SÃO PAULO — O empresário Saul Klein, filho do fundador da Casas Bahia, é investigado pelo Ministério Público de São Paulo por acusações de estupro e aliciamento de ao menos 14 mulheres.
Saul é filho de Samuel Klein (morto em 2014) e irmão de Michael Klein, principal acionista individual da Via Varejo, varejista dona das marcas Ponto Frio e Extra.com.Um comunicado da Via Varejo ao mercado diz que Saul Klein nunca teve relação com a companhia. A Via Varejo foi criada em 2010 com a fusão entre Casas Bahia e Ponto Frio e a entrada do Grupo Pão de Açúcar. Saul foi diretor da Casas Bahia durante muitos anos, e permaneceu na varejista durante algum tempo mesmo depois de ter vendido sua participação na empresa para o irmão Michael.
De acordo com a investigação, Saul Klein teria estuprado e aliciado ao menos 14 mulheres em festas particulares realizadas ao longo de anos em sua casa, o que sua defesa nega. Por decisão judicial, ele não pode se aproximar das denunciantes e nem pode deixar o país.
O caso foi noticiado pelo jornal “Folha de S.Paulo” na terça-feira (22) e confirmado pelo EXTRA. O inquérito corre em sigilo.
Foram instaurados até o momento dois inquéritos policiais para apurar eventuais crimes. Um deles, que averiguava eventual exploração sexual de uma menor de idade por Klein, foi arquivado, segundo a defesa do empresário, em julho.
A outra investigação apura se as 14 denunciantes foram aliciadas pelo empresário e se foram abusadas ou estupradas por ele. A investigação apura se o empresário mantinha as moças incomunicáveis em festas particulares com dias de duração e na presença de seguranças, realizadas em sua mansão em Alphaville, bairro nobre de Barueri (SP).
A investigação também quer esclarecer se havia a presença de menores de idade com documentos falsos nesses eventos.
‘Sugar Daddy’
As festas são confirmadas pela defesa de Klein, segundo a qual todas as mulheres participaram de forma livre e espontânea dos eventos, que não necessariamente envolviam atos sexuais.
Segundo André Boiani e Azevedo, advogado criminalista que representa Saul Klein nesse caso, o empresário era um "sugar daddy", nome dado a homens, em geral com mais de 40 anos, que têm fetiche em manter relações com mulheres mais jovens nas quais dão presentes caros a elas.
Azevedo diz que as supostas vítimas teriam sido convencidas a fazer denúncias falsas pela dona da agência contratada por Klein para organizar as festas. A empresária, de acordo com a versão do advogado de Klein, teria extorquido o empresário entre março de 2018 e março de 2019. O nome da empresária e das 14 denunciantes está sob segredo de Justiça.
— Não se nega a existência de relacionamentos na modalidade hoje conhecida como ‘sugar’. Klein se utilizava dos serviços de uma empresa que fazia os eventos, cuidava da música e levava as modelos que frequentavam esses eventos. A presença delas era paga sem nenhuma condição de sexo. Nesses eventos, ele se aproximava das moças com que tinha mais afinidade e passou a ter alguns relacionamentos com algumas, sempre com consentimento — afirmou ao EXTRA.
As festas poderiam durar eventualmente de quinta a domingo, de acordo com Azevedo, que admite que a segurança de Klein pedia que as mulheres não permanecessem com celulares para evitar que registrassem fotos dos eventos. “Porém, nenhuma moça jamais foi obrigada a permanecer no local caso quisesse ir embora; nenhuma delas jamais foi proibida de ter acesso a seu aparelho telefônico caso precisasse ou quisesse falar com alguém; nenhuma modelo sofreu qualquer ameaça por parte do Sr. Saul Klein ou de qualquer de seus funcionários ou seguranças”, diz o advogado em nota.
A presença de menores de idade era vedada e fiscalizada, de acordo com Azevedo, por meio da checagem de documentos.
— A única forma que Klein tinha (de garantir que as frequentadoras de suas festas particulares eram maiores de idade) era a verificação de documentos, e isso era feito quando elas chegavam ao evento. Já foi demonstrado por prova que consta no inquérito anterior que uma das moças que ia (aos eventos) falsificava documentos. Existe a chance de ter alguém comparecido ao evento sendo menor de idade? Bom, a mesma chance de alguém entrar no cinema com carteirinha falsa de meia entrada — diz o advogado.
Essas festas foram algo frequente, de acordo com Azevedo, por ao menos dez anos. As supostas tentativas de extorsão tiveram início em março de 2018, quando a dona da empresa responsável por organizar os eventos afirmou que duas mulheres tinham fotos íntimas de Klein e que ameaçavam divulgar as imagens. O empresário então teria concordado em fazer pagamentos que, ao todo, superaram R$ 1 milhão e que foram suspensos em março de 2019, quando o empresário teria decidido suspender a relação com a organizadora das festas .
Ao menos duas das 14 denunciantes firmaram acordos extrajudiciais com Klein para que o conteúdo não fosse divulgado, segundo Azevedo.
— As relações ‘sugar’ não eram segredo para familiares e para amigos próximos de Klein, mas ele não queria que isso fosse divulgado. A dona da empresa (que organizava os eventos) se associou a algumas mulheres para tentar ganhar ainda mais dinheiro do Saul com alegações falsas. Fizeram ao menos quatro ações trabalhistas, ações cíveis, e agora há o inquérito. Estamos tranquilos em relação ao processo porque nada do que foi feito é crime — diz Azevedo.
Fonte;Extra
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