Uma dor avassaladora se repete em menos de um mês e deixa uma família
devastada na cidade de Mundo Novo, região da Chapada Diamantina.
Enquanto tentavam se erguer da perda brutal da doméstica Jenilde de Jesus Pinheiro, 24 anos,
assassinada a facadas pelo ex-marido no último Natal (25), parentes
dela tiveram que lidar com mais um caso de feminicídio no seio familiar.
Nesta quarta-feira (20), a prima de Jenilde, a lavradora Rosineide Luiz
da Silva, 25, morreu pelas mãos do companheiro, que também lhe
esfaqueou.
“Duas perdas que acabaram com a gente. Estamos sem
chão. Está sendo muito difícil lidar com essa situação. A gente nunca
está preparado para perder um parente, imagina dois em tão curto tempo? E
pela forma que aconteceu.... Estamos todos arrasados. Nossa família
está toda destruída”, disse um parente das primas que preferiu não se
identificar.
As duas eram mães e foram mortas na frente de seus
filhos pequenos. “A maldade que eles cometeram com elas na frente das
crianças. Isso não está sendo fácil para nós, os familiares, que estamos
com as crianças. Está sendo bem difícil, porque uns caras desses não
têm coração, não têm sentimento”, declarou o familiar.
Para além do parentesco, Jenilde e
Rosineide moravam na mesma rua. “Elas se davam muito bem e se viam de
vez em quando, porque Jenilde saia cedo para trabalhar. Sempre que
Jenilde ia ao mercado, passava na casa de Rosineide, porque é caminho.
As mortes delas foram uma triste coincidência. Nunca vi um negócio
desses”, lamentou o parente.
Gritos
A
tragédia mais recente na família aconteceu na noite de ontem, por volta
das 17h, na Rua do Sape, próximo ao Hospital Municipal de Mundo Novo.
Mãe de quatro filhos, o mais velho tem 12 anos, Rosineide tinha acabado
de chegar em casa depois de ter indo ver uns amigos. Além das crianças,
no imóvel estava também Nenê, com quem mantinha uma relação há um ano.
Logo em seguida, os vizinhos escutaram os gritos. “O pessoal acostumado
a ver ela gritando com os meninos, reclamando, não deu muita atenção.
No espaço de alguns segundos, os meninos saíram gritando o nome da avó,
pedindo socorro: “minha mãe está furada, minha está furada, socorro’.
Falando bem assim. Quando os vizinhos chegaram, viram que era verdade
mesmo”, contou o familiar.
Rosineide chegou a ser socorrida para
o hospital da cidade, mas não resistiu. Ela sofreu duas perfurações. O
parente disse ainda que desconhece o motivo do crime. “Os vizinhos
disseram que eles brigavam muito, mas não sei informar muita coisa
porque moro distante dela”, declarou.
Segundo a Polícia Civil,
horas após a morte crime, o companheiro da vítima foi preso em
flagrante, sendo autuado por feminicídido. Durante o depoimento, o
suspeito negou a autoria do crime. “As apurações continuarão sendo
realizadas pelas equipes da delegacia de Mundo Novo, para a conclusão do
inquérito”, informou a polícia.
O sofrimento da família
começou no dia que era para de felicidade, 25 de dezembro no ano
passado. Jenilde foi agredida com um murro no olho e recebeu cinco
golpes de faca após seu ex-companheiro, Anselmo dos Santos Reis, 31, ter
invadido a casa onde a vítima morava com as filhas pequenas pela porta
dos fundos. Ele foi preso no seguinte ainda na cidade.
De
acordo com a polícia, por volta das 20h30, uma guarnição foi acionada
para atender a uma ocorrência de tentativa de feminicídio na Rua do
Hospital. Ao chegar ao local, os policiais foram informados que Jenilde
havia sido esfaqueada e que populares já haviam socorrido a vítima para o
hospital municipal.
De acordo com o irmão da vítima, Jenilson
de Jesus Pinheiro, 29, Jenilde estava em casa com as filhas de 5 e 6
anos, que presenciaram o crime. Ela chegou a ser transferida para o
Hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, mas não resistiu aos
ferimentos.
Jenilson contou ainda que Jenilde e Anselmo
namoravam desde a adolescência e viveram juntos por 13 anos. O casal
estava separado há cerca de nove meses.
Nova regra do Ministério da Saúde garante sigilo em casos de violência contra a mulher
Uma nova lei obriga as unidades de saúde a manterem o sigilo das
informações da vítima e do profissional que a atendeu – seja um médico,
enfermeira ou diretor do setor - ao informar à polícia os casos de
violência contra a mulher. Nem os nomes nem os endereços serão
divulgados às autoridades, apenas dados como idade, local de ocorrência e
tipo de violência. A nova determinação foi publicada através de uma
portaria GM/MS Nº 78, pelo Ministério da Saúde (MS), no Diário Oficial
da União, na última terça-feira (19). Segundo a desembargadora Nágila
Brito, presidente da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça da
Bahia (TJ-BA), o objetivo é garantir a preservação da vida da mulher e
não inibí-la de buscar tratamento médico, por receio de denunciar.
“Sempre se teve dúvidas em relação à questão do sigilo dos dados. E nós que trabalhamos com a matéria nos preocupamos com o fato de isso poder afugentar a mulher em relação à assistência à saúde, de ela deixar de buscar auxílio nos hospitais e também de o médico deixar de encaminhar os dados de atendimento”, argumenta a desembargadora. “O bem maior é a saúde e a vida, que as mulheres têm direito. A gente tem que fazer tudo para garantir a saúde e a vida. É prioritariamente o que a gente pretende”, completa Nágila.
A portaria discorre sobre dois instrumentos legais: a notificação compulsória, para os casos de violência não tão graves, e a comunicação externa, em que a polícia e o Ministério Público são acionados para intervir. É o que explica a presidente da Coordenadoria da Mulher. “A lei traz dois instrumentos, a notificação compulsória, que é para aqueles casos de lesões que não sejam tão graves. Todos os casos em que haja suspeita de violência contra mulher têm que ser notificados compulsoriamente. Então vão os dados, só que sigilosamente. Ou seja, são dados dos fatos, idade da vítima, local onde ocorreu. Nos casos graves, tem outro instrumento na lei, que se chama comunicação externa, para os casos graves, em que coloca em risco a vida da vítima ou possa colocar em risco também a comunidade”, explica.
De acordo com a desembargadora, esses dados também poderão ajudar na construção de políticas públicas. Ela deu o exemplo de uma plotagem de um carro de polícia com informações de combate à violência contra a mulher ou divulgando informações sobre a Lei Maria da Penha. “A pessoa que esteja praticando vai ficar com um pouco de receio, porque está vendo que a polícia está ali e a presença do estado policial às vezes pode inibir”, diz.
Fonte;Correio 24 Horas
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