O cabo da Polícia Militar Rodrigo Silva das Neves foi preso, na tarde desta terça-feira, numa operação conjunta das polícias Civil da Bahia e do Rio de Janeiro. Ele é um dos quatro suspeitos apontados pelos investigadores por participação na morte do contraventor Fernando Iggnácio, em novembro do ano passado, num heliporto, no Recreio dos Bandeirantes. De acordo com os agentes, ele estava escondido numa pousada, na cidade baiana de Canavieiras, na Região Sul do estado do nordeste.
A Polícia Civil chegou ao cabo Rodrigo após uma ligação anônima feita para o Centro Integrado de Comunicações (Cicom) da corporação baiana. Equipes da 6ª (Itabuna) e 7ª (Ilhéus) Coordenadorias Regionais de Polícia do Interior (Coorpins) e da 71ª CIPM, então, localizaram o PM, foragido da Justiça. Um outro homem, encontrado com ele, também foi preso.
Os dois, de acordo com a polícia da Bahia, foram encaminhados para a sede da 7ª Coorpin, na cidade de Ilhéus. Após exames, no Departamento de Polícia Técnica (DPT), o homem, que também é apontado pelos agentes como miliciano, ficará à disposição da polícia do Rio.
— Trabalhamos em parceria com as forças de segurança dos outros estados, visando sempre o combate ao crime organizado. As equipes de Ilhéus e Itabuna, com apoio da PM, vão apurar se o miliciano só se escondia na Bahia, ou se praticava algum tipo de crime — disse o diretor do Departamento de Polícia do Interior (Depin), delegado Flávio Góis.
Além de Rodrigo, são acusados pelo crime o PM de São Paulo Otto Samuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro, conhecido como Otto; o ex-PM do Rio Pedro Emanuel D’Onofre Andrade Silva Cordeiro, o Pedrinho, de 29 anos, que é irmão de Otto, e Ygor Rodrigues Santos da Cruz, o Farofa, de 25 anos. Os três últimos são considerados foragidos da Justiça.
Ligação com Rogério Andrade
Segundo a polícia, o cabo das Neves tem fortes ligações com a contravenção. Ele aparece em fotos nos camarotes da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo patrono é o bicheiro Rogério Andrade, rival de Iggnácio. Aos amigos, o PM teria dito que fazia a segurança da quadra. Os dois travavam uma disputa, há mais de 20 anos, pelo domínio de território na exploração de máquinas de caça-níqueis.
Poucos dias após o crime, os investigadores encontraram quatro armas que foram apreendidas num apartamento ligado ao PM, num condomínio em Campo Grande. Exames de confronto de balística constataram que duas delas, um fuzil FAL e um AK-47, foram usadas no assassinato de Iggnácio.
Má reputação na PM
Na ficha de Das Neves, como o cabo era conhecido, ele era avaliado como péssimo policial. Sua folha de faltas e atrasos era extensa. Coincidentemente, um dia depois do homicídio de Iggnácio, em 11 de novembro, foi publicado em boletim da corporação que o PM era reincidente em “mau comportamento”. Por isso, estava respondendo a um Conselho de Revisão e Disciplina (CRD), que poderia culminar com a sua exclusão da Polícia Militar.
Na noite de quarta-feira, o cabo constava na escala de serviço no período noturno, mas não apareceu. Ele trabalhava numa cabine na área do Centro. Se ele não comparecer por sete dias, a partir do dia 18, será considerado desertor pela PM. Para a DH, no entanto, ele já é um foragido da Justiça. O último dia em que foi visto na corporação foi no domingo, quando trabalhou nas eleições. Além das faltas e atrasos, consta em sua ficha duas anotações de violência doméstica pela Lei Maria da Penha.
Além das faltas e atrasos, consta em sua ficha duas anotações de violência doméstica pela Lei Maria da Penha. Foi na casa da mulher do cabo, em Campo Grande, que a DH encontrou quatro fuzis, sendo que dois deles, segundo a perícia, foram usados no crime contra o bicheiro. Policiais da DH e da corregedoria também fizeram buscas na casa de uma irmã dele, na área do 14º BPM (Bangu), mas nada encontraram.
— Apesar de a ficha dele ter atrasos, faltas e casos de violência doméstica, não se imaginava que ele pudesse estar envolvido numa execução. Ele dava serviço numa cabine — comentou a tenente-coronel Gabryela Reis Dantas, que comanda a Coordenadoria de Comunicação Social da PM. — Ele ainda pode se apresentar na corporação ou na DH — disse a porta-voz.
Rastro do crime
Para identificar os quatro criminosos que executaram o contraventor, o titular da DH, Moysés Santana, percorreu 40 quilômetros do local do crime até Campo Grande, em busca de imagens de câmeras de segurança, tanto da prefeitura, quanto privadas. As buscas fizeram com que os investigadores chegassem a um condomínio, onde morava a namorada do cabo das Neves. Uma das imagens mostra uma cena dos quatro saindo do local rindo, sem demonstrar que haviam acabado de cometer um homicídio. Eles teriam ido esconder dois fuzis, um Fal e um AK-47, usados no crime.
Extra O Globo
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