Um relatório do Ministério Público estadual publicado há um ano já trazia o alerta: parte da população do estado está subjugada à chamada narcomilícia. O que chama a atenção com o caso de Madureira, porém, é a especialização desses grupos na atividade da extorsão. Coordenador do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF), o sociólogo Daniel Hirata avalia que há uma disputa crescente por esse novo “mercado” criminal, que passou a atrair também o tráfico.
— O mercado mais central nessa disputa é o da extorsão em troca de uma suposta proteção. A extorsão permite o acesso e o controle de diversos outros mercados, pois não está restrito a uma atividade econômica específica. Por isso, a milicialização se especializou nesse campo — explica Hirata.
A investigação do MP constatou que esses grupos já controlam cerca de 180 localidades. Foram identificadas narcomilícias nos 13 municípios da Baixada Fluminense, em comunidades das zonas Norte e Oeste da capital e também de São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e Rio Bonito.
Em todas essas áreas, a exploração ilegal de serviços e a cobrança de taxas de segurança passaram a ser feitas junto com a venda de drogas.
— Esses grupos são atraídos por modelos de negócios mais eficazes e efetivos para a extração de recursos. Isso é esperado, porque a corrida armamentista segue de perto a corrida pelo mercado criminal. Se você tem mais dinheiro, pode fazer mais guerra e, assim, conquistar mais territórios. Quanto mais territórios tiver, maior a extração de recursos — diz Hirata.
O relatório do MP aponta que integrantes das narcomilícias são mais audaciosos do que outros grupos: executam moradores que não seguem as ordens, às vezes, à luz do dia, e praticam estupros. As comunidades em que narcomilicianos atuam tiveram aumento na violência.
Operaçao em Madureira
Um dos polos comerciais mais importantes do Rio está dominado pela narcomilícia. Ambulantes e donos de lojas de Madureira são coagidos por bandidos a pagar taxas. Segundo a Polícia Civil, que fez nesta terça-feira uma operação no bairro, até o maior shopping da região tem desembolsado R$ 15 mil por semana para se livrar das ameaças da quadrilha. A investigação mostra que traficantes e milicianos se uniram e lotearam a área para fazer as extorsões, que renderiam mais de R$ 90 mil por semana. Para agir livremente até junto ao empresariado legal, eles teriam o apoio de agentes públicos.
— Hoje, milícia e tráfico em Madureira são uma coisa só. Eles extorquem dinheiro de ambulante legal, ilegal, shopping, supermercado e fábricas. Foram para as ruas, e quem tem comércio aqui tem que pagar algum tipo de propina, seja para a milícia ou para o tráfico. Quem não paga é morto — disse o delegado Mauricio Demétrio Afonso Alves, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM).
Havia uma tabela de cobrança, segundo a polícia. Um supermercado paga R$ 4 mil por semana. Os agentes descobriram ainda que os bandidos cobram R$ 2 mil por semana dos estacionamentos. Ambulantes pagam de R$ 100 a R$ 250. Estima-se que 500 camelôs atuem em Madureira
Fonte:Extra On Line
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