Jornalista que mostrou crise da Covid-19 em Wuhan é condenada a 4 anos de prisão

 Pessoas com máscaras de proteção caminham em rua de Wuhan, na China

Um tribunal chinês decretou pena de quatro anos de prisão para Zhang Zhan, uma jornalista independente que produziu reportagens sobre a cidade de Wuhan no auge do surto de Covid-19 no início de 2020. A chinesa, que antes atuava como advogada, foi considerada culpada por "brigar e causar problemas", disse seu defesa.

O crime é comumente atribuído pelo governo chinês a dissidentes e ativistas de direitos humanos.

Zhang Zan, 37, foi a primeira pessoa a ter sido julgada nesta segunda-feira (28). Há ainda outros processos vigentes contra autores de imagens que mostraram hospitais lotados e ruas vazias em Wuhan, exibindo ao mundo um quadro mais grave do primeiro epicentro da pandemia do que a narrativa oficial.


Pessoas com máscaras de proteção caminham em rua de Wuhan, na China
Pessoas com máscaras de proteção caminham em rua de Wuhan, na China, epicentro da Covid-19
Foto: Aly Song - 03.abr.2020/ Reuters

"Provavelmente apelaremos", disse o advogado Ren Quanniu à agência Reuters, acrescentando que o julgamento em um tribunal em Pudong, distrito do centro de negócios da China em Xangai, terminou às 12h30 (horário local), com Zhang condenada a quatro anos de prisão.

"A Sra. Zhang acredita que está sendo perseguida por exercer sua liberdade de expressão", disse ele antes do julgamento.

Críticas às primeiras medidas da China contra a pandemia foram censuradas, quando delatores, como médicos, alertavam sobre a gravidade do novo coronavírus. Depois de o país conseguir controlar o vírus, a mídia estatal atribuiu o sucesso em conter a propagação da doença à liderança do presidente Xi Jinping.

O vírus, até o momento, já infectou mais de 80 milhões de pessoas e matou mais de 1,76 milhão em todo o mundo, além de levar a medidas restritivas que geram impactos econômicos globalmente.

Em Xangai, a polícia reforçou a segurança do lado de fora do tribunal onde o julgamento foi iniciado sete meses após a detenção de Zhang, embora alguns defensores não tenham se intimidado.


Um homem em uma cadeira de rodas, que disse à agência Reuters que veio da província central de Henan para demonstrar apoio a Zhang como uma colega cristã, escreveu o nome dela em um cartaz antes que a polícia chegasse para escoltá-la.

Jornalistas estrangeiros foram impedidos de entrar no tribunal "devido à epidemia", disseram funcionários de segurança do tribunal.

Até então advogada, Zhang  viajou de Xangai até Wuhan, onde chegou em 1º de fevereiro, para mostar a situação na cidade. 

Seus curtos vídeos foram postados durante cerca de três meses, enviados a plataformas como Wechat, Twitter e YouTube - os dois últimos bloqueados na China.

Os registros consistiam em entrevistas com residentes, comentários e imagens de um crematório, estações de trem, hospitais e o Instituto de Virologia de Wuhan.

Detida em meados de maio, ela fez greve de fome no final de junho, afirmam documentos judiciais vistos pela Reuters.

Seus advogados disseram ao tribunal que a polícia amarrou suas mãos e a alimentou à força com um tubo. Em dezembro, ela estava sofrendo de dores de cabeça, tontura, dor de estômago, pressão baixa e infecção na garganta.

Os pedidos ao tribunal para libertar Zhang sob fiança antes do julgamento e a transmissão ao vivo do tribunal nesta segunda-feira foram ignorados, disse seu advogado.

Outros "jornalistas-cidadãos" (pessoas que podem não ter formação em jornalismo, mas produziram reportagens) desapareceram sem explicação na China, incluindo Fang Bin, Chen Qiushi e Li Zehua.

Embora não haja notícias de Fang, Li reapareceu em um vídeo no YouTube em abril para dizer que foi colocada em quarentena à força, enquanto Chen, embora liberado, está sob vigilância e não falou publicamente, disse um amigo.

* Com informações de Brenda Goh e Yew Lun Tian, da Reuters; e Nectar Gan e James Griffiths, da CNN

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