Saiba como foi a votação que aprovou o processo de impeachment de Witzel

 

Alerj foi unânime ao pedir continuidade do processo de impeachment
Alerj foi unânime ao pedir continuidade do processo de impeachment Foto: BRENNO CARVALHO / Extra

Deputados da Assembleia Legislativa do Rio foram unânimes em aprovar a abertura oficial do processo de impeachment contra o governador afastado Wilson Witzel. O rolo compressor não teve dúvidas depois de um período explosivo na gestão estadual com crise política e explosão de denúncias quase diárias sobre superfaturamento em compras para o combate ao coronavírus. O momento mais tenso foi a defesa do próprio Witzel que, antes do anúncio do placar, ao falar virtualmente, disse que está sendo perseguido, acusou os parlamentares de omissão e concluiu afirmando que o estado do Rio está tomando por máfias.

— Agora, nesse momento, o bandido do Edmar Santos (ex-secretário de Saúde, que fez delação premiada e o acusa) está solto e tomando vinho — disparou Witzel, que também atribuiu o que chamou de julgamento precipitado, com base em uma investigação falha, à sua briga com o presidente Jair Bolsonaro, de quem foi aliado.

Apesar das palavras contundentes, usadas por um Witzel visivelmente emocionado, a votação, que começou logo após seu discurso, foi rápida. Todos os 69 votaram a favor do impeachment, seguindo o relatório de Rodrigo Bacellar (Solidariedade). O ex-juiz federal, que se elegeu com a bandeira da nova política, uniu em torno da tese de sua possível perda de mandato oposição, governistas e integrantes de seu próprio partido PSC. Agora, a denúncia de crime de responsabilidade contra ele segue para o Tribunal de Justiça. Amanhã, sai o edital para os deputados se candidatarem às cinco vagas da comissão mista que também será integrada por cinco desembargadores do TJ, escolhidos por sorteio. Caberá a eles, depois de 180 dias, a palavra final sobre o destino de Witzel. Para ter o mandato cassado, tornando-se o3º governador a perder o cargo na história recente de escândalos de corrupção que assolam o Rio, são necessários dois terços dos votos, ou 7 dos 10 integrantes.

Agora, após a votação acachapante, Witzel será julgado por uma comissão mista formada por cinco deputados e cinco desembargadores do TJ. À frente, estará o presidente do órgão, o desembargador Claudio de Mello Tavares. É essa comissão que, ao fim de 180 dias, darão a palavra final sobre o futuro político de Witzel. À frente, estará o presidente do órgão, o desembargador Claudio de Mello Tavares. Para ter o mandato cassado, tornando-se o terceiro governador a perder o cargo na história recente de escândalos de corrupção que assolam o Rio, são necessários dois terços dos votos, ou 7 dos 10 integrantes.

Com o placar acachapante de ontem, o governador afastado já dá início ao processo, em que serão colhidos depoimentos e provas. O alvo da investigação são desvios que envolvem contratos assinados desde que a Covid-19 chegou ao Rio, na casa de R$ 1,7 bilhão. Os deputados não pouparam frases fortes e se referiram a Witzel como “Judas” e disseram que ele participou de “roubalheiras” e estava “com as mãos sujas de sangue”, porque as acusações envolvem malfeitos na Saúde, com possível contribuição para aumento do número de mortes.

O deputado Luiz Paulo (PSDB), um dos autores do pedido de impeachment, criticou manobras de Witzel para adiar a análise do processo. Na terça, ele havia feito novo pedido ao Supremo Tribunal Federal para suspender o trâmite na Alerj.

— Quanto mais tempo se demora, mais vem à tona o mar de lama e corrupção que jorra desse governo. Não podemos ter a mínima vacilação de como votar hoje. É imperdoável, em período de pandemia, corruptos assaltarem os cofres da Saúde. Corrupção em pandemia é crime hediondo — afirmou.

Ex-aliado de Witzel, que subiu no mesmo palanque do então candidato a governador, Rodrigo Amorim (PSL), da bancada bolsonarista, se pronunciou de forma dura, mesmo admitindo que tinha ligação pessoal com Witzel e que os filhos dos dois eram amigos. Antes de votar sim ao impeachment, ele lembrou o rompimento entre o governador afastado e Bolsonaro:

— A primeira crítica que fiz foi quando Witzel lançou, afrontando o presidente, o seu anseio de se candidatar em 2022. Talvez o início da derrocada foi esse — afirmou.

Da oposição, Renata Souza (PSOL) foi uma das primeiras a falar numa sessão que durou mais de seis horas. Ela disse que as irregularidades nas compras de respiradores reduziram as chances de sobrevivência de parte da população.

Witzel está afastado desde 28 de agosto por decisão do Superior Tribunal de Justiça. O governador em exercício, Cláudio Castro, assumiu o cargo.

Witzel sobe o tom

Willson Witzel usou a velha tática: o ataque é a melhor defesa. Por videoconferência, ele chamou os deputados de omissos e disse estar sendo linchado moralmente e politicamente, sem direito a defesa. Em uma hora de discurso, citou trechos da Bíblia e falou de Tiradentes. Elevando o tom de voz muitas vezes, falou diretamente a alguns deputados.

— A porta sempre estevesse aberta, mas quantos sentaram comigo? Poucos estiveram lá. Se eu fui omisso, todos os senhores são omissos — disse:. — Se prevalecer esse entendimento, não teremos mais mandatos terminados no Brasil. O governador de Santa Catarina, que não agrada à base dos deputados porque talvez não faça a política que assim desejam, já está no mesmo processo que hoje me encontro. A esquerda que diz que a presidenta Dilma sofreu um golpe de estado, hoje não vi nenhuma voz ser levantada.

Witzel cobrou a participação dos deputados na gestão:

— Vossas excelências pouco compareceram ao Palácio Guanabara. Durante a pandemia, fiquei praticamente isolado para tomar decisões.

Ao agradecer a oportunidade de falar para o plenário, “do Palácio que leva o nome de Tiradentes”, relembrou:

—Tiradentes que foi delatado, vendido, morreu enforcado e as partes do seu corpo foram jogadas em praça pública, para servir de exemplo para a tirania. A tirania escolhe suas vítimas e as expõem para que outros não mais se atrevam.

O governador afastado também citou o ex-presidente Fernando Collor de Melo:

— Eu tenho exemplos de erros que a história não pode reparar. O presidente Collor foi vítima de um impeachment. Em 2014 ele foi absolvido. A frase dele no senado foi: “Quem poderá me devolver o que me tiraram?”.

Em um momento, Witzel apelou para sua vida pessoal:

— Sou filho de uma empregada doméstica, que hoje chora pelo que está acontecendo comigo. Meu pai, metalúrgico, chora

 

 

Fonte:Extra o Globo

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