Com rastro de violência, traficante amplia domínio de favelas na Baixada e Zona Norte do Rio

 

Álvaro Malaquias Santa Rosa é procurado pela polícia há uma década.
Álvaro Malaquias Santa Rosa é procurado pela polícia há uma década. Foto: Reprodução

Um homem obcecado pela conquista de territórios domina, com mãos de ferro, o controle do comércio de drogas em cinco comunidades da Zona Norte do Rio, e em pontos de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ocupando o primeiro escalão de uma das principais facções criminosas do estado, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, é caçado pela polícia carioca há mais de dez anos. Em nome do bandido, que tem pelo menos 34 anotações criminais, a maior parte por homicídios e tráfico, há 15 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça. Só entre maio e julho, a quadrilha de Peixão foi responsável pelo sequestro de 11 pessoas. Segundo as investigações da Polícia Civil, algumas foram assassinadas e outras estão desaparecidas.

Entre as vítimas do bando estão integrantes de facções rivais, moradores , e até pessoas que foram mortas apenas por cultuar religiões de matriz africana. É que, segundo a polícia, Peixão proíbe cultos deste tipo nas comunidades que mantém sob seu domínio. Na última quarta-feira, homens do bando de Peixão fizeram uma nova vítima inocente. Christiano Coimbra de Mendonça, de 43 anos, gerente de produtos e projetos da Editora Globo, teve o carro atingido por tiros de fuzil e pistola ao entrar, por engano, na Estrada Porto Velho, que dá acesso à Avenida Brasil e à Cidade Alta, um dos redutos de Peixão. Ferido por um disparo na região lombar, ele foi levado para o Hospital Getúlio Vargas e depois transferido para um hospital particular. Atualmente, Álvaro Malaquias Santa Rosa controla o tráfico em Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, e nas localidades do Pica-Pau e das Cinco Bocas. Juntas, as comunidades foram batizadas pelo bandido de Complexo de Israel, já que o traficante costuma mandar escrever trechos da bíblia em muros de casas e prédios. Ele também controla a Favela do Buraco do Boi, em Nova Iguaçu, e pontos de drogas localizados no Bairro Parque Paulista, em Duque de Caxias.

Peritos analisam o carro atingido por tiros na Cidade Alta.
Peritos analisam o carro atingido por tiros na Cidade Alta. Foto: Fabiano Rocha / 

A onda de sequestros teve início, entre o fim da noite do dia 22 de maio e a madrugada do dia 23, quando o bando de Peixão começou a conquistar a Favela Cinco Bocas. Na ocasião, Peixão e mais 50 homens atacaram a tiros traficantes rivais que, na época controlavam à comunidade . Em meio a guerra, um serralheiro que não tinha envolvimento com crime foi capturado pelo bando de Peixão e está desaparecido. No dia 5 de junho, a facção criminosa de Álvaro Malaquias sequestrou outros três homens. Todas as vítimas foram levadas para Parada de Lucas e desapareceram. No dia 3 de julho último, bandidos sequestraram quatro pessoas, na mesma comunidade. Uma delas foi esquartejada e colocada em um tone,l que foi jogado na Baía de Guanabara. Partes do corpo foram encontradas em uma praia da Ilha do Governador. As últimas três vítimas foram sequestradas no dia 12 de julho. Desta vez, de acordo com a polícia, elas foram levadas para a Cidade Alta. Os corpos apareceram carbonizados em carros, que foram abandonados em Brás de Pina. Os assassinatos são investigados pela Delegacia de Homicídios da Capital. Em pelo menos um dos casos, uma das linhas seguidas pela polícia é a de uma vítima foi morta por intolerância religiosa ou por filmar com o celular a ação da quadrilha de Peixão. Já a invasão à Cinco Bocas e os desaparecimentos, são alvos de mais duas investigações,uma da 22ªDP (Penha) e a outra da 38ª DP (Brás de Pina).

Prenúncio de uma nova guerra

Uma nova guerra pelo controle de pontos de droga pode estar se desenhando na Zona Norte do Rio. A polícia investiga a informação de que Peixão quer ampliar seus domínios e planeja ataques à Favela Kelsons, localizada às margens da Avenida Brasil. A comunidade é controlada por bandidos de uma facção rival, a mesma que foi expulsa por ele, em maio, da Favela Cinco Bocas. Ainda não se sabe quando as tentativas de invasão seriam colocadas em prática. Entretanto, o histórico do bandido revela que, antes de de partir para novos ataques, Álvaro Malaquias Santa Rosa costuma consolidar, por meses, os terrenos conquistados mais recentemente.

— Já sabemos que primeiro, ele consolida o lugar recém ocupado. Ou seja, costuma Identificar pessoas que tenham algum tipo de ligação com a quadrilha rival ou algum morador que faça algo não permitido pelo bando. Todos são expulsos ou mortos. Foi assim que ele fez, por exemplo, na Favela do Pica-Pau e na Cidade Alta. Após estabilizar as duas áreas, ele resolveu atacar a Cinco Bocas — disse um dos policiais que investiga a quadrilha de Peixão.

Para manter um arsenal bélico, Álvaro Malaquias mantém alianças com uma facção criminosa de São Paulo, que abastece seu bando com drogas e armamentos. De acordo com investigações da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), o bandido usa as Favelas de Parada de Lucas e de Vigário Geral, que ficam localizadas uma do lado da outra, como entreposto para redistribuição de cocaína e maconha. Das duas localidades, as drogas seguem para ser comercializadas nas comunidades da Cidade Alta, Pica-Pau, Cinco Bocas, Buraco do Boi, em Nova Iguaçu, e Parque Paulista, em Duque de Caxias. A polícia não revelou a estimativa de quanto Peixão movimenta em dinheiro. O traficante, no entanto, não costuma andar sozinho.

— Ele anda sempre na companhia de seguranças armados de fuzis. Podemos dizer que ele é um dos principais nomes da facção criminosa que integra — disse o delegado Gustavo Castro, da DCOD.

Em 2016, investigações da Polícia Civil, com o apoio do Ministério Público, descobriram que Peixão contava com uma espécie de rede de proteção para não ser preso, na Baixada Fluminense. De acordo com a policia, traficantes chegavam a pagar, na época, por mês, R$ 70 mil em propinas para maus policiais civis e militares. O Disque- Denúncia ( 2253-1177) oferece uma recompensa de mil reais por informações que levem até a prisão bandido. Não é necessário se identificar

 

 

Fonte:Extra O Globo

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