Narcomilícia se utiliza da extorsão para aumentar lucros e segmentar mercado de crimes, diz especialista

 

Produtos piratas são apreendidos em um depósito controlado pela narcomilícia, em Madureira
Produtos piratas são apreendidos em um depósito controlado pela narcomilícia, em Madureira Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Um relatório do Ministério Público estadual publicado há um ano já trazia o alerta: parte da população do estado está subjugada à chamada narcomilícia. O que chama a atenção com o caso de Madureira, porém, é a especialização desses grupos na atividade da extorsão. Coordenador do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF), o sociólogo Daniel Hirata avalia que há uma disputa crescente por esse novo “mercado” criminal, que passou a atrair também o tráfico.

— O mercado mais central nessa disputa é o da extorsão em troca de uma suposta proteção. A extorsão permite o acesso e o controle de diversos outros mercados, pois não está restrito a uma atividade econômica específica. Por isso, a milicialização se especializou nesse campo — explica Hirata.

A investigação do MP constatou que esses grupos já controlam cerca de 180 localidades. Foram identificadas narcomilícias nos 13 municípios da Baixada Fluminense, em comunidades das zonas Norte e Oeste da capital e também de São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e Rio Bonito.

Em todas essas áreas, a exploração ilegal de serviços e a cobrança de taxas de segurança passaram a ser feitas junto com a venda de drogas.

— Esses grupos são atraídos por modelos de negócios mais eficazes e efetivos para a extração de recursos. Isso é esperado, porque a corrida armamentista segue de perto a corrida pelo mercado criminal. Se você tem mais dinheiro, pode fazer mais guerra e, assim, conquistar mais territórios. Quanto mais territórios tiver, maior a extração de recursos — diz Hirata.

O relatório do MP aponta que integrantes das narcomilícias são mais audaciosos do que outros grupos: executam moradores que não seguem as ordens, às vezes, à luz do dia, e praticam estupros. As comunidades em que narcomilicianos atuam tiveram aumento na violência.

Operaçao em Madureira

Um dos polos comerciais mais importantes do Rio está dominado pela narcomilícia. Ambulantes e donos de lojas de Madureira são coagidos por bandidos a pagar taxas. Segundo a Polícia Civil, que fez nesta terça-feira uma operação no bairro, até o maior shopping da região tem desembolsado R$ 15 mil por semana para se livrar das ameaças da quadrilha. A investigação mostra que traficantes e milicianos se uniram e lotearam a área para fazer as extorsões, que renderiam mais de R$ 90 mil por semana. Para agir livremente até junto ao empresariado legal, eles teriam o apoio de agentes públicos.

— Hoje, milícia e tráfico em Madureira são uma coisa só. Eles extorquem dinheiro de ambulante legal, ilegal, shopping, supermercado e fábricas. Foram para as ruas, e quem tem comércio aqui tem que pagar algum tipo de propina, seja para a milícia ou para o tráfico. Quem não paga é morto — disse o delegado Mauricio Demétrio Afonso Alves, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM).

Havia uma tabela de cobrança, segundo a polícia. Um supermercado paga R$ 4 mil por semana. Os agentes descobriram ainda que os bandidos cobram R$ 2 mil por semana dos estacionamentos. Ambulantes pagam de R$ 100 a R$ 250. Estima-se que 500 camelôs atuem em Madureira

 

 

Fonte:Extra On Line

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