciais e pede que a população a ficar em casa, ainda sem uma quarentena obrigatória.
O confinamento é especialmente relaxado em cidades empobrecidas como Ecatepec, vizinha à Cidade do México, onde as pessoas tentam viver como podem.
"Temos de sair para trabalhar porque vivemos da renda do dia a dia. As pessoas têm muito medo de perder seus empregos. Poderiam ficar em casa, mas ficar sem comer, então preferem trabalhar", relatou Álvarez.
Como os trabalhadores da fábrica que, protegidos com máscaras, seguem confeccionando as bolsas mortuárias
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