O consumo de munição do 15º BPM (Duque de Caxias), onde são lotados os policiais investigados pelos homicídios das meninas Emilly Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7 anos, disparou nos últimos meses. Só em novembro, a unidade descartou 6.238 cartuchos de fuzil usados por agentes em serviço, segundo mapas de munição do batalhão obtidos pelo EXTRA. A quantidade é 75% maior do que a eliminada em setembro e mais de três vezes maior do que a eliminada em julho, quando 1.479 cartuchos foram descartados. A eliminação de munição se dá, na maioria das vezes, até dois meses após seu uso, segundo oficiais ouvidos pelo EXTRA.
A explosão no uso de munição pelo 15º BPM acontece paralelamente ao aumento de mortes em ações da polícia na região patrulhada pelo batalhão. De setembro para outubro, os casos passaram de 5 para 12. Em outubro, a área foi a quarta com mais casos em todo o estado. Procurada, a PM alega que o crescimento no número de munição descartada aconteceu porque “o material é reunido durante vários meses e encaminhado num único montante” para a eliminação.
As famílias de Emilly Victória e Rebeca Beatriz contestaram a versão dos policiais militares envolvidos no caso. Em depoimento na Delegacia de Homicídios (DH), as testemunhas contaram que PMs deram disparos enquanto perseguiam dois ocupantes de uma moto numa via de acesso à Favela do Barro Vermelho, onde as crianças moravam.
Ainda segundo o relato dos parentes das meninas, só policiais atiraram, pela janela, embarcados no carro. A família acredita que o mesmo tiro de fuzil tenha matado Rebecca e Emilly. As duas crianças brincavam em frente a casa onde moravam na ocasião.
Os PMs afirmam que não atiraram na ocasião. Eles alegam que foram chamados, pelo rádio, para checarem um caso de furto de veículo próximo à favela e ficaram na esquina esperando que o carro saísse da comunidade. Eles afirmaram que foram embora logo depois e chegaram a ouvir titos, que não responderam. Cinco fuzis e pistolas que estavam com os PMs no momento dos crimes já foram apreendidas; a Polícia Civil faz a perícia.
No fim da tarde, o governador em exercício, Cláudio Castro, recebeu os parentes das meninas no Palácio Guanabara e garantiu uma investigação imparcial. Lídia da Silva Moreira Santos, avó da menina Emilly, 4 anos, fez um desabafo.
— Teve confronto? Estava tendo guerra na favela? Estava tendo alguma coisa? Não. Porque um policial que se diz preparado, a pessoa estuda, a pessoa treina para atirar. Quem é que pode explicar porque isso aconteceu? É despreparo? Como é que eu vou atirar? Numa rua com pessoas chegando do trabalho, criança brincando e ninguém está atirando em mim — disse Lídia a Castro
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