Os dois fuzis de fabricação estadunidense e as 23 pistolas croatas encontradas pela polícia num ônibus clandestino na BR-116, em Vitória da Conquista, no Sul da Bahia, são avaliados em torno de R$ 500 mil, total que não inclui o valor das munições. O arsenal foi descoberto nesta segunda-feira (23) durante uma vistoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e dois suspeitos — o homem que transportava e o motorista — foram presos.
Todo o armamento achado é de uso restrito das Forças Armadas Brasileiras e os nomes dos envolvidos não foram divulgados.
(Foto: Divulgação/PRF-Bahia) |
Chefe
em exercício da seção de Operações Especializadas da PRF na Bahia, o
inspetor Jader Ribeiro explica que os fuzis possuem restrição por causa
do modo automático, que permite os chamados tiros de rajada. Estima-se
que esses fuzis, da marca Colt, sejam comercializados por até R$ 50 mil
no Brasil. Junto com eles estavam seis carregadores, cada um com
capacidade para 30 munições do tipo 556, ou seja, capaz de dar 180
disparos.
“Já as pistolas são provenientes do Leste Europeu,
são armas muito bem construídas, de polímero e têm um custo muito
elevado no Brasil. Aqui, só uma pistola dessa é vendida de R$ 15 a R$ 20
mil”, completa o inspetor.
Em março deste ano, a PRF apreendeu, também em Vitória da Conquista, um arsenal de 36 pistolas fabricadas na República Tcheca, país no limite com o Leste Europeu. Conforme Ribeiro, essa região tem tradição na fabricação de armamento de alta qualidade e as armas de países como os já citados e também da Hungria e Rússia são procuradas pelo mundo todo.
Ainda segundo ele, é comum achar armas oriundas dessa região em apreensões no estado. As pistolas achadas na Bahia tinham uma coloração incomum, um tom caqui, conseguido através de uma pintura cerâmica chamada cerakote, que facilita a camuflagem em regiões de mata, por exemplo.
Como a BR-116 é um corredor de entrada da Bahia e também das regiões Norte e Nordeste do país, produtos ilícitos, como armas, drogas e contrabandos, são escoados através dela. Pela forma com que foram transportadas e tomando por base as apreensões anteriores que tiveram investigação da Polícia Civil, acredita-se que o material seria mesmo usado por agentes do tráfico de drogas, para guerras de facções e assaltos a bancos.
“A gente espera com isso um baque financeiro. Como essas armas são muito caras, além do custo das armas, tiveram o custo de transportar o material, que veio da Europa e EUA. Essas apreensões são importantes, primeiro, para a preservação da vida de pessoas e por essa questão financeira também, que os desarticula”, afirmou.
RELEMBRE O CASO
Além do homem que transportava as armas, o motorista do ônibus também está preso. Delegada plantonista da 10ª Delegacia (Vitória da Conquista), Alessandra Márcia Pereira contou que o passageiro acusa o motorista de ser o dono da bagagem e afirma que estava transportando as mochilas sem saber o conteúdo. Já o condutor alegou que não tem envolvimento com o crime e que as armas são de responsabilidade do passageiro.
“Nós acreditamos que eles estavam agindo juntos por conta da logística do crime. O ônibus saiu de São Paulo. O passageiro estava em São Paulo, mas deixou para embarcar em Vitória da Conquista. Ele veio de carona até Conquista, acredito que para evitar as abordagens policiais no caminho, pernoitou em uma pousada e aguardou para embarcar exatamente nesse ônibus. Além disso, os dois se conhecem e já fizeram outras viagens juntos”, contou ela.
Como o ônibus era clandestino, o passageiro não embarcou na rodoviária de Vitória da Conquista. Ele aguardou pelo coletivo em um posto de combustível, no meio do caminho, e foi o único passageiro que não tinha o canhoto da compra da passagem. Ele e o motorista moram em São Paulo, e a última vez em que viajaram juntos foi há cerca de um mês, quando saíram de Feira de Santana para o estado paulista.
O ônibus pertence ao motorista, que é dono de uma empresa terceirizada e que não teve o nome revelado. Ele tem 39 anos, e não possui antecedentes criminais. O passageiro tem 32 anos e também não responde por crimes, mas estava sendo procurado pela justiça por não pagar pensão alimentícia.
Contradição
O passageiro caiu
em contradição durante o depoimento. O ônibus saiu de São Paulo (SP) e
seguia para Serrinha (BA). Ele contou que o combinado era embarcar em
Vitória da Conquista e desembarcar no caminho porque o destino das
bagagens era Feira de Santana, onde as armas seriam entregues.
Apesar de afirmar que o arsenal pertencia ao motorista, ele disse que não conhecia a pessoa que entregou as mochilas para ele, em SP, e nem sabe quem é a pessoa que iria receber o material em Feira. Ele não informou de quanto seria o pagamento pelo serviço, e contou que já transportou outras bagagens antes nesse mesmo modelo, mas que nunca procurou saber o que havia no conteúdo.
Já o motorista nega envolvimento no crime e afirma que pretendia desembarcar em Nova Soure, onde outro condutor daria continuidade à viagem até Serrinha.
Havia outros passageiros quando o ônibus foi abordado pela PRF, em Vitória da Conquista. Eles foram ouvidos pela polícia e uma mulher confirmou que a mala com as armas estava com o passageiro de 32 anos.
Prisão
Em nota, a PRF contou
que a fiscalização começou pelo bagageiro do veículo. Depois, os agentes
verificaram a bagagem de mão dos passageiros, e foi nesse momento que
encontraram as armas. Todo o material estava em duas mochilas.
Os dois fuzis desmontados foram embrulhados junto com seis carregadores, cada um com capacidade para 30 munições 556. A PRF afirmou que o armamento é de fabricação norte americana.
Já as 23 pistolas estavam envoltas em sacos de lixo e fitas adesivas, acompanhadas de 27 carregadores com prolongador, cada um com capacidade para pelo menos 21 munições. Os policiais encontraram também outros 43 carregadores convencionais, com capacidade para 19 munições. As armas foram produzidas na Croácia.
A delegada acredita que a escolha de Vitória da Conquista para fazer o intercâmbio não foi por acaso. A BR-116 é uma estrada com movimentação intensa e a cidade faz ligação com diversos outros municípios do estado.
“Eles sabem que existe fiscalização intensa na divisa entre Minas Gerais e Bahia, e queriam evitar a abordagem. Ele deixou para embarcar em um posto de combustível, depois do local onde a polícia costuma fazer a fiscalização. O que ele não esperava era que ocorresse uma abordagem surpresa em outro ponto da estrada”, contou.
Motorista e passageiro foram presos em flagrante e estão custodiados em Vitória da Conquista, aguardando pela audiência de custódia. Os dois vão responder por comércio ilegal de arma de fogo e associação criminosa.
ASCOM
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