Neste dia 14 de fevereiro, Salvador estaria fervendo e os foliões comemorando o domingo de Carnaval, não fosse a pandemia do novo coronavírus. Além da tristeza causada em boa parte dos soteropolitanos, a não realização da maior festa de rua do mundo acarreta prejuízos imensos para a economia da cidade. O turismo existe no verão deste ano, mas nada comparado aos 800 mil que visitaram a cidade apenas entre os dias de folia no ano passado. No entanto, o titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), Fábio Mota, está otimista com a vacinação e a retomada do setor no segundo semestre de 2021, não descartando ainda um Carnaval fora de época.
Quais os prejuízos para Salvador pela não realização do Carnaval?
Prejuízos inúmeros. Prejuízos financeiros, prejuízo de postos de trabalho que foram suprimidos em função de não ter o Carnaval. O Carnaval na cidade representa muito. Tem atividade que só trabalha no Carnaval, é a única renda o ano inteiro. Prejuízo para o comércio de uma maneira geral, porque você tem na cidade a circulação de muitos turistas, mas de 800 mil que visitaram o Carnaval do ano passado, que compraram abadás, fantasias, que consumiram toda a parte gastronômica e hospedagem também. É um prejuízo imenso para a cidade, estimado em R$ 1,8 bilhão. Até porque Salvador tem como a principal atividade o turismo e o serviço. Não temos grandes indústrias e outras atividades econômicas, e o Carnaval é a maior festa do mundo. É a mola-mestra de todo o turismo da cidade.
O Carnaval é, então, o maior atrativo turístico da cidade?
Sim, a porta de entrada é pelo evento Carnaval, e a partir daí você tem a divulgação da cidade, através dos canais de televisão do Carnaval de Salvador. E quando você vai falar em Salvador, você não fala só em Carnaval, você fala de toda a cultura, da gastronomia, do sincretismo. Então, as pessoas que conhecem Salvador através da festa acabam voltando e indicando para outras pessoas. Ela serve como o nosso maior instrumento de divulgação do destino Salvador e move a nossa economia durante todo o período.
Sem ele, quais são as estratégias para atrair os turistas para Salvador?
Nós montamos uma estratégia através de campanhas de divulgação e incentivo ao turismo local. Estamos fazendo peças publicitárias divulgando a nova cidade, toda reestruturada nos últimos oito anos, e isso tem surtido efeito. Na ocupação da hotelaria, por exemplo, mais de 20% das pessoas que estão visitando a cidade de Salvador estão vindo do interior do estado, de cidades do Nordeste vizinhas. A nossa estratégia é centrar na questão do turismo interno do Brasil, do Nordeste e da Bahia para que a gente possa minorar essa perda que é muito grande para a cidade.
O ex-prefeito ACM Neto falou na possibilidade de reabertura das praias aos domingos em janeiro, o que não aconteceu por causa do aumento do número de casos de Covid-19. Há alguma previsão de quando isso vai acontecer? Acha que o acesso restrito às praias pode comprometer o turismo?
Nós, na verdade, tínhamos uma expectativa de uma imunização mais rápida na população. Dentro desse cenário, chegamos a planejar inclusive um Carnaval fora de época. Ainda não desistimos do Carnaval, mas tudo está centrado na imunização das pessoas e nos números da pandemia. Então, infelizmente, este primeiro semestre não tem acontecido como planejamos, não tivemos a quantidade de vacina necessária para imunizar pessoas com uma velocidade maior e continuamos aguardando os números da pandemia. O prefeito está fazendo um esforço monstro para investir na saúde do município, abrir novos leitos. Temos os nossos protocolos que serviram de modelo para outros estados e municípios. As ações do trade turístico funcionaram bem. Temos inclusive um selo que fizemos em convênio com a ABNT que permite que ele seja um certificador. Onde tem esse selo, nos restaurantes, nos bares, nos museus, nos teatros e cinemas, a população sabe que, do ponto de vista de segurança, os requisitos exigidos estão sendo cumpridos. Esse selo tem dado segurança para que as pessoas também venham visitar a cidade, mas evidentemente que, com todos esses cuidados, nós ainda estamos monitorando a pandemia, que vai nortear nos próximos passos. Temos uma expectativa muito grande em relação ao segundo semestre, entendemos que nele teremos uma retomada muito forte de todos os setores do turismo da cidade e estamos nos preparando para esse retorno.
Quando será possível ter Carnaval e outras festas populares?
A ocorrência do Carnaval fora de época está muito vinculada ainda à questão da imunização e do quadro de coronavírus que vamos ter na cidade. Da mesma forma, a liberação para eventos. Estamos discutindo a questão do protocolo seguro, nós temos um Centro de Convenções na cidade que tem um quadro de eventos programados para todo o ano. Nós estamos discutindo os protocolos seguros, fizemos no ano passado um evento-teste que foi um sucesso. A ideia é que esse evento-teste possa se replicar nos próximos dias, quando a gente tiver um nível de imunização maior, para que a gente possa começar flexibilizações. Evidentemente, conversar com o governo do estado, até porque temos hoje um decreto estadual que estabelece a quantidade de 200 pessoas para eventos. Além de analisar como vai se comportar no primeiro semestre a questão do coronavírus para pensar no Carnaval fora de época.
Os médicos afirmam que, mesmo com a vacinação, o uso de máscaras ainda será necessário por dois anos. Na perspectiva da prefeitura, é possível fazer grandes festas nesse formato?
Dentro do cumprimento dos protocolos, sim. Nós temos que continuar preservando o distanciamento social, usando a máscara, o álcool em gel, medindo a temperatura... Nós temos um protocolo pronto para os eventos seguros da cidade, estamos discutindo isso internamente. Eu acho que essa discussão foge até um pouco do município, tem que ter o Estado junto, mas, a depender dos níveis de contaminação e a depender do nível de imunização das pessoas, entendemos que dá para pensar nos eventos.
É porque quando falamos em Carnaval e usar máscara é um pouco difícil de imaginar.
É o novo modelo, o novo normal. Nós nunca imaginaríamos colocar uma máscara para ir ao shopping ou ir para a praia. Vamos ter que conviver com isso por muito tempo e vamos ter que nos adaptar, porque somos produtos do meio. O meio está exigindo, neste momento, restrições e ações dentro dessa linha.
Vocês pensam em rotas turísticas alternativas, como turismo religioso, por exemplo, atividades que não promovam aglomerações?
Sim, nós tivemos aqui, desde quando eu assumi, diversas discussões de turismo religioso, envolvemos inclusive a diretoria da Osid [Obras Sociais Irmã Dulce], também a igreja católica, com o seu setor específico para tratar desse assunto. Na verdade, o roteiro de turismo religioso já existe. Nós temos o Caminho da Fé, que começa na Conceição e vai até o Mosteiro do Subúrbio. O que a gente precisa agora é estruturar esse Caminho da Fé, com sinalização, com curso de capacitação, com compras de equipamentos, e isso a gente está disponível para fazer nessa discussão aqui, através do nosso Prodetur Municipal. Botar campanhas publicitárias também e de promoção do turismo religioso da cidade de Salvador. Nós somos o único estado do Brasil que tem uma santa e um potencial muito grande. Montamos esse grupo de trabalho há cerca de 30 dias e estamos estruturando o projeto para que a gente possa, sim, ser um dos destinos mais importantes do turismo religioso do Brasil, até porque temos produtos únicos que nenhuma outra parte do Brasil tem em relação ao turismo religioso, a quantidade de igrejas, a própria Irmã Dulce e tantos outros atributos.
Salvador foi escolhida como primeiro destino turístico por quem pretende viajar após o isolamento social. A que o senhor atribui isso?
À requalificação que a cidade passou nos últimos oito anos. Salvador foi modelo de gestão nos últimos oito anos e continua sendo o modelo. Nós tivemos aqui a reestruturação do destino Salvador do ponto de vista turístico, criação de várias ações que permitiram isso, como, por exemplo, a Casa do Carnaval, a Casa de Jorge Amado, nossos museus, a requalificação do Pelourinho, as praias da orla, que foi completamente transformada. A cidade de Salvador hoje continua sendo o maior atrativo do Brasil para ser visitada após a pandemia. Precisamos nos preparar, e é isso que tenho dito nas reuniões do Conselho de Turismo, porque temos uma demanda reprimida muito grande. A nossa maior responsabilidade é manter a cidade como a cidade desejada.
Quanto se perdeu sem o turismo no ano de 2020?
Nós recebemos em 2019 nove milhões de turistas na cidade. No entanto, em 2020, durante a pandemia, recebemos 4,5 milhões, então perdemos 50% de tudo. A ocupação de hotel está em torno de 50%. A proibição dos cruzeiros impactou a cidade diretamente, não só pelos 150 mil turistas, mas o que isso representa do ponto de vista econômico. O turista que vem de cruzeiro gasta mais do que os outros turistas. Nós ficamos um ano inteiro sem receber um único turista de cruzeiro em Salvador por causa da pandemia. Então, as perdas são incalculáveis.
E quais as perspectivas para a realização do Carnaval 2022? O senhor falou em demanda reprimida, esse pode ser o maior Carnaval de todos?
Antes de 2022, a gente tem que concluir 2021. Ainda não abandonamos a história de buscar o Carnaval fora de época neste ano. Tudo vai depender muito da questão da vacina e da imunização da população. Evidentemente que estamos planejando 2022, mas com olho ainda em 2021. A demanda do turismo e das viagens, em qualquer pesquisa nacional, mostra que está muito grande e reprimida, por não termos quase turismo esse ano. Da mesma forma o Carnaval. A demanda será muito grande. Vamos precisar de uma estrutura maior, em função de não ter tido Carnaval em 2021, até agora. Se realmente não acontecer, em 2022 a expectativa é que a gente tenha um grande Carnaval, maior ainda que o último que, a meu ver, já foi o maior Carnaval da história de Salvador.
Mas quando pode ser esse Carnaval 2021? É viável fazer um Carnaval no fim do ano, por exemplo?
Não dá para fazer um Carnaval muito próximo do outro. Se tiver que ter Carnaval fora de época tem que ser no máximo em setembro ou outubro. Até lá, vamos analisar os índices, a imunização das pessoas, como é que está a pandemia para que a gente possa planejar.
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