Nascido e criado na Cidade de Deus, o produtor de cinema Bruno Rafael afirma que tinha três opções quando jovem: entrar para o tráfico de drogas, ser surfista ou se envolver no mundo dos bailes funk. Além de ter visto amigos morrerem devido ao envolvimento com o crime, ele diz que sua mãe não o criou para isso e que não podia ser surfista porque não tinha dinheiro para comprar prancha. Com apenas 9 anos, portanto, começou a frequentar os bailes da CDD e aos 15, em 1995, já mergulhado no universo do batidão, os de fora comunidade. Assim como aconteceu com ele, os bailes funks marcaram a vida de muitos outros jovens daquela época, o que o inspirou a produzir, ao lado de Ricardo Índio, um documentário sobre o fenômeno.
Ainda sem nome e com previsão de lançamento em junho de 2021, a produção terá como foco os bailes de corredor, em que jovens se enfrentavam sob a supervisão de seguranças para que a briga não se generalizasse (mais). Os eventos atraíam também centenas de moradores do asfalto.Os bailes funks tiveram seu auge nas décadas de 1980 e de 1990, quando eram realizados em clubes, como o Country Clube, da Praça Seca. Eram uma manifestação cultural, e os de corredor nos marcaram muito: eram dez mil pessoas de um lado e dez mil de outro, todo mundo brigando. Além da praia, a gente só tinha isso — recorda. — Encontramos pessoas que ainda têm as roupas que usavam para ir aos bailes, é toda uma cultura.
Já foram confirmada gravações em mais de 30 comunidades, incluindo Rocinha, Cidade de Deus e Rio das Pedras. Além de depoimentos, o documentário terá imagens e áudios da época.
— O baile era a parte boa. A ruim era o caminho para chegar lá, que se tornou perigoso por causa das brigas de corredor. Como os grupos eram divididos, os jovens que brigavam nos bailes não podiam marcar bobeira em qualquer lugar — conta Ricardo Índio.
Os dois produtores contam que deixaram de frequentar este tipo de festa em 1999, depois que um jovem levou um tiro dentro do Country Club da Praça Seca. Logo depois, a prática desapareceu. No entanto, Índio e Rafael descobriram que os bailes de corredor voltaram a ser realizados, clandestinamente, há cerca de um ano.
— Muitas pessoas estão se identificando com o nosso trabalho porque são funkeiras como nós. São poucos os que conseguem entrar nas favelas com equipamento de filmagem e drone, mas não estamos encontrando dificuldades para produzir o material — afirma Rafael.Fonte:Extra
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