Em seis dias, cinco mulheres foram vítimas de feminicídio no estado do Rio

 

Antônio Carlos e Roseneia foram casados por 30 anos
Antônio Carlos e Roseneia foram casados por 30 anos Foto: Reprodução / Facebook

Do dia 31 de outubro até o dia 6 deste mês, pelo menos cinco mulheres foram mortas em diferentes regiões do estado. Um dos casos foi o assassinato da psicóloga Rosinéia Gomes Machado, de 62 anos, pelo ex-marido, o médico Antônio Carlos da Silva Pinto, no estacionamento de um shopping em Campo Grande. Rosinéia havia terminado o casamento de 30 anos após descobrir o filho de outro relacionamento do médico. Antônio não se conformou com a separação: no dia 31 de outubro, cometeu suicídio depois de matar a ex-mulher.

No rastro da violência que mata mulheres no estado, a Polícia Civil já sabe que a maioria dos casos é praticada por pessoas da família ou de amizade da vítima. E luta contra a subnotificação, já que muitos casos são registrados como homicídios simples por conta de uma série de fatores, entre eles o medo das famílias das vítimas de identificar os autores.

Este ano até setembro, foram registrados 52 feminicídios no estado contra 56 no mesmo período do ano passado, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Já o Tribunal de Justiça informa que este ano, até setembro, foram 54 casos.

No ano da pandemia, maior número de casos foi registrado em Comendador Soares, Nova Iguaçu na Baixada Fluminense, com quatro anotações. Segundo o Dossiê Mulher, do ISP, registraram dois casos, cada uma, das seguintes regiões: São Cristóvão, no Rio; de Belford Roxo, Posse, Nilópolis, na Baixada Fluminense; Neves, em São Gonçalo; Tanguá; Campos e Itaperuna.

Um estudo feito pela diretora das delegacias de Atendimento à Mulher (Deams), Sandra Ornellas, com dados sobre feminicidios de 2017 a 2019 mostrou que a maioria dos casos, quase 50%, ocorreu nas Zonas Norte e Oeste do Rio, especificamente em Campo Grande e em Santa Cruz. E, ainda assim, o número de subnotificações é grande.

— Na verdade, a gente tem muito mais casos do que aparece. Há ainda uma grande subnotificação. E não é um problema específico do Rio de Janeiro. É um problema de todo país. A questão é que os casos são registrados como homicídios e não como feminicídios. Há muita controvérsia em torno disso, mas o que é importante é distinguir o homicídio do feminicídio por que é um crime contra a mulher e a pena é aumentada. Quando você vai ver mais aprofundadamente os homicídios dolosos contra mulheres aconteceram dentro de casa cujos autores foram seus parceiros ou por algum familiar — disse.

A pena para homicídio é de 6 a 20 anos. Já o homicídio qualificado, seja por motivo fútil ou por não permitir demitir a defesa da vítima, varia de 12 a 30 anos.

Mudanças na metodologia

A delegada também revelou a ideia de se mudar o nome desse crime ou deixar em branco a qualificadora para o fim das investigações.

— Existem propostas no sentido de se adotar uma outra metodologia para se evitar isso aí. O Ministério da Mulher, através do Ministério da Justiça, estabeleceu protocolos que é para não colocar o tipo de crime antes do fim das investigações. Muitas vezes, o latrocínio (roubo com morte) é uma forma de dissimular um crime de feminicídio — diz Sandra Ornellas.

Investigações de feminicídio ganharam maior destaque na gestão do novo secretário Estadual de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski. O resultado foi o aumento na pontuação da elucidação desses casos de 4 para cinco pontos. Atualmente, crimes como lavagem de dinheiro têm 6 pontos, seguido por homicídio e feminicídio, ambos com cinco pontos. Ficam acima do roubo seguido de morte e da extorsão mediante sequestro.

Outros casos

As Delegacias de Homicídio da Baixada Fluminense e da Capital investigam os outros quatro casos. A Polícia Civil informou que diligências estão em andamento, em busca de informações que ajudem a identificar e esclarecer os assassinatos. Em todos os cinco casos de morte de mulheres, a suspeita da autoria dos crimes recai sobre os companheiros das vítimas.

Na noite do último dia 5, uma jovem de 21 anos, identificada como Luiza Helena do Nascimento Silva, foi assassinada a tiros, no bairro Sargento Roncalli, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. Segundo a família da vítima, que deixa dois filhos, um de 1 ano e 11 meses e outro de apenas 6 meses, Luiza teria sido executada na frente das crianças.

Também em Belford Roxo, vizinhos de Vanessa dos Santos, de 34 anos, a encontraram morta no dia 6, com sinais de facada, em um terreno baldio, próximo à casa onde ela vivia. Segundo testemunhas, o marido da vítima foi visto carregando o corpo de Vanessa em um carrinho de mão.

Outro homicídio ocorreu na Zona Oeste no Rio, onde Hevelyn Sant'ana Rosa, de 17 anos, levou um tiro na cabeça. O crime aconteceu na comunidade Carobinha, em Campo Grande. De acordo com a Polícia Militar, Hevelyn foi encontrada ainda com vida e socorrida em uma UPA da região, mas morreu durante o atendimento. Ainda segundo a polícia, Hevelyn estava em um carro com o suspeito do crime. O veículo foi encontrado, mas o namorado da vítima, Alexandre Velozo Soares, conhecido como Novinho ou Xaropinho, de 27 anos, fugiu.

A Delegacia de Homicídios da Capital está à procura de Alexandre. O Portal dos Procurados divulgou o cartaz com a foto do rapaz. O feminicídio aconteceu a noite de quinta-feira, dia 5, na comunidade da Carobinha. Segundo as investigações, o crime foi motivado por ciúmes, uma vez que Alexandre não aceitava o término da relação. A vítima já vinha recebendo ameaças de morte do suspeito, mas por receio de represálias, nunca registrou as ameaças à polícia. O suspeito seria integrante de uma milícia que age na Carobinha e que tem ligação com o grupo paramilitar do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, chefe da milícia no Estado do Rio

 

Fonte:Extra O Globo

Postar um comentário

0 Comentários