Polícia Civil do Rio compra dois mil novos coletes ao custo de R$ 19,6 milhões

 Cada colete custou entre R$ 9,1 mil e R$ 9,6 mil: variação se deu por causa do tamanho

A Polícia Civil reforçou o equipamento para seus agentes com a compra de dois mil coletes à prova de balas, em novembro do ano passado, que têm a capacidade de resistir a tiros de fuzil. O montante adquirido é para apenas 25% do efetivo — cerca de nove mil homens. Num primeiro momento, eles beneficiarão policiais lotados em delegacias especializadas, grupos operacionais de delegacias distritais e na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O material deverá chegar em março, e custou aos cofres públicos R$ 19,6 milhões. 

Com alguns coletes vencidos há pelo menos cinco anos, policiais civis e o Sindicado dos Policiais Civis do Rio (SindPol) já vinham requisitando a troca deles há algum tempo. Uma ação judicial contra a Secretaria estadual de Polícia Civil, para que ela atualizasse todo o equipamento de proteção, corre na Justiça do Rio.

De acordo com a delegada Valéria de Aragão Sádio, subsecretária de Gestão Administrativa da Polícia Civil, desde 2019 uma comissão vem se reunido para traçar estratégias para a compra dos coletes. O objetivo, segundo ela, era “escolher um material adequado para a realidade do Rio de Janeiro”, já que “a criminalidade usa diversos tipos de munições”.

— São os primeiros dois mil (coletes). Logicamente, estamos pensando na compra de mais — afirma Valéria.

Cada colete custou ao estado entre R$ 9,1 mil e R$ 9,6 mil. Essa variação se deu por causa do tamanho: segundo a Civil, foram adquiridas medidas P (mil unidades), M (700) e G (300). Foi exigido que esses coletes seguissem alguns critérios, como ter certificação internacional, proteção para disparos de fuzis e placas de metal para dar proteção na frente, no dorso e nas laterais. O material adquirido é o de nível III, considerado o mais seguro.

— Temos uma criminalidade que utiliza diversos tipos de munição, inclusive de fuzil. Então, foi necessário pensar em um colete adequado para que o policial tenha a sua disposição uma proteção que preservasse a sua vida e a sua integridade física — explicou a subsecretária, que acrescentou: — Buscamos no mercado nacional (o produto), e havia coletes disponíveis com certificação internacional atendendo às especificidades pedidas. No ano passado, fizemos um processo licitatório. No mês de dezembro, houve um pregão eletrônico, e algumas empresas participaram. Por serem três tamanhos (P, M e G), duas empresas foram as vencedoras. As duas tem a mesma qualidade de material, e o preço licitatório foi chancelado pelos órgão reguladores. O contrato foi assinado no mês de dezembro, e esses coletes chegarão 90 dias após essa assinatura.

A subsecretária salienta que “no Brasil nenhum órgão militar ou policial adquiriu material com tais inovações tecnológicas e com nível de proteção balística”.

Apenas duas empresas participaram da licitação. E foram as duas que ganharam os leilões: a Inbraterrestre Indústria e Comércio de Materiais de Segurança LTDA, vencedora do Lote 1 (P), cujo valor de lance final foi de R$ 9,1 mil por colete; e Glacio do Brasil LTDA, vencedora dos lotes 2 e 3 (M e G), cujo valor final foi de R$ 9,6 mil por colete.

As disputas nos pregões aconteceram nos dias 12 e 24 de novembro do ano passado. No dia seguinte, 25 de novembro, o governo do Estado do Rio fez a homologação e empenhou R$ 19.652.500 para a compra. Dois dias depois, no dia 27, a informação da aquisição dos equipamentos saiu no Diário Oficial do Estado. Entretanto, as empresas só receberão do dinheiro quando entregarem os produtos.

Suor deixa o material mais danificado

Pedindo para não ser identificado, o delegado de uma especializada conta que desde 2018 os coletes de sua equipe estão vencidos. O policial garante que não deixou de comandar operações, mas afirma que a situação o deixa com medo:

— Nos causa um temor, porque entramos em locais conflagrados. É um equipamento importantíssimo para nós.

Segundo o especialista em armas Vinícius Cavalcante, “o fato de estar vencido não significa que o colete está imprestável”. No entanto, ele alerta que “a situação dos policiais civis é diferente” e que o colete vencido deve ser trocado o quanto antes:

— O problema é que a fibra absorve umidade e vai causando problemas no equipamento. A umidade é um problema.

Ação movida por sindicato

Fábio Neira, presidente da Coligação dos Policiais Civis do Rio (ColPol) e presidente em exercício do Sindicato dos Policiais Civis do Rio (SindPol), lembra que “essa compra de coletes é algo que originou de uma ação” das instituições que ele representa. Para Neira, é preciso que a Polícia Civil troque todos os coletes balísticos.

— Parte dos nossos coletes está vencida. Movemos uma ação para a regularização da validade dos coletes, que tem que ser em sua totalidade e não em parte dela. Esse instrumento é considerado para a gente, depois da arma, o nosso principal equipamento de proteção individual (EPI) Hoje, no Rio, é indispensável o uso de colete em qualquer diligência. Não é só para operação. O colete é mais apropriado para operações, mas é necessário em todo momento — destaca.

Perguntado se está de acordo com a estratégia da Polícia Civil em entregar, neste primeiro momento, as proteções apenas para delegacias especializadas, grupos operacionais de delegacias distritais e para a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), o presidente do ColPol e do SindPol conta que “não concorda com a escolha da entrega”, mas “é o que tem”:

— Só tem esses, que não vão atender todo mundo. Esse é um critério da Polícia Civil. Colete tem que ser para todos. O melhor dos mundos, o certo, seria que todos tivessem o EPI. Mas, neste momento, é o que tem. Não vi o colete, mas o que tem chegado para a gente é que o material é de primeiro mundo, que ele é apropriado para o enfrentamento do cenário criminoso do Rio

Fonte:Extra o Globo


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