O Órgão de Fiscalização do Conselho dos Guardiães do Irã aprovou uma lei nessa quarta-feira (2) que obriga o governo do país a interromper as inspeções da Organização das Nações Unidas (ONU) nas instalações nucleares iranianas, e a aumentar o enriquecimento de urânio além do limite estabelecido no acordo nuclear de 2015, caso as sanções contra o país não sejam abrandadas em até dois meses.
Em retaliação à morte do principal cientista nuclear iraniano na semana passada, episódio o qual Teerã atribui culpa a Israel, o Parlamento do país aprovou o projeto com grande maioria, endurecendo a posição do Irã sobre o assunto.
O Conselho dos Guardiães é um órgão político do Irã que visa garantir que as leis aprovadas pelo Parlamento estejam de acordo com a Constituição e a lei islâmica. Contudo, é o aiatolá Ali Khamenei quem tem a última palavra sobre todos os assuntos de estado – e a opinião dele sobre o projeto ainda é desconhecida.
“Hoje, em uma carta, o líder do Parlamento pediu oficialmente ao presidente para implementar a nova lei”, informou a Fars, agência de notícias semioficial do Irã.
O que prevê a nova lei
A nova lei estabelece que Teerã dê dois meses para que as partes europeias do acordo nuclear aliviem as sanções contra os setores financeiro e de petróleo do Irã, impostas após Washington deixar o pacto feito com o Irã e outras seis potências em 2018.
Sob a nova legislação, o governo poderia retomar o enriquecimento de urânio a 20% e instalar centrífugas avançadas nas instalações nucleares de Natanz e Fordow.
O pacto atual limita a pureza até a qual o Irã pode refinar urânio em 3,67%, muito abaixo dos 20% atingidos antes do acordo. Teerã ultrapassou o limite de 3,67% em julho de 2019 e o nível de enriquecimento permaneceu estável em 4,5% desde então.
Relação com EUA
Em resposta à política de “pressão máxima” do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra os iranianos, Teerã vem reduzindo gradualmente o cumprimento do acordo. O projeto em questão tornaria mais difícil para o presidente eleito dos EUA, Joe Biden – que tomará posse no dia 20 de janeiro –, voltar a aderir ao pacto.
Biden já disse que voltará ao acordo e aliviará as sanções, se Teerã retornar ao “estrito cumprimento do acordo nuclear”.
“Há agora mais pressão sobre o governo do [presidente do Irã, Hassan] Rouhani para garantir o retorno dos EUA ao JCPOA [Plano de Ação Conjunto Global, em inglês] rapidamente”, disse Ariane Tabatabai, pesquisadora de Oriente Médio do German Marshall Fund e da Universidade de Columbia, no Twitter.
Rouhani, que ajudou a arquitetar o pacto de 2015, criticou a decisão do Parlamento e afirmou que ela é “prejudicial aos esforços diplomáticos” que tentam aliviar as sanções norte-americanas.
(Com Reuters)
0 Comentários