Depois de um ano difícil de pandemia, um misto (ainda maior) de sensações toma conta de micro e pequenos empresários neste início de 2021. Em meio à retomada gradual das atividades e dúvidas quanto ao calendário de imunização, sobra otimismo entre a maioria, mas mais ainda incertezas.
Quanto ao fim da crise sanitária; sobre como levantar capital de giro – o aumento dos custos, as despesas. Estas são só algumas das hesitações coletadas por levantamentos realizados pelo Sebrae e a Deloitte, esta última, uma empresa global de consultoria, sobre as “perspectivas para micro e pequenos negócios em 2021”.
No âmbito da 4ª edição da pesquisa intitulada “Impacto dos Efeitos da Covid-19 nos Pequenos Negócios Baianos”, o Sebrae ouviu 580 empreendedores do estado e apurou que, para 65% dos entrevistados, os principais desafios a serem enfrentados este ano são a redução drástica de receita versus as muitas contas a pagar.
Mais “confiante”, o estudo da Deloitte, com 365 líderes de empresas nacionais – faturamento anual de até R$ 100 milhões –, aponta que quatro em cada dez acreditam que a recuperação econômica do país aos níveis pré-pandemia se dará até o final deste ano, bem como a retomada dos empregos.
Para a gerente adjunta da unidade de gestão estratégica do Sebrae Bahia, Isabel Ribeiro, seja o que for, o jeito é trabalhar e “tecer o dia a dia da sobrevivência”.
“Tem gente que chora, se apega à religião, reclama do prefeito. Mas a pandemia também trouxe aprendizado, lições. Há muitas incógnitas, e esperança”, fala.
Processo de reabertura
“O processo de vacinação está aí, estima-se que até o final do ano seja concluído. Enquanto isso há o processo de reabertura, mesmo que lento. O empreendedor a essa altura já sabe que o digital veio para ficar, agora é controlar melhor o caixa, tentar formar uma reserva. Só não pode se deixar abalar”, diz.
“Precisa coragem, criatividade e persistência”, frisa Isabel. Tudo o que parece sobrar em três empreendedores ouvidos por A TARDE.
Ex-empresário da noite, Nenel Rebouças, 36 anos, há pouco mais de dois resolveu, juntamente com outros sócios, mudar completamente de ramo e investir no chamado entretenimento “diurno”. Depois de vencer uma licitação, passou a gerir os dois espaços (culturais) existentes nos fortes São Diogo e Santa Maria, ambos na Barra, e neles inaugurou – entre o final de 2018 e início de 2019 – bistrô, café, bar, restaurante.
Dona do Nozu, restaurante japonês com foco no delivery aberto em 2015, no bairro Rio Vermelho, a administradora Maria Carvalho, 32, resolveu, em dezembro passado, otimizar a cozinha do lugar dando início à operação de uma sanduicheria especializada em frutos do mar (Mr. Blue), a primeira do tipo em Salvador.
Quem também apostou em expandir o negócio em plena pandemia foi a empreendedora e ativista da causa antirracista Soraia Coelho, idealizadora do salão Atelier dos Cachos. Inaugurado em 2014, a proposta de Soraia é a valorização de cabelos crespos e cacheados e “zero” química, alisamento ou coisa que o valha.
Com duas unidades – uma no Campo Grande e outra em Itapuã –, Soraia inaugurou mais uma, em dezembro, dessa vez no Shopping da Gente, localizado na avenida Antônio Carlos Magalhães, na capital baiana.
Pois bem, todos os negócios iam de vento em popa até que vieram a pandemia, o isolamento social e as dificuldades. Nenel recorreu a outros “business”; Maria aproveitou para aprimorar os processos no Nozu, enquanto criava o Mr. Blue; e Soraia focou na venda com entrega em casa de produtos e cosméticos sem adição de derivados de petróleo, ou óleos minerais – os mesmos que ela já comercializava no estúdio de beleza.
“Em 2021 eu só não pretendo contratar um novo empréstimo [ano passado ela lançou mão do Pronampe – Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte], a não ser que a situação se agrave. Mas eu pretendo ainda este ano abrir outro salão em Salvador, e, em 2222, no interior [do estado]”, diz Soraia.
Nenel se diz esperançoso na vacina contra o coronavírus. “Ainda está sendo uma maratona. Foram oito meses fechado sem poder trabalhar, com contas para pagar. A reabertura ainda está sendo bastante difícil, a redução no número de mesas, os protocolos. Mas a prefeitura [municipal] tem ajudado como pode, nos visitado, dado suporte”, conta.
“Não está fácil para ninguém, para a população como um todo. O tempo é outro, temos de dar valor a cada cliente, sorrir, é o que tenho dito para a equipe”, fala.
“Este ano realmente será um desafio. E ainda maior do que o que passou”, afirma Maria Carvalho.
A Tarde
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