Trump pode designar Cuba como patrocinadora do terrorismo


Donald Trump, presidente dos Estados Unidos


O governo de Donald Trump tomará medidas nos próximos dias para denunciar Cuba como um Estado patrocinador do terrorismo. É um esforço de última hora para criar obstáculos para o próximo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que provavelmente buscará laços mais próximos com Havana.

Uma autoridade do alto escalão do governo disse à CNN que o secretário de Estado Mike Pompeo deverá fazer a declaração em breve. Um segundo funcionário confirmou que as discussões estão ocorrendo, embora o momento de divulgação seja incerto.

O governo cubano já denunciou a medida, que é uma entre várias iniciativas ousadas que o governo Trump está tomando na tentativa de deixar uma marca duradoura na política externa dos EUA, faltando apenas três semanas para o presidente deixar o cargo.

Atualmente, apenas três outras nações são designadas como terroristas pelos EUA: Irã, Coreia do Norte e Síria. O Sudão foi recentemente removido da lista como parte de seu acordo para normalizar os laços com Israel.

Tal designação imporia limitações à ajuda externa dos Estados Unidos, proibição de exportações e vendas de equipamentos de defesa, certos controles sobre as exportações de outros produtos e várias restrições financeiras. Também resultaria em penalização contra quaisquer pessoas e países que se envolvessem em certas atividades comerciais com Cuba.


O jornal The New York Times foi o primeiro a informar que Pompeo estava considerando a designação. Um porta-voz do Departamento de Estado se recusou a comentar o assunto na terça-feira (29). “Não discutimos deliberações ou potenciais deliberações sobre designações”, justificou. A Casa Branca também evitou comentários quando contatada pela CNN.

O ímpeto para formalizar a designação havia diminuído nos últimos meses, quando um dos defensores originais do plano, Mauricio Claver-Carone (um advogado cubano-americano de retórica agressiva) deixou o Conselho de Segurança Nacional para se tornar presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

O grupo de Cuba do Departamento de Estado também é contrário à medida, segundo um ex-funcionário do governo.

No entanto, outros dentro do governo, incluindo Elliott Abrams, representante especial de Trump para a Venezuela, e Michael Kozak, alto funcionário do Hemisfério Ocidental, bem como os senadores republicanos da Flórida Marco Rubio e Rick Scott, mantêm apoio à ideia.

“Alguns membros do governo Trump querem colocar Cuba de volta à lista de patrocinadores estatais do terrorismo desde 20 de janeiro de 2017”, afirmou John S. Kavulich, presidente do Conselho de Comércio e Economia EUA-Cuba.

“O governo Trump alterou a definição de ‘terrorismo’ para incluir o comportamento de um governo em relação a seus cidadãos. Ao defender que terrorismo não é mais apenas uma questão de explosão ou bombardeio, o governo Trump conecta Cuba às FARC e aos governos da China, Irã, Rússia, Síria e Coreia do Norte”.

“Abrigo e impunidade”

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodriguez Parrilla, “denunciou” a esperada designação, sugerindo que seu objetivo era “agradar a minoria anticubana na Flórida”.

“Os EUA concedem abrigo e impunidade a grupos terroristas que atuam contra Cuba naquele território”, escreveu Rodriguez Parrilla no Twitter.

Desde que assumiu o cargo, Trump procurou reverter os esforços do governo Obama para encerrar as hostilidades da era da Guerra Fria com Cuba e ajudar a promover uma nova era de prosperidade e crescimento no país caribenho, após décadas de governo do socialista Fidel Castro.

O governo de Trump rotulou Cuba como parte da chamada “Troika da Tirania”, que incluía Venezuela e Nicarágua, e impôs sanções contundentes e outras restrições a esses três países em nome do combate ao socialismo no Hemisfério Ocidental.

Uma designação de terrorismo provavelmente agradaria aos cubano-americanos e outros eleitores que ajudaram na vitória de Trump na Flórida, embora ele tenha perdido a eleição.

Os críticos das políticas do governo Trump em relação a Cuba e Venezuela acreditam que as sanções e outras repressões só causaram mais sofrimento ao povo desses países, embora tenham um impacto limitado sobre os seus governos.

O presidente eleito Joe Biden disse durante sua campanha que, se eleito, “reverterá prontamente as políticas fracassadas de Trump que infligiram danos ao povo cubano e nada fizeram para o avanço da democracia e dos direitos humanos”

Patrick Oppmann, da CNN, contribuiu para esta reportagem.


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