Decisão de transformar UPPs do Alemão e Penha em batalhões não sai do papel há três anos

 

Base da UPP da Nova Brasília, no Complexo do Alemão
Base da UPP da Nova Brasília, no Complexo do Alemão Foto: Reprodução

Evidente pelos relatos de policiais e moradores e pelos registros de confrontos e ataques às UPPs, o fracasso do projeto de pacificação dos Complexos do Alemão e Penha tornou-se oficial na Polícia Militar há três anos. Na época, uma comissão formada na corporação constatou a necessidade de transformar as sete unidades da região em dois batalhões, um em cada conjunto de favelas. Entretanto, a complexidade da situação na região fez com que o projeto nunca tenha sido implementado. No cenário atual, também não há perspectiva de mudança. O futuro incerto das UPPs nos complexos é o que o EXTRA mostra no último dia da série “Alemão, 10 anos depois”.

A comissão constatou, no fim de 2017, que o conceito de policia de proximidade no Alemão e Penha havia se perdido. O tráfico havia se fortalecido e retomado boa parte do território. A solução sugerida foi abandonar a ideia de proximidade da população e manter apenas a ocupação territorial.

As medidas sugeridas pela comissão não foram colocadas em prática logo que elaboradas e acabaram levadas à discussão já durante a intervenção federal na Segurança Pública, no início de 2018. As propostas sugeridas começaram a ser executadas logo em seguida, sendo as duas primeiras a transformação das UPPs Vila Kennedy e Batan em companhias destacadas. Na ocasião, não houve consenso sobre a sugestão de transformar o Alemão e Penha em batalhões. Pela complexidade, optou-se por adiar a decisão.

Atual secretário da PM, o coronel Rogério Figueredo conhece de perto a situação das UPPs. Ele estava à frente da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) durante a intervenção e participou das discussões sobre as mudanças sugeridas pela comissão. Logo que assumiu o cargo de secretário, o coronel se colocou a favor da manutenção das UPPs.

O governador em exercício, Cláudio Castro, vem sinalizando que pretende retomar a ocupação de favelas do Rio. No entanto, fontes do governo e da polícia afirmam que ainda não há nenhum projeto definido. Castro encomendou estudos às polícias Civil e Militar para serem entregues no início de 2021. Uma das possibilidades aventadas pelo governador é de fortalecer projetos sociais no Alemão. A aposta no governo, entretanto, é de que Castro não faça grandes intervenções, já que lhe restam pouco mais de dois anos no cargo.

PMs que trabalham ou trabalharam nas UPPs da região são uníssonos e defendem a permanência das UPPs nas favelas.

— Ainda que não seja o ideal, pelo menos o Estado está presente. E, estando ali dentro, fica muito mais fácil fazer uma operação ou até pensar em uma reocupação. Se sairmos, para voltar será necessária outra megaoperação — diz um deles.

Uma moradora do Alemão, de 38 anos, fala do futuro com poucas esperanças:

— Eu coloco minha cabeça no travesseiro com medo de perder meus dois filhos para o tráfico. E mãe nenhuma deveria passar por isso. Me desanima pensar no nosso futuro, sabia? Não acredito mais na paz prometida, pelo menos não aqui dentro. Vejo a descrença como reflexo desses últimos anos. Não imaginei, lá em 2010, que hoje eu teria de conviver com a violência dos fuzis aqui na minha porta.

Para a diretora de programas do Instituto Igarapé, Melina Risso, apenas a presença policial não é suficiente para mudar o atual cenário de desesperança e frustração de moradores dentro dos complexos.

— A crise fiscal e a ausência de uma proposta clara a curto, médio e longo prazo para a segurança pública fizeram com que a violência voltasse a crescer e o quadro se deteriorasse — pondera.

Ela afirma que segurança não se faz só com polícia:

— Não há solução mágica, mas os caminhos são conhecidos e passam, primeiro, pela mudança da lógica da política de segurança. As pessoas precisam estar no centro da política, com planejamento, coordenação e integração. O eixo social das UPP nunca chegou com o volume necessário.

Sem respostas

Na última quinta-feira, foram encaminhadas perguntas à assessoria de imprensa da Polícia Militar sobre a situação das UPPs da Penha e Alemão. Nenhuma delas foi respondida. Ontem, alguns questionamentos foram refeitos, mas não houve manifestações.

Teleférico

A Secretaria estadual de Transportes informou que o projeto de recuperação das estações de energia do teleférico, elaborado em conjunto com a Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop), já está pronto. O próximo passo, segundo a pasta, será licitar e contratar as obras. A secretaria não informou os custos da recuperação ou a data de retomada do serviço. Hoje, as estações têm sido utilizadas como alojamento por policiais.

Novo cinema

O CineCarioca Nova Brasília deverá ser reaberto em 2021. Após o fim do contrato com o último exibidor, em 2019, e as obras de melhoria, o edital de contratação da nova empresa foi publicado no mês passado. Segundo a RioFilme e a Secretaria municipal de Cultura, o vencedor deverá estar definido até o fim deste ano.

Paes

Candidato à Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (DEM) destacou que projeta a retomada do programa Favela-Bairro, com obras de saneamento para melhorar o abastecimento de água e a coleta de esgoto. Também prometeu reformar unidades de saúde e escolas, ampliar vagas nas creches, qualificar jovens para o mercado e trabalho e estimular a inserção de crianças no esporte. Paes afirmou ainda que vai trazer de voltar os programas Guardiões dos Rios, Agente Comunitário de Saúde e Garis Comunitários para geração de empregos.

Crivella

Também procurado no último dia 18, Marcelo Crivella (Republicanos), prefeito e candidato à reeleição, não respondeu sobre as propostas para a região. A assessoria voltou a ser questionada ontem, mas não enviou os projetos.

 

Fonte:Extra

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