A
próxima legislatura da Câmara Municipal de São Paulo deve começar com
dois vereadores transgênero, fato inédito na capital paulista. Erika
Hilton (PSOL) e Thammy Miranda (PL), em espectros políticos diferentes,
ficaram entre os dez nomes mais votados na cidade.
Além
de ter chegado ao segundo turno na eleição para prefeito, com Guilherme
Boulos, o PSOL deve mais que dobrar a bancada no Legislativo. Em 2016, a
legenda elegeu dois nomes. Neste ano, deve fazer ao menos cinco
vereadores, alguns deles entre os maiores agregadores de votos.
O
candidato mais votado foi novamente Eduardo Suplicy (PT), com, 167 mil
votos, mas muito abaixo dos 301 mil que recebeu em 2016, recorde
histórico da Câmara. Mesmo assim, a votação expressiva deve fazer com
que o PT puxe outros candidatos.
Esta
foi a primeira eleição com a nova regra que acaba com as coligações
partidárias para vereadores, embora elas continuem valendo para
prefeito.
Até
a última eleição, as legendas podiam se juntar para conseguir eleger um
maior número de representantes pelo sistema proporcional. Agora, não
existem mais essas uniões partidárias que possibilitavam a ascensão de
eleger parlamentares de partidos pequenos –o que deve reduzir as
legendas no Legislativo.
O
segundo nome mais votado também é um velho conhecido do eleitorado
paulistano: ex-presidente da Câmara, Milton Leite (DEM) recebeu 132 mil
votos. Leite é uma espécie de cacique da zona sul da cidade, mais
conhecido que o próprio prefeito em algumas regiões.
Figura
importante da gestão Covas, ele indica cargos no Executivo e influencia
políticas, principalmente as relacionadas a empresas de ônibus, das
quais é próximo. Na campanha, foi um dos que participaram da escolha do
vereador Ricardo Nunes (MDB) para vice na chapa do prefeito.
Foram eleitos também personalidades da internet.
É
o caso do Delegado Palumbo (MDB), com 118 mil votos. Delegado da
Polícia Civil, ele comandava o Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos
e Assaltos) e é conhecido nas redes sociais. Só no Instagram, tem 478
mil seguidores.
Na
eleição, se vendeu com discurso forte na área da segurança pública, a
favor dos "direitos das vítimas", em suas palavras, e pedindo punição
maior a criminosos –ainda que alterações no Código Penal não possam ser
feitas por vereadores, mas pelo Congresso em Brasília.
Outro
policial civil e influenciador, neófito na política, eleito com
quantidade expressiva de votos (98 mil) foi Felipe Becari (PSD), que tem
1 milhão de seguidores na rede social e é ativista pela causa animal.
Entre
os nomes de peso entrou também Fernando Holiday, vereador que fez
barulho na última legislatura com propostas como o "escola sem partido"
(da qual se arrependeu depois). Havia temor do próprio vereador de não
ser reconduzido ao cargo. Seus eleitores, no entanto, o levaram ao
quinto lugar.
A
Câmara também elegeu os primeiros mandatos coletivos, como ficaram
conhecidas as candidaturas não de um vereador, mas um grupo de pessoas
que toma decisões em conjunto.
Essa tendência começou na última eleição à Alesp, quando Monica Seixas (PSOL) foi eleita "codeputada" com mais sete pessoas.
Neste
ano, o PSOL elegeu a Bancada Feminista e o coletivo Juntas Mulheres Sem
Teto. O formato , no entanto, não é reconhecido pela Justiça Eleitoral
nempelo regimento da Câmara. Por isso, a urna mostra a foto e nome de
uma das "covereadoras", Silvia Ferraro. As outras "covereadoras" devem
ser nomeadas assessoras do gabinete.
As
bancadas coletivas têm ajudado a eleger legisladores que poderiam ter
menos votos (uma vez que multiplica o número de cabos eleitorais) e
projetar nomes que depois podem disputar uma vaga sozinhos.
Foi
o caso de Erika Hilton, que era uma das "codeputadas" do mandato
coletivo encabeçado por Monica Seixas na Alesp, e agora a sexta mais bem
votadas para a Câmara Municipal.
Já
Thammy, o nono mais bem votado neste ano, tentara a vaga em 2016 e
ficara como suplente. Em 2019, quase assumiu após o vereador Camilo
Cristófaro ser cassado, mas o parlamentar retomou o cargo por decisão da
Justiça.
Nomes
apoiados por caciques, por outro lado, tiveram desempenho abaixo do
esperado. Sonaira Fernandes (Republicanos) era a aposta do presidente
Jair Bolsonaro, que a mencionou em transmissões ao vivo e fez aparições
ao seu lado. Fernandes teve 18 mil votos e não ficou entre os 55 nomes
mais votados, mas ainda pode entrar na Câmara se for puxada pelo
quociente eleitoral.
Também
pela esquerda, foi eleito William De Lucca (PT), uma das apostas do
partido que ganhou o número 13000, de fácil memorização. Ele chegou a
fazer um ensaio de fotos com o ex-presidente Lula e o ex-prefeito
Fernando Haddad durante a campanha. Nas urnas, no entanto, teve pouco
mais de 6 mil votos.
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